No próximo sábado, dia 25 de junho, será comemorado em Ubatuba, os 70 anos da rebelião ocorrida no presídio de Ilha Anchieta. O evento será realizado nas ruínas do presídio que fica no Parque Estadual da Ilha Anchieta (PEIA). Na programação, que terá início às 10h da manhã, roda de conversa e apresentações sobre a rebelião.
O evento também ocorre como comemoração ao dia municipal “Os Filhos da Ilha”, instituído por Lei no calendário oficial de eventos de Ubatuba em 2009. O evento também homenageará japoneses que ficaram detidos no presídio em 1945. Em setembro próximo, completará 77 anos da prisão do grupo “Shindo Renmei”, 155 japoneses que ficaram confinados no presídio em 1945, após o fim da guerra, pelo governo brasileiro. O grupo não aceitava a derrota do Japão na guerra.
Presídio
O presídio da Ilha Anchieta começou a ser construído em 1902, quando foram desapropriadas cerca de 412 famílias de colonos e caiçaras que habitavam o local. Mas em 1914 a Colônia Penal foi extinta, sendo os detentos transferidos para Taubaté.
Em 1928 o presídio volta a funcionar, desta vez sendo destinado principalmente a presos políticos. Pouco depois a ilha, que se chamava na época Ilha dos Porcos, foi rebatizada como Ilha Anchieta em homenagem ao jesuíta.
No ano de 1942, com aproximadamente 273 detentos, a Colônia Penal passa a ser denominada como Instituto Correcional da Ilha Anchieta, passando a receber como residentes também soldados e suas famílias. A desativação do presídio ocorreu após a sangrenta rebelião de junho de 1952. Hoje é um dos locais mais visitados do Litoral Norte.
Rebelião
No dia 20 de junho de 1952, há 70 anos, acontecia no Instituto Correcional de Ilha Anchieta, em Ubatuba, o maior e mais sangrento motim já ocorrido em um presídio brasileiro.
Na época, estavam presos no presídio 450 presos. Na manhã do dia 20 de junho de 1952, após alguns meses de planejamento, os presos colocaram em prática o plano de fuga. Os presos que planejaram e iriam executar o plano de fuga haviam conquistado a confiança dos guardas do presídio.
O mentor da fuga foi o preso Álvaro Conceição Carvalho Farto, o “Portuga”. Ele, mais os presos conhecidos como “Mão Francesa”, “Leitão”, “Fumaça”, “Sete Dedos”, “Diabo Loiro”, João Pereira Lima, China Show, Gerico, Idelfonso e Mocoroa lideraram um grupo de outros 110 presos que iriam buscar a lenha cortada no dia anterior para levar para o interior do presídio.
Faziam a guarda do grupo, apenas dois soldados armados. Como os presos haviam conquistado a confiança de todos eles, o que fazia parte do plano de fuga, não houve dificuldades em tomar as armas e iniciar o motim.
Os presos se dividiram em dois grupos. Um comandado por Pereira Lima atacou o quartel e outro as residências, entre elas, a do diretor do instituto penal. Tocaram fogo nas residências e aguardaram a embarcação Ubatubinha, que fazia o transporte de cargas e pessoas entre o continente e a ilha, para fugirem para Ubatuba.
Como a embarcação não chegava, eles resolveram utilizar a lancha “Bailarina” para deixar a ilha. A lancha que tinha capacidade para 50 pessoas, levou mais de 90 presos. Segundo consta, muitos foram atirados no mar e devorados por tubarões.
Um soldado, Simão Rosa da Cunha conseguiu nadar até o continente e informar o ocorrido as autoridades. Começou então uma verdadeira caçada aos foragidos. As buscas foram feitas nas praias, nas estradas e nas encostas da serra do mar. O saldo da tragédia: 18 presos mortos, oito soldados mortos e dois civis mortos. Dos 129 presos que fugiram, 109 foram recapturados. Após a rebelião, o presídio foi desativado.
Shindo Renmei
Em setembro deste ano, o presídio de Ilha Anchieta também comemora os 77 anos da prisão do grupo “Shindo Renmei”, 155 japoneses que ficaram confinados no presídio em 1945, após o fim da guerra, pelo governo brasileiro. O grupo não aceitava a derrota do Japão na guerra.
Em 1945, um grupo de 155 imigrantes japoneses, que pertenciam a uma associação secreta conhecida como Shindo Renmei, que significava “Liga do Caminho dos Súditos”, ficaram presos no presídio de Ilha Anchieta.
A associação tinha como objetivo de manter a tradição nipônica e a organização das colônias japonesas espalhadas pelo interior de São Paulo e demais estados do país. Durante a segunda guerra os membros do Shindo Renmei viviam na clandestinidade porque os imigrantes japoneses foram proibidos pelo governo brasileiro de manter suas tradições, cultura, língua e atividades sociais, esportivas e políticas.
Foi proibido, também, o uso do rádio, pois o a colônia fazia oposição aos aliados, apoiados pelo Brasil na guerra. Com o fim da guerra em 1945, iniciou-se um ciclo de conflitos e mortes na comunidade japonesa que vivia no país. Os membros do Shindo Renmei não acreditavam e, tão pouco, aceitavam a derrota do Japão na guerra. Para eles, as notícias da derrota eram duvidosas, uma vez que o Brasil apoiava os aliados.
Para eles, as notícias divulgadas no Brasil, sobre o fim da guerra e derrota do Japão, não passavam de uma manobra para que os orientais perdessem sua organização e força. A organização utilizou de ampla propaganda para tentar garantir a honra à pátria. Utilizaram recursos como montagens fotográficas, falsos jornais internacionais e até moedas falsas dos países “derrotados” com emissão no Japão.
Uma parcela da comunidade japonesa, chamada na época de “corações sujos” ou “derrotistas” por acreditar na derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial passou a ser perseguida pela organização Shindo Renmei. Com o crescimento do conflito e morte dos “derrotistas”, o governo brasileiro resolveu intervir prendendo na Ilha Anchieta ou deportando para o Japão, os integrantes da organização.
Essa história considerada um dos episódios mais marcantes na história do presídio da Ilha Anchieta, em Ubatuba, foi levado para as telas do cinema em 2012, inclusive, no Japão. No Brasil, o filme “Corações Sujos”, baseado em livro de Fernando Morais e dirigido por Vicente Amorim, foi estrelado por Edu Moscovi e Tsyoshi Ihana(Cartas de Iwo Jima).
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