Projeto “Manguezal Terra do Guaiamum” completou 12 anos na praia da Caçandoca em Ubatuba

“Andada dos guaiamuns” atraiu muitos turistas que foram ver de perto os caranguejos deixando o mangue em direção ao mar para desova . Fotos: Thadeu Fischer.

 

O projeto Manguezal Terra do Guaiamum, que protege os caranguejos guaiamum no mangue da praia da da Caçandoca, em Ubatuba, no Litoral Norte Paulista, comemorou 12 anos no domingo passado, dia 7. É um dos projetos pioneiros na região na proteção dos caranguejos guaiamuns.

O aniversário dos 12 anos do projeto promovido pelo grupo “Terra do Guaiamum” aconteceu durante a “Andada dos Guaiamuns”, no manguezal que fica no canto direito da Praia da Caçandoca, na região sul de Ubatuba, em Ubatuba.

A “Andada dos guaiamuns” ocorre no mês de Abril, durante a lua nova, quando as fêmeas dos caranguejos saem do mangue e “andam” pela praia em direção ao mar para desovarem. O caranguejo terrestre Cardisoma guanhumi, é conhecido popularmente como guaiamum, pode ser encontrado entre o litoral sul do Brasil e a Flórida (EUA). 

Fêmea desovando na praia da Caçandoca. Foto: Thadeu Fischer.

A espécie varia em cor de azul escuro a marrom ou cinza e pode crescer até 15 centímetros na largura da carapaça e pesar mais de 500 gramas. Suas pinças desiguais, no caso dos machos, podem chegar a medir trinta centímetros. Atingem a maturidade sexual aos quatro anos e seu ciclo reprodutivo depende do verão e das fases da lua. A fecundação é interna e poligênica. Ou seja, vários machos para uma fêmea.

O guaiamu sai da toca a noite para se alimentar. Comem frutos, folhas e animais em decomposição. Desde 30 de maio de 2018, a portaria 161 do Ibama proíbe a captura de guaiamu. No Brasil, a desova se dá entre os meses de fevereiro e maio. Durante a estação reprodutiva, esses caranguejos lançam milhares de larvas na água durante a maré cheia da lua nova.    

Caçandoca

O evento “Andada dos guaiamuns” foi organizado pelo Projeto Terra dos Guaiamuns e Associação do Quilombo da Caçandoca, com parceria do Instituto Argonauta, Grupo Tamoio de Ubatuba, Coco e Cia, APA Marinha do LN, Projeto Monitoramento Mirim Costeiro – MMC, Rede Litoral norte de Manguezais, Caiçara Nativo e Thadeu Fischer.

Em fevereiro deste ano, várias entidades colaboraram na limpeza do mangue da Caçandoca, e também, da praia, preparando os dois locais para a primeira “andada dos guaiamuns” de 2024.

Durante três dias foram realizadas várias atividades na Caçandoca, entre elas, palestras, exposições e educação ambiental, com moradores e turistas, sobre a conservação e cuidados com os caranguejos Guaiamuns, e manguezais.

A “Andada dos guaiamuns” acabou se transformando numa atração turística/ambiental, centenas de turistas estiveram na praia no fim de semana passado para ver de perto a “andada dos guaiamuns”. 

Marlene Giraud, nascida na Caçandoca e uma das idealizadoras do projeto “Terra do Guaiamum”, contou que o projeto foi criado inicialmente para conscientizar os moradores, principalmente, as crianças quilombolas, sobre a necessidade de preservação do manguezal e dos guaiamuns. Além da preservação do mangue e dos guaiamuns, também se trabalha questões como a destinação do lixo e do turismo predatório. 

“É um dos poucos programas ambientais voluntários e sem recursos públicos ou privados que prioriza a preservação de mangue e dos guaiamuns no Litoral Norte Paulista. Nossos mangues foram muito degradados no passado. Os mangues são berçários dos oceanos”, lembra Marlene. 

Com relação ao mangue da Caçandoca, os moradores e quilombolas se envolvem na preservação do manguezal e dos guaiamuns. O objetivo do projeto nunca foi transformar a “andada” numa atração turística, mas devido às redes sociais, cresce cada vez mais a presença de visitantes nos períodos das andadas. 

“Às vezes, moradores e comerciantes dos quiosques reclamam que os caranguejos invadem quintais e varanda dos quiosques durante o período da desova, mas a gente esclarece que na verdade as casas e os quiosques é que ocupam áreas dos guaiamuns”, conta Marlene.

Segundo ela, o guaiamum apesar de ameaçado de extinção é muito resistente. Na Caçandoca, o guaiamum ocupa a parte mais alta do mangue. Os participantes do projeto aproveitam a andada e a desova para observarem o comportamento dos guaiamuns na lua nova e lua cheia. 

“Na desova, que ocorre de março até junho, os guaiamuns deixam o mangue cruzam as áreas de estacionamento e da praia para chegarem até o mar onde desovam. Na Caçandoca, não existe venda e nem consumo de caranguejo. Eles são totalmente preservados”, destaca Marlene.      

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