Turismo de observação de baleias cresce no litoral norte paulista, mas aproximação das embarcações deve ser feita respeitando-se as regras; região nunca registrou um incidente(colisão) entre baleia e um barco. Foto Capa: Barcos próximo a baleia/Reprodução redes sociais
Por Salim Burihan
O Turismo de Observação de Baleias e Golfinhos, mais conhecido internacionalmente como “whale watching”, cresceu assustadoramente no Litoral Norte Paulista, principalmente, em Ilhabela e São Sebastião. O turismo de observação de baleias se estende até o mês de setembro quando esses animais cruzam a região em direção ao sul da Bahia para se reproduzirem. Em 2024, mais de 600 baleias foram avistadas na região.
A temporada 2025 promete ser das melhores. Desde o início da temporada de 2025, já foram registradas 159 baleias apenas em São Sebastião. Para comparação, até o dia 4 de junho de 2024, haviam sido avistadas apenas 63 jubartes — o que indica que a temporada deste ano começou com mais força, de acordo com dados do Projeto Baleia à Vista. Somente nos primeiros dias de junho, são avistadas entre 14 e 16 baleias por dia.
Aqui, no Litoral Norte, mais especificamente, em Ilhabela, tudo começou com o Projeto Baleia à Vista, através do Júlio Cardoso e seus colegas, que após iniciarem o registro e catalogarem a passagem de baleias e golfinhos, estimularam as prefeituras a transformarem a passagem ou presença desses animais em atração turística.
As prefeituras acreditaram e investiram no projeto, que hoje, é uma realidade na região, gerando receitas para a rede hoteleira e o comércio de uma maneira geral e também para a comunidade de pescadores, que utilizam seus barcos para os passeios turísticos de observação de baleias e golfinhos.
Um ponto importante a lembrar é que o turismo de avistamento de baleias se desenvolveu e é muito importante no mundo como alternativa a caça. “No passado, se matava a baleia para obter algumas toneladas de gordura/óleo e carne e, hoje, uma baleia vista gera muito mais valor (com o turismo) do que uma baleia morta”, destaca Júlio Cardoso.
No mundo, atualmente, esta modalidade de turismo é praticada em mais de 100 países e territórios, gerando receitas para as comunidades costeiras que excedem os dois bilhões de dólares segundo os estudos mais recentes.
As agências de turismo e os pescadores são orientados de como procederem nos avistamentos. Existem regras que garantem a proteção das baleias e dos turistas. A observação de baleias se praticada de forma sustentável, seguindo as normas e regras legais, não impacta as populações das baleias.
Aqui, no Litoral Norte, aumenta a cada dia a presença de turistas em busca de um contato direto com a presença das baleias. Trata-se de uma experiência inesquecível. Não dá para descrever a emoção que é ver uma baleia de perto ou dando seus saltos a distância. É maravilhoso e inesquecível. Por isso, essa modalidade de turismo tende a crescer cada vez mais na região.
“É uma nova e importante atividade econômica na região, durante a baixa temporada, já tem criado muitos novos empregos e movimenta a economia da região durante o inverno”, destaca Júlio Cardoso, do projeto Baleia à Vista de Ilhabela.
Segundo ele, o instituto tem procurado prestar assessoria às prefeituras, agências de turismo e comunidades de pescadores visando ao mesmo tempo monitorar a atividade, ajudar na interpretação ambiental para os visitantes e desenvolver atividades de pesquisa.
Para melhorar ainda mais, a população de jubartes, que chegou a ser de aproximadamente mil indivíduos em 1988, hoje, estaria em torno de 30 mil baleias, segundo estimativa do Projeto Baleia Jubarte (PBJ), recuperação que se deu, principalmente, por causa da proibição da caça comercial.
“As jubartes, hoje, não são mais uma espécie em risco. Esse crescimento da população está fazendo com que muitas baleias reocupem aqui a nossa região onde já viviam há muitos séculos atrás. Só que agora, estão reocupando uma área muito explorada por nós, seres humanos: com dezenas de milhares de embarcações, porto, terminal petrolífero, balsas e etc.”, explica Júlio Cardoso.
A bióloga e pesquisadora da Universidade Federal do Paraná(UFPR), Camila Domit, reforça o alerta feito por Júlio Cardoso. Segundo ela, apesar da retomada, com o fim da caça comercial, a espécie segue correndo riscos, o que reforça a necessidade de ações de educação ambiental.
Em recente entrevista, Camila Domit, destacou que a aproximação das baleias com a zona costeira traz um grande desafio que é a sobreposição das áreas de uso desses animais com as áreas que hoje são ocupadas por atividades humanas, como a exploração de minério(petróleo e gás) , as atividades portuárias de grandes navegações e atividades pesqueiras. “Precisamos, então, educar, para que as pessoas saibam como respeitar e conviver com as baleias”, diz Camila.
