Deputados protocolam projeto que propõem ‘divisão solidária’ dos royalties do petróleo

Na justificativa, os deputados afirmam que os recursos da exploração de petróleo muitas vezes “não são devidamente compartilhados com as localidades vizinhas”, ou seja, município que recebe royalties cederia algum percentual para município vizinho que não recebe 

O projeto autoriza os municípios produtores a destinarem um percentual mínimo dos royalties, a ser estabelecido pelo poder municipal, para compor um fundo de auxílio aos municípios adjacentes. Ele será gerido por um comitê de representantes dos municípios produtores e dos beneficiários para garantir transparência na aplicação dos recursos e seguir as ações realizadas.

Os recursos devem ser utilizados pelos municípios adjacentes “de acordo com suas necessidades específicas, visando promover o desenvolvimento econômico, social e ambiental de forma sustentável”. Os municípios adjacentes devem apresentar projetos que demonstrem a aplicação adequada dos recursos, considerando viabilidade técnica, compatibilidade socioeconômica e impacto positivo na região. A seleção dos projetos será realizada pelo comitê gestor do fundo de auxílio.

Na justificativa para o projeto, os deputados afirmam que os recursos da exploração de petróleo muitas vezes “não são devidamente compartilhados com as localidades vizinhas, que também enfrentam desafios socioeconômicos e ambientais decorrentes dessa atividade”. O deputado Quaquá usou o exemplo da desigualdade entre Maricá(RJ), campeã de royalties, e cidades vizinhas.

Mais de 60% dos leitos dos hospitais de Maricá, segundo o deputado e ex-prefeito de Maricá, são ocupados por moradores de Itaborai e São Gonçalo. “Crianças de São Gonçalo e Itaborai estudam em nossas escolas. Essa Lei dá legitimidade para os municípios se auto ajudarem de forma oficial”, explica.

É fundamental, na avaliação dos autores do projeto, “assegurar a solidariedade entre os municípios produtores e seus vizinhos, promovendo uma distribuição mais justa e equânime dos benefícios gerados pela exploração do petróleo”. A medida é considerada adequada para “mitigar as desigualdades regionais e estimular o desenvolvimento de forma sustentável”.

“Ao destinar um percentual dos royalties para os municípios adjacentes, estaremos impulsionando a execução de projetos que visem ao crescimento econômico, à melhoria da qualidade de vida da população local e à preservação ambiental. Esses recursos poderão ser direcionados para investimentos em infraestrutura, educação, saúde, saneamento básico, meio ambiente e outras áreas estratégicas de acordo com as necessidades específicas de cada localidade”, justificam os parlamentares.

Litoral Norte

Caso o projeto seja acatado, votado e aprovado, no litoral norte paulista, por exemplo, a cidade de Ubatuba seria a maior  beneficiada. O município recebeu no primeiro semestre deste ano, um pouco mais R$ 5 milhões em royalties.

As cidades do litoral norte paulista- São Sebastião, Ilhabela, Caraguatatuba e Ubatuba receberam R$ 363. 213.512,29 de royalties da Petrobras durante seis primeiros meses de 2023.  O repasse foi contabilizado até o mês de junho, segundo o relatório de julho divulgado pela Petrobras.

O estado de São Paulo recebeu R$ 1.192.092.573,27 entre janeiro e junho. No litoral norte, no mesmo período, Ilhabela recebeu R$ 238.320.947,71 sendo R$ 145.408.629,41 de royalties e R$ 92.912.318,3 em participação especial .

São Sebastião recebeu nos primeiros seis meses do ano de 2023 um total de R$ 63.804.244,49; Caraguatatuba, R$ 55.583.290,70 (sendo R$ 55.523.290,70 em royalties e R$ 60.648,01 em participação especial); e, Ubatuba, R$ 5.505.029,39 (sendo R$ 5.485.518,89 de royalties e R$ 19.510,50 de participação especial).  A cidade de Bertioga recebeu nos primeiros seis meses de 2023 um total de 37.959.707,07.

Cerca de R$ 1 bilhão destinado a Ilhabela, resultado da arrecadação de royalties de oito poços na bacia de Santos, que vinha sendo depositado em juízo desde 2020, acabou sendo destinado para a cidade de São Sebastião. A prefeitura de São Sebastião acionou a justiça em 2017 cobrando parte dos royalties de oito campos na bacia de Santos. Em 2020, o IBGE, órgão técnico responsável pela demarcação das linhas geodésicas, emitiu nota técnica que revisou as projeções para a Bacia de Santos, reconhecendo que São Sebastião faz confrontação com os campos de Bacalhau Norte, Lapa, Mexilhão, Nordeste de Sapinhoá, Noroeste de Sapinhoá, Sapinhoá, Sudoeste de Sapinhoá e Sul de Sapinhoá e tinha direito a 50% dos royalties desses campos que eram totalmente distribuídos para o município de Ilhabela.

 

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