Mostra estreia dia 14 no Memorial da PR/RJ, no centro da capital fluminense, e contará com projeto paisagístico do Sítio Roberto Burle Marx
Em uma semana, no Rio de Janeiro, qualquer pessoa interessada poderá conhecer um pouco sobre um quilombo com marcada história de luta e resistência e vasta cultura transmitida oralmente. Localizado em Mangaratiba (RJ), no sul fluminense, o Quilombo da Marambaia será objeto de exposição aberta à visitação a partir de 14 de agosto, na sede da Procuradoria da República no Rio de Janeiro (PR/RJ), localizada no centro da capital do estado. Intitulada “Quilombo da Marambaia: do ‘ficar bom’ ao ‘ficar bem’”, a mostra estará aberta ao público até fevereiro de 2025, e contará com um projeto paisagístico assinado pelo Sítio Roberto Burle Marx. Fotos, pinturas e instalações mostrarão, além da cultura do quilombo, o processo de silenciamento que este e outros povos originários sofreram e ainda sofrem no país.
“A história oficial fala de um Brasil alegre, um país do futebol e do samba. Ocorre que a história do Brasil é formada por violências múltiplas, silenciadas ao longo dos anos. Assim como existe uma narrativa de apagamento da relevante participação dos povos africanos escravizados para a construção dos muitos ‘brasis’, seja na nossa língua, seja na culinária, seja nas artes e suas múltiplas manifestações. A partir da história do Quilombo da Marambaia, fazemos reflexões e abordamos todos esses temas. A figura da ‘griô’ nos guia para apresentarmos a oralidade como meio de transmissão de conhecimento, de história, de cultura”, explica a procuradora da República Fabiana Schneider, umas das curadoras da exposição. Juntam-se a ela, na curadoria, Emanuel M.M. de Castro, além da griô do Quilombo da Marambaia, dona Vania Guerra, e outra mulher quilombola – Jaqueline Alves – garantindo, assim, a representatividade de um povo para contar sua própria história.
A parceria com o Sítio Roberto Burle Marx complementa a riqueza e a diversidade da exposição, dialogando com a curadoria. “A instalação do Burle Marx estará bem ‘no clima’ do que estamos apresentando, porque estamos falando da ilha da Marambaia, um lugar paradisíaco, de muito verde, muita luz. Precisávamos de um elemento vivo, o verde, para trazer um pouco do espírito do local, ao mesmo tempo que oferecemos ao público uma imersão com estímulo sensorial”, explicou a procuradora. Os detalhes desse projeto e das demais peças expostas, ela alerta, só poderão ser conferidos a partir da inauguração da exposição. “Não podemos dar muitos detalhes, para não revelar ainda tudo o que vamos apresentar. Mas convido o público, desde já, a viver essa experiência”, disse Fabiana.
Atuação do MPF – E eis que essa história e a do MPF se cruzam – e essa intersecção se dá na atuação do ex-procurador regional da República Daniel Sarmento, que participará da inauguração da exposição. “Ele conduziu o caso por mais de dez anos. Ficou muito marcado, porque ele falava que quando conseguisse conduzir esta questão ele sairia da carreira. E, de fato, quando assinou o termo de ajustamento de conduta, ele saiu. É uma exposição em que queremos apresentar todo o histórico de resistência dessa comunidade para garantir o seu território. O recorte da curadoria vai ser o histórico de apagamento da voz, da história dos negros”, explica Fabiana Schneider.
Seguindo a estética a que se propõe o Memorial da PR/RJ, sua segunda exposição vai apresentar uma narrativa crítica por meio de obras de arte. A primeira exposição realizada no espaço, entre outubro de 2023 e março deste ano, teve como tema “Justiça de Transição e os crimes da Ditadura”. “Nosso memorial se propõe a apresentar casos destacados de atuação do MPF usando a linguagem das artes. O público tem, assim, a oportunidade de conhecer mais sobre o tema apresentado e também ver obras de arte de artistas consagrados”, explicou Fabiana.
Para o procurador-chefe da PR/RJ, Sérgio Pinel, o memorial é um espaço importante para tratar dos temas de atuação do MPF com uma perspectiva diferenciada. “Nessa exposição, falaremos sobre a atuação do MPF no Quilombo da Marambaia, bem como nossas atribuições relacionadas às comunidades tradicionais de maneira geral. Será uma excelente oportunidade para pensar o histórico e os rumos das atuações do MPF na matéria. Pretendemos iniciar ainda, com essa exposição, um novo modelo educativo institucional, voltado para o público interno e externo. A PR/RJ espera contribuir para que a sociedade conheça ainda melhor as atividades realizadas pelo MPF”, declarou o procurador-chefe.
Do ‘ficar bom’ ao ‘ficar bem’ – O território onde está hoje o Quilombo da Marambaia era uma ‘fazenda de engorda’, que recuperava os escravizados da travessia marítima para ficarem ‘bons para venda’. “Essa comunidade quilombola passou décadas lutando pelo seu território e finalmente conseguiu assinar um termo de ajuste de conduta com a Marinha, porque a Marinha está instalada na Restinga da Marambaia e era uma disputa grande, a Marinha querendo aquele espaço e expulsar os quilombolas, e os quilombolas querendo manter o seu território. Essa é a razão pela qual escolhemos o caso”, explica a curadora e procuradora Fabiana Schneider.
Ela completa, ainda, que Dona Vania Guerra trouxe a frase que deu nome à exposição. “Ela fala assim: ‘naquela época eles traziam os escravizados para ficarem ‘bons’ – bons para venda. E, hoje, o que eles querem é ficar bem’”, disse a procuradora’.
Exposição “Quilombo da Marambaia: do ‘ficar bom’ ao ‘ficar bem’”
Data: 14 de agosto de 2024 a fevereiro de 2025
Local: Memorial da PR/RJ
Endereço: Av. Nilo Peçanha, 31, Centro – Rio de Janeiro
Entrada gratuita