Lei municipal que homenageia o estilista e apresentador Clodovil não é respeitada em Ubatuba

Lei Municipal aprovada em 2021 obriga prefeitura, através da Fundação cultural, a promover eventos culturais nesta terça, dia 17, em homenagem ao estilista e apresentador falecido em 2009 

 

Por Salim Burihan

 

Nesta terça-feira, dia 17 de junho, é oficialmente celebrado em Ubatuba, o “Dia de Clodovil Hernandes”, conforme  a Lei Municipal Nº 4448, aprovada em 7 de dezembro 2021. A lei de autoria do então vereador Osmar de Souza, foi sancionada pela prefeita Flávia Paschoal.  Se vivo fosse, Clodovil estaria completando nesta terça-feira, 88 anos de idade.   

 

A lei institui a data para homenagear o estilista e apresentador, que tinha uma forte ligação com a cidade, e para promover a cultura e as artes locais. A data, 17 de junho, foi escolhida para coincidir com o aniversário do artista. Além da data, um espaço no teatro municipal também leva o nome de Clodovil Hernandes.  

 

 

Conforme determina a lei, todo dia 17 de junho, a Fundação de Arte e Cultura deveria realizar o Dia Oficial de Amostras Artísticas e Exposições Culturais, denominado de “O Dias de Clodovil Hernandes”, em homenagem ao estilista e apresentador.   

 

A lei determina como objetivos do Dia Oficial de Amostras artísticas e Exposições Culturais Clodovil Hernandes: a) A comemoração do Aniversário em 17 de Junho do Estilista, Ator, Apresentador, Cantor e Deputado Federa l Clodovil Hernandes; b) Promover a exposição de diversos objetos pessoais que pertenceu ao mesmo e que hoje incorpora o Patrimônio Público Cultural do Município; e, c) Fomentar a Cultura através de realização de exposições de Amostras culturais, elaboradas por artistas locais como, curta metragens, danças, músicas, poemas; artes plásticas, pinturas, artesanatos, corte e costura, entre outros.

 

A lei permite à Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba (FUNDART), premiar um artista de cada categoria, que tiver melhor desempenho na exposição, cujo critério para escolha deverá ser elaborado por edital e previamente à exposição deverá os artistas interessados realizar suas habilitações para a participação do processo de escolha. Tudo isso, no entanto, permanece apenas no papel. Não está programada pela Fundart, pelo menos em sua pagina oficial,  nenhuma homenagem ao estilista e apresentador nesta terça-feira, dia 17 de junho de 2025, como determina a lei municipal. 

 

Na programação da Fundart consta nesta quarta-feira, dia 18, a apresentação do grupo instrumental Ybytu iniciará,  em unidades escolares da rede pública de Ubatuba. O projeto, viabilizado com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), por meio da Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba – Fundart, contemplará as regiões Sul, Norte e Oeste da cidade, com apresentações musicais voltadas a estudantes do ensino fundamental.

 

Uma das homenagens feitas pela prefeitura ao estilista  apresentador ocorreu em outubro de 2013, antes da aprovação da lei “Clodovil” em 2021. Na ocasião, a Secretaria de Turismo de Ubatuba, sediou a exposição “Lembranças de Clodovil”, produzida por João Toledo, um dos grandes amigos  do estilista m Ubatuba, contendo acervo de móveis, objetos, roupas, criações, pinturas e fotografias originais do apresentador. 

 

Em dezembro de 2023, Luiz Bischof, então presidente da Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba (Fundart), retomou a abertura do Espaço Clodovil Hernandes, no Teatro Municipal Pedro Paulo Teixeira Pinto, com exposição de objetos que pertenceram ao renomado estilista. O espaço já existia no teatro, mas há alguns anos estava desativado. 

 

O publicitário e jornalista João Toledo(Foto), de 64 anos, ex-assessor e amigo do estilista e apresentador, contou em 2023, que vinha cobrando da Câmara e da Prefeitura o respeito à lei que criou o Dia de Clodovil Hernandes. “É preciso respeitar a lei e, principalmente, tudo aquilo que Clodovil fez por Ubatuba. A cidade tem uma dívida com ele. Clodovil divulgou muito a cidade em todos os programas de televisão que apresentou”, afirmou, na ocasião, João Toledo. 

 

 

 

João Toledo lamenta a situação da casa onde morava Clodovil, hoje, praticamente, em ruinas. O local poderia ter sido transformado em um museu, mas segundo ele, não houve interesse dos políticos locais . “O povo ubatubense adorava o apresentador, mas a classe política tinha um pouco de receio dele. Ele tinha programa de TV e depois foi deputado. Os políticos de Ubatuba tinham medo disso”, comentou Toledo.

 

 

Empresário do setor hoteleiro, Bischof, defende, inclusive, a instalação de uma estátua em Ubatuba homenageando o estilista e apresentador. “Clodovil residiu por muitos anos em Ubatuba, sempre externou um grande carinho pelo município e foi um dos maiores divulgadores das belezas naturais de nossa cidade. Gravou vários de seus programas no município”, comentou Bischof. 

 

Bischof tem razão. Até hoje, centenas de turistas visitam o que restou da antiga casa do estilista apresentador na praia do Léo. A antiga mansão foi destaque em programas de televisão de renomados apresentadores, entre eles, Gugu Liberato, já falecido e  Luiz Bacci.  

 

Clodovil 

 

 

Clodovil Hernandes nasceu em 17 de junho de 1937 e faleceu em Brasília em consequência de um acidente vascular cerebral, no dia 17 de março de 2009, aos 71 anos de idade. Em vida, foi um dos maiores divulgadores das belezas de Ubatuba onde por cerca de três décadas manteve uma mansão instalada em uma área de 4.375,13 metros quadrados entre as praias do Léo e do Meio, lugar conhecido como Sertãozinho, na costa norte da cidade, às margens da rodovia Rio-Santos, em direção até Paraty. 

 

A mansão(foto) com nove suítes, 12 banheiro, um deles em meio a mata atlântica, sala com vista para o mar, capela, piscina  e belos jardins era o refúgio preferido  do estilista e apresentador. Clodovil enfrentou muitos problemas com a obra na justiça, por desrespeitar leis ambientais. Parte do imóvel foi construído em área de mata atlântica , ou seja, de maneira irregular. O Ministério Público cobrou a demolição do que foi construído irregular. A Justiça chegou a determinar a demolição parcial do imóvel, atingindo o canil, um salão de festas e um dos quartos. 

 

 

Após a morte do estilista, um grupo de amigos tentou convencer o IPHAN(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) a tombar o imóvel pelo ser considerado um patrimônio histórico, artístico e cultural de Ubatuba, mas a proposta não avançou.   

 

 

Devido às dívidas deixadas  pelo estilista a mansão foi colocada em leilão em 2017, mas apenas em 2018, atraiu o interesse de uma empresária de Campinas(SP), que arrematou o imóvel por R$ 750 mil. Quando soube dos problemas ambientais envolvendo o Ministério Público, a empresária tentou anular o leilão. Até recentemente, a mansão, instalada no alto do Morro do Léo, permanecia abandonada.

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