Jornalista lança romance com histórias envolvendo personagens caiçaras do litoral norte paulista

 

A jornalista Regina Helena Paiva Ramos lanço seu nono livro. O romance “Vento Endiabrado”, com 295 páginas, pela editora Almedina. O livro pode ser encontrado na Amazon e daqui a alguns dias nas livrarias ao preço de R$ 72,00.  Trata-se de uma leitura obrigatória para quem curte o litoral norte paulista.

Regina Helena trabalhou em grandes jornais, revistas e emissoras de TV. Nos anos 90 mudou-se da capital para a praia de Juquehy, na costa sul de São Sebastião. Se envolveu com a vida caiçara e foi uma das grades defensoras da proteção ambiental na região. Tornou-se secretaria municipal de São Sebastião e foi uma das criadoras da Guarda Ambiental no  município.

 

Há alguns anos, Regina resolveu deixar  Juquehy e São Sebastião e retornou para a capital paulista.  “Fui-me embora de Juquehy por não aguentar mais a vizinhança barulhenta. Sai de Juquehy, mas Juquehy não saiu de mim”, conta Regina Helena.

Em novembro do ano passado, ela recebeu uma bela homenagem da prefeitura de São Sebastião quando da comemoração dos 30 anos do Departamento de Fiscalização Ambiental, instituído em 4 de novembro de 1992 com o nome de Guarda Ambiental. Regina Helena era a secretaria de Meio Ambiente.

Com relação ao livro,  ela brinca que começou a escreve-lo há cinquenta anos atrás quando começou a frequentar a região e a se apaixonar pelos caiçaras.  Trata-se de um romance, com histórias, entre elas,  de um jovem caiçara apaixonado por uma escultora famosa e bem mais velha que ele e de uma jovem que namora um peão da construtora da Rio/Santos mas rompe o namoro por causa de um escândalo.

Abaixo um relato de Regina Helena sobre o lançamento de seu livro com exclusividade para o portal Notícias das Praias:

Levou só 50 anos!

 

Antigo traçado da rodovia que interligava a costa sul de São Sebastião antes de ser implantada a Rio-Santos. Foto: Reprodução site Pescadores de Maresias

Frequento o litoral de São Paulo desde sempre. Casa de um primo em Caraguá. Daí, excursões a São Sebastião. Acampamento em Ilhabela, em praia que não sei dizer qual era, só que se navegava num barquinho a motor duas horas e então se acampava em areias desertas – poucos caiçaras morando e um rio por perto – faz tanto tempo que não sei dizer onde era. Um barco ia levar a gente e buscava cinco dias depois. Uma vez choveu cinco dias! Barraca molhada, colchonetes molhados, comida faltando (a gente achou que pescaria o almoço!)

Depois, como jornalista, a futura Rio-Santos perseguida de carro, a pé, de barco, subindo e descendo morro, um caiçara na frente com um cachimbo e fumaça para, segundo ele, espantar cobras. Depois um rio no Sertão de Ubatumirim, um lugar lindo, completamente, na época, fora do mapa: um garotinho gritou e saiu correndo quando apontei a câmera para ele, pensou que era uma arma e eu iria matá-lo.

Um dia São Sebastião, Barra do Una, Juquehy, Camburi, Boissucanga. Muitos e muitos anos de litoral E uma certeza: ninguém andou pela Rio-Santos antes que ela existisse. Eu andei! Meu livro “Vento Endiabrado” começou a ser escrito, acho, há 50 anos. Ou mais. Desde esse tempo notava a linguagem caiçara: diferente, “cantada”, aportuquesada, inventada, curiosa, o “v” trocado pelo “b” – “ Bede que sou tão belha por lá que até sei falar e escrevinhar como eles”.

Alguns dos meus personagens pescam. Outros fazem artesanato. Se amam e também sabem odiar. Conheço as bondades e as ruindades deles. Conheço a personalidade. O jeitão. O orgulho e a teimosia. A teimosia, principalmente. Há gente má por lá, pior que cobra. E há gente boa demais. Não foi difícil escrever “ Vento Endiabrado” . Levou só cinquenta anos.

Depois que fiz casa em Juquehy comecei a tomar nota da linguagem caiçara. Eu ficava encantada com o que ouvia. Os personagens locais do meu livro falam em caiçarês. Meu romance não é uma história passada em Juquehy. É uma história passada no Litoral Norte, principalmente São Sebastião. “Causos” que ouvi em várias praias. Até em Ilhabela.

Fui-me embora de Juquehy por não aguentar mais a vizinhança barulhenta. Sai de Juquehy, mas Juquehy não saiu de mim. Mas minha iniciação em Litoral Norte de São Paulo foi mesmo em Caraguatatuba. O sogro da minha irmã, Evaristo Garcia, teve casa aí, nos tempos no prefeito Geraldo, o “Boneca”. A casa dele era em frente à casa do Boneca.

Foi de Caraguá que fiz incursões em outros municípios, em outras praias, até na Ilhabela. E foi de lá, também, que empreendi com um colega do Correio da Manhã, jornal do Rio de Janeiro, viagens de conhecimento da região por onde passaria a Rio-Santos. De carro, a pé, de barco. Um dia demos com um cemitério no meio da floresta, nem muro tinha, os bichos da mata vinham desenterrar os mortos, sem cerimônia. Era o cemitério de Ubatumirim. Atravessávamos o rio Ubatumirim para chegar lá. (Um dia vou escrever minhas memórias da região antes que a Rio-Santos fosse concluída.)

Bom, meu romance é isso e mais o registro da linguagem falada pelos caiçaras. Antes que acabe! São poucos, ainda, os velhos que falam dessa forma. Seria preciso registrar isso e eu o fiz com grande prazer.

Um resumo do romance

 

Um jovem caiçara apaixonado por uma escultora famosa e bem mais velha que ele. Uma jovem que namora um peão da construtora da Rio/Santos mas rompe o namoro por causa de um escândalo: o indigitado frequentava a casa de Isaura, mulher de São Paulo de maus costumes. O marido corno que joga na rua antúrios, hortênsias, lírios da mulher que o traia, tudo atropelado pelo caminhão de lixo que passava na hora. E dona Quicas, o jornal falado do bairro comentando aquilo que “se sucedia” e afirmando que “ tem muita gente desregulada nestas bandas, mas ninguém é mais que a desassossegada da retratista, que fez desfazimento do casamento e se amigou-se com Venâncio, o abestalhado que esconde muito as safadagens que a loira faz”. Tudo isso está no livro “Vento Endiabrado”, de Regina Helena de Paiva Ramos.

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