Aumento de lixo estrangeiro nas praias paulistas preocupa ambientalistas e MP

Registros de campo coletados por colaboradores, voluntários ativistas em praias de SP (Litoral Norte e Sul) e BA (Imbassaí, Norte do Estado da Bahia) apontam aumento de 300% de lixo estrangeiro nessas praias desde 2019. Mais de 4,5 mil registros catalogados foram apresentados ao Ministério Público de SP e BA

Neste sábado, dia 16, se comemora no mundo inteiro o Dia Mundial da Limpeza de Rios e Praias. Para comemorar a data, muitas cidades litorâneas do país realizarão ações e mutirões para a coleta de lixo em suas praias, mangues, rios e cachoeiras.

 

Nas cidades do litoral paulista, cresce a presença de lixo de origem estrangeira e isso tem aumentado a preocupação dos ambientalistas. O lixo internacional encontrado em praias e costeiras incluem material cancerígeno e corrosivo. A maior parte deste lixo é lançado ao mar por tripulantes dos navios estrangeiros que operam nos portos de São Sebastião e Santos e nos terminais da Petrobrás.

 

A ONG Ecomov ( Ecologia Em Movimento) em sua última coleta, realizada entre setembro de 2022 e maio de 2023, recolheu mais de 1.600 itens de origem estrangeira em praias do litoral paulista.

 

São lixos provenientes da China, Malásia, EUA, Turquia e Rússia, entre outros países. Segundo o levantamento feito pela Ong Ecomov, 47% do lixo internacional recolhido nas praias paulistas é proveniente da China, 17% da EUA; e, outros 17% da Malásia.

 

Ainda, segundo a Ecomov, entre o lixo estrangeiros recolhidos nas praias o litoral paulista: 55% eram embalagens alimentares; 30% ração humana; e, 14% produtos de higiene e limpeza.

 

A Ecomov catalogou até produtos utilizados na limpeza e manutenção de porões, selantes, colas e produtos com metabissulfito, que é altamente cancerígeno e corrosivo.

 

O relatório do lixo internacional foi encaminhado ao Ministério Público do Estado de São Paulo que pretende pressionar as autoridades a intensificarem a fiscalização de limpeza de navios, já que a maior parte do lixo internacional que vai parar nas praias vem de navios que atracam nos portos do estado, entre eles, Santos e São Sebastião.

 

A promotora Flávia Maria Gonçalves, do Gaema de Santos, em recente entrevista concedida para um programa de televisão afirmou que, trata-se de um problema mundial, que somente poderá ser solucionado com uma fiscalização mais eficaz por parte das autoridades brasileiras, proibindo que embarcações estrangeiras continuem poluindo as praias paulistas.

 

Litoral Norte

 

Nas praias do litoral norte paulista,  a Ecomov conta com o apoio da Ong Piscocoletor, de São Sebastião e do ambientalista Giliard Ferreira, conhecido como o “guardião das costeiras”, de Caraguatatuba, na coleta e cadastro do lixo estrangeiro encontrado nas praias da região.

 

Em Caraguatatuba, Giliard colabora com a Ong Ecomov, recolhendo e cadastrando o lixo internacional encontrado nas praias e costeiras da cidade. Segundo ele, o lixo estrangeiro é proveniente dos navios que atracam no porto de São Sebastião e, também, no píer do Tebar(Terminal Marítimo Almirante Barroso), da Petrobras.

 

Giliard tem 43 anos e há oito anos percorre de segunda até sexta-feira, durante seis horas, as praias, costeiras, mangues e foz de rios da cidade recolhendo o lixo deixado pelos banhistas e turistas e, também, proveniente dos navios que cruzam o mar da região.

 

 

“Tudo o que recolho por aqui, armazeno, fotografo e catalogo para colaborar com a Ecomov. Esse inventário é importante para que as autoridades brasileiras ampliem a fiscalização e coíbam o lixo dispensado pelos tripulantes dos navios no mar do litoral paulista”, destaca Giliard.

 

Segundo ele, no litoral norte são coletados embalagens plásticas de alimentos, garrafas de água, produtos de higiene e limpeza e até um pneu, tudo produzido no estrangeiro. “Acho que chegou a hora de dar um basta nisso, pois além dos danos ambientais, esses lixos estrangeiros podem causar doenças…”, comentou.

 

Giliard tem vários patrocinadores, entre eles, supermercado, lojas de roupas e de acessórios. Vive disso. Seu trabalho é reconhecido e sempre é convidado a dar palestras nas escolas da região. Ele acredita que através da educação as pessoas devem entender que lugar de lixo é no lixo e não nas praias.

 

Lixo deixado por turistas na subida do mirante do Santo Antônio

 

Ele explica que nas praias os lixos mais coletados são embalagens plásticas de alimentos, garrafas pets e latinhas de cerveja; nas costeiras, são lixos produzidos por pescadores: resto de iscas, pedaços de isopor, naylon e bitucas de cigarro; e, nos mangues e boca de rios, recolhe lixos que são produzidos nos bairros periféricos que são levados pela chuva e córregos: sapato, sofá, roupas e panela; nos pontos turísticos, explica que recolhe garrafas de água, embalagens de alimentos e bituca de cigarros.

 

Portos

 

A Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística responsável pelo porto de São Sebastião, no litoral norte, explicou que a Norma Técnica 001/2011, que trata das responsabilidades para com resíduos de embarcações pelo cais público do Porto de São Sebastião, regulamenta quais os procedimentos administrativos e operacionais para que essas atividades sejam executadas de forma segura.
Segundo a secretaria, a retirada, o transporte e a destinação são realizadas por empresas especializadas, contratadas pelas agências marítimas responsáveis pelas embarcações e cadastradas no porto. E que, por sua vez, o Porto, como autoridade portuária, fiscaliza a retirada de resíduos de todas as embarcações atracadas no porto. O material, não importando de que tipo, precisa ser acondicionado de forma segura ainda dentro da embarcação, para que o transbordo e o transporte até a destinação final sejam realizados sem risco de contaminação externa.
Segundo informações extraoficiais, os navios da Transpetro também seguem a mesma norma, ou seja, empresas terceirizadas recolhem o lixo dos navios estrangeiros quando chegam aos terminais e providenciam a destinação aos resíduos. Procuramos a Transpetro. A assessoria de Imprensa da Transpetro, solicitou um prazo maior para retornar as informações solicitadas. Assim que as informações forem repassadas serão anexadas ao texto original desta reportagem.

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