Justiça Federal libera acesso dos caiçaras pelas áreas do Condomínio Laranjeiras, em Paraty

 

Uma decisão da juíza federal Mônica Maria Cintra Leone Cravo, da 1ª Vara Federal de Angra dos Reis, de terça-feira, dia 27, reconhece o direito dos moradores caiçaras das comunidades da praia do Sono,  Laranjeiras e Ponta Negra, em Paraty, na costa sul-fluminense, que integra a Unidade de Conservação federal  Cairuçu e Reserva da Juatinga, de livre acesso dentro das áreas do Condomínio Laranjeiras. 

A decisão é resultado de uma ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal(MPF) contra o município de Paraty, o Instituto Estadual do Meio Ambiente((INEA), o Instituto Chico Mendes(ICMBio), o Condomínio Laranjeiras e a União,  com requerimento de tutela de urgência, objetivando compelir os réus a concretizarem o direito fundamental de acessibilidade e locomoção às populações tradicionais caiçaras das localidades do Sono, Laranjeiras e Ponta Negra por dentro do Condomínio Laranjeiras, bem como, a utilização do cais existente no local. 

Com a decisão, o Condomínio Laranjeiras fica proibido de impedir, dificultar, embaraçar, edificar ou de realizar qualquer outra ação tendente a restringir ou impedir o livre e franco acesso às populações tradicionais caiçaras das localidades do Sono, Laranjeiras e Ponta Negra. 

A decisão da juíza Mônica Maria Cintra Leone Cravo também obriga a prefeitura de Paraty a fazer a retirada de resíduos sólidos nas praias do Sono e Ponta Negra, no mínimo semanal, em especial nos finais de semana, feriados e eventos, quando então o lixo deve ser retirado imediatamente (no mínimo duas vezes por semana), por estarem inseridos na APA Cairuçu (unidade de conservação federal de uso sustentável) e da Reserva da Juatinga (unidade de conservação estadual de proteção integral).

Condomínio 

O Condomínio Laranjeiras é considerado um dos mais sofisticados do litoral brasileiro. Ocupa uma área deslumbrante da Mata Atlântica no litoral sul-fluminense, com praias privativas, áreas de lazer, como campo de golfe, helipontos, marina e  segurança máxima pois reúne entre seus 200 condôminos, empresários, desportistas e políticos renomados.

Segundo consta, o condomínio foi iniciado na década de 70 em uma área de 1.131 hectares com terrenos de 1 mil a 2 mil metros quadrados. O valor dos imóveis gira em torno de US$ 5 milhões a US$ 20 milhões.

Desde quando foi implantado, o condomínio procura restringir o acesso das famílias caiçaras que residem nas praias vizinhas e dos turistas que visitam as praias do  Sono e Ponta Negra, entre outras. Teve uma época em que o condomínio fez um acordo liberando uma trilha através das encostas, mas que inviabilizava o acesso de idosos ou pessoas com problemas de saúde ou locomoção.  O cais existente no condomínio agiliza o transporte dos moradores e de alimentos às praias do Sono  e Ponta Negra.

Uma reportagem da Agência Pública de 2017 mostrou que os moradores dessas duas praias, para irem a Paraty, precisavam circular no interior do condomínio. Sempre monitorados. Eram obrigados a deixar seus barcos em uma marina diminuta e, de lá, não podem optar pelo antigo caminho que os levava para a Vila Oratório, de onde costumam pegar uma condução até Paraty, a 25 quilômetros. A circulação a pé pelas vias internas do condomínio era proibida.

 

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