Normas e regras
No início da temporada de avistamento de baleias no Litoral Norte Paulista, uma imagem nas redes sociais chamou a atenção dos pesquisadores: uma baleia, que estava no canal entre São Sebastião e Ilhabela, era “acompanhada” por mais de 15 embarcações, entre lanchas e motos aquáticas.
Segundo Júlio Cardoso, hoje, o Ibama, a Marinha, as prefeituras através, da Defesa Civil, assim como, a Polícia Ambiental Estadual, estão fazendo um trabalho de orientação, conscientização e fiscalização, inclusive, na costa de Ilhabela e São Sebastião.
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“Existem as normas de avistamento que valem para todos e as prefeituras tem feito, também, campanhas nas marinas e oficinas de treinamento com os operadores turísticos. A realidade é que as jubartes estão vindo em número cada vez maior e estão voltando aqui! São fieis a nossa região e isso e’ ótimo”, comentou Cardoso.
Segundo ele, os barcos, mesmo sendo muitos, se seguirem as normas e, o bom senso, as coisas funcionam. Claro que há exageros, quando elas entram no canal e há muitos curiosos que não conhecem as regras e normas e acabam cometendo erros.
O fato é que temos hoje na nossa região uma área que não é mais só de passagem, mas também, uma área onde ocorre o nascimento dos filhotes, a reprodução e onde as baleias juvenis tem permanecido mais tempo antes de seguirem para a Bahia.
Cardoso explica que para explorar o turismo de avistamento de baleias não basta encher um barco e sair por ai atrás das baleias. “É’ algo que começa em terra, com uma palestra para os turistas sobre as baleias e os passeios são feitos com guias (biólogos ou especialistas experientes) e são uma experiência maior, uma expedição de busca que exige muita paciência e tempo de navegação”, disse.

“Avistar uma baleia no seu meio natural e fazendo suas acrobacias aéreas é algo que causa grandes emoções e encanta as pessoas! Vale destacar, que o público que vem fazer este turismo é muito especial, são fieis a quem lhes proporciona uma boa experiência. Tem pessoas que repetem esse passeio várias vezes e todos os anos”, finaliza Cardoso.
Na última quarta-feira (4/6), a Prefeitura de São Sebastião, por meio da Secretaria de Turismo (Setur) e a Marinha do Brasil, em parceria com o Projeto Baleia Jubarte e o Projeto Baleia à Vista, realizaram a Oficina de Boas Práticas para Observação de Baleias Jubarte e Outros Cetáceos.
A atividade ocorreu gratuitamente no espaço Parador Maresias, reunindo cerca de 150 pessoas representantes de agências, operadores de turismo e marinas que atuam no segmento náutico da região, com o objetivo de capacitar esses profissionais para que promovam esse produto turístico de forma responsável.
Durante a oficina, foram abordados temas fundamentais para a preservação e o turismo responsável com cetáceos, como procedimentos adequados durante os avistamentos, instruções sobre como agir ao avistar uma baleia e as normas de avistagem previstas na Lei Federal nº 7.643/1987 e nas Portarias do Ibama nº 117/1996 e nº 24/2002.
“Para nós, que trabalhamos no mar com turismo, foi muito importante essa oficina. Passa mais segurança pra gente, dá mais confiança no que estamos fazendo. Quero parabenizar a prefeitura pela iniciativa, o turismo local só tem a ganhar com ações como essa. Agora sabemos como agir corretamente ao avistar baleias, e estamos dispostos a colaborar sempre com a proteção desses animais, com responsabilidade e respeito.”, afirmou o Presidente da Associação dos Pescadores de Boiçucanga, Ademil Flávio de Matos.
“Tivemos um grande público presente no evento, que contou com apresentações importantes sobre as baleias-jubarte em geral e, em especial, sobre as que nos visitam. Sem dúvida, todos os participantes saíram desta oficina com informações valiosas sobre esses animais, sobre as regras e a forma adequada de avistá-las. É importante que a evolução dessa atividade aconteça de maneira consciente, com todos conhecendo e praticando as boas condutas, para que esse importante segmento do turismo se desenvolva de forma positiva e sustentável.”, ressaltou Júlio Cardoso, do Projeto Baleia à Vista.
Confira algumas normas para um avistamento seguro: A proximidade com as baleias deve ser lateral e não bloqueando o caminho delas. Existe um limite de embarcações que podem estar próximas (no máximo 2 a 100 metros, com as demais a 300 metros). Use coletes salva-vidas durante os passeios de barco. Verifique a previsão do tempo antes de embarcar. É proibido mergulho ou natação próximos aos animais. É proibido lançar alimentos ou lixo no mar. Em observação da terra: Mantenha distância segura dos costões e use binóculos para uma observação mais segura e respeitosa. Confira a sinalização: