Filme sobre litígio entre quilombolas e militares será lançado em agosto
Em sessão na unidade dos fuzileiros navais na Ilha da Marambaia, no litoral fluminense, o Ministério Público Federal (MPF) fez o pré-lançamento do documentário Marambaia: do quilombo à justiça, sobre o início e o fim do litígio fundiário envolvendo quilombolas e militares nessa região no início do século. O filme será lançado em agosto, na abertura da exposição sobre esse caso no Memorial do MPF/RJ, mas teve exibição na última sexta-feira, dia 14, para quilombolas e oficiais entrevistados conhecerem o conteúdo antes do lançamento; além deles, o filme foi assistido por estudantes da escola da região (E.M. Levy Miranda).
No início do evento, a curadora do Memorial do MPF/RJ, a procuradora da República Fabiana Schneider, comentou que o filme foi um dos meios encontrados de compartilhar a história do litígio judicial. O processo teve fim em 2014, quando um acordo (termo de ajustamento de conduta) entre as partes encerrou a ação aberta em 2002: “A gente quer falar da forma tradicional da comunidade mostrar sua história, pela oralidade, passando de geração para geração. Fizemos um pequeno documentário, que é uma das formas de contar histórias, um pedacinho daquilo que conseguimos extrair vendo a comunidade.”
Ao receber a palavra, o diretor e roteirista do filme, Mario Luis Grangeia, agradeceu aos entrevistados, ao público presente e à equipe de produção. E expôs a proposta do filme em termos ao público, com faixa etária variada: “Viemos contar a história de um acordo entre quilombolas e a União, no caso a Marinha do Brasil. E o MPF tentou contribuir para esse acordo ser fechado. Nessa história, encontramos vizinhos que voltam a se falar e o que estava dando ruim começa a dar certo, com o diálogo. É uma história sobre diálogo, sobre ‘conversando a gente se entende’.”
Após a exibição do média-metragem, representantes de quilombolas e de militares abordaram o caso e o documentário que o retratou.
“Nenhum acordo é perfeito, mas entendíamos naquele momento que era o melhor a fazer, e a Marinha também”, frisou a presidente da associação de quilombolas (Arqimar), Jaqueline Alves. “Hoje a gente tem autonomia a mais no nosso território, onde ditamos as regras com muita responsabilidade e organização nesse território, que é nosso e nos foi devolvido. Temos boa relação, esperamos avançar e ir muito além. Atingimos esse patamar de conviver harmonicamente nesse território tão importante para nós como quilombolas, de uma remanescência ancestral, e para a Marinha, por seus interesses.”
Antes de encerrar o pré-lançamento, o capitão de mar e guerra (FN) Jorge Luiz da Silva Coelho, comandante do Centro de Avaliação da Ilha da Marambaia (Cadim), congratulou a equipe do filme e celebrou a presença, na sessão, de participantes das negociações do acordo pelos dois lados: “É um trabalho de muito sucesso e todos saíram ganhando. Muitos atores envolvidos ao longo do processo estão aqui”, disse o comandante Coelho.
Exposição – Durante dois dias (13 e 14/6), uma equipe do Memorial do MPF/RJ esteve na Ilha da Marambaia para captar imagens para enriquecer a exposição fotográfica prevista para agosto. Nesses dias, os servidores e procuradores do Memorial acompanharam a apresentação de jongo e outras atividades de mulheres quilombolas da Marambaia no quarto encontro do coletivo Cozinha das Tradições, com mulheres de comunidades tradicionais da região entre Ilhabela e Mangaratiba e que é uma rede coordenada pela Fiocruz, por meio de seu Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina.