Homem, de 30 anos, teria morrido após contrair a bactéria Fasceíte Necrosante, conhecida popularmente como “bactéria comedora de carne” na praia do Perequê-Mirim(Foto); a Cetesb. responsável pelo monitoramento das praias, foi procurada, mas ainda não se manifestou.
Por Salim Burihan
Repercute em Ubatuba e em toda a região do Litoral Norte Paulista, denúncias feitas por morador de Ubatuba, através da tribuna da Câmara Municipal de Ubatuba, na última terça-feira, da 13, com relação a morte de seu filho, de 30 anos, após contrair uma bactéria na praia do Perequê-Mirim.

Na sessão da Câmara Municipal de Ubatuba, Domício Silvestre Gomes(Foto), morador do bairro do Perequê-Mirim, contou aos vereadores presentes à sessão, que seu filho, um marinheiro, de 30 anos, que trabalhava em uma marina na praia do bairro, havia morrido no dia 28 de abril deste ano, após contrair a bactéria Fasceíte Necrosante, conhecida popularmente como “bactéria comedora de carne”
Segundo Domício, a bactéria seria proveniente do esgoto despejado nos rios do bairro, que deságuam diretamente no mar, sem tratamento adequado. O pai relatou aos vereadores, que seu filho apresentou os primeiros sintomas no dia 22 de abril e no dia 25, procurou atendimento na santa casa da cidade. Ele teria retornado no dia 27 e acabou falecendo no dia seguinte, 28 de abril.
Emocionado, ao ocupar a tribuna da Câmara, seu Domício cobrou providências das autoridades locais, entre elas, a Câmara de Vereadores, a Prefeitura Municipal e a Sabesp para que haja um maior controle sanitário no município. “No Perequê-Mirim, temos várias marinhas e dois rios que lançam o esgoto na praia. A Sabesp está jogando esgoto dentro do rio. Isso tem que parar. Quantas pessoas mais vão precisar morrer para que alguém tome providência. Meu filho mergulhava para pegar as poitas, para limpar os barcos, meu filho nunca precisou ir num médico…Hoje, vim aqui, para que essa casa olhe por nós, pelo amor de Deus…”, cobrou.
Segundo ele, o filho teria sido a quarta vítima fatal em Ubatuba da bactéria Fasceíte Necrosante, conhecida popularmente como “bactéria comedora de carne”. A partir do pronunciamento de seu Domício na sessão de terça-feira(13) na Câmara de Ubatuba, o Notícias das Praias entrou em contato com a Sabesp e Cetesb cobrando informações sobre o saneamento básico no município sobre a presença da bactéria nas praias da cidade.
Segundo dados do IBGE, d20222, Ubatuba conta com uma população de 92.981 habitantes distribuída em 31.010 domicílios, sendo que 58,26% dos domicílios, ou seja, 54.171 habitantes não são atendidos pela coleta e tratamento de esgoto. Em Ubatuba, 36,01% da população afasta seus esgotos por meio de rede geral, rede pluvial ou fossa ligada à rede. 39.900 utilizam fossa séptica ou fossa filtro não ligada à rede e 317 com outras soluções.81 habitantes em Ubatuba não têm banheiros nem sanitários.
A Cetesb foi procurada para comentar o assunto e esclarecer se a bactéria pode ser adquirida nas praias da cidade. A companhia ainda não se manifestou sobre o assunto. Segundo os boletins de balneabilidade divulgados pela companhia, em 19 semanas deste ano, a praia do Perequê-Mirim esteve imprópria para uso em nove delas. Em 2024, nas 52 semanas do ano, a praia esteve inadequada para banho em nove semanas. A poluição na praia seria causada pela presença de esgoto doméstico.
Em seus canais de divulgação, a Cetesb informa que a água marinha contaminada por esgoto pode transmitir diversas doenças, como gastroenterite, disenteria, hepatite A, cólera e febre. Outras doenças de veiculação hídrica incluem diarreia por Escherichia coli, amebíase, leptospirose, esquistossomose e febre paratifoide.
A Cetesb recomenda aos banhistas evitar o banho de mar em praias classificadas como Impróprias; tomar banho de mar nas primeiras 24 horas, após chuvas intensas; banhar-se em canais, córregos ou rios que afluem às praias e trechos próximos a eles, pois estes estão sujeitos ao aporte de carga difusa e lançamentos irregulares de esgotos domésticos; e, engolir água do mar, com redobrada atenção para com crianças e idosos, que são mais sensíveis e menos imunes do que os adultos.
A Sabesp se manifestou sobre o pronunciamento feito por seu Domício, na sessão da Câmara de terça-feira, dia 13. A Sabesp afirmou que lamenta profundamente o falecimento do filho do sr. Domício Silvestre Gomes e se solidariza com a família e os amigos. A Companhia adiantou que fará todo o possível para contribuir com os órgãos responsáveis pela identificação da origem da contaminação e da causa do óbito.
A empresa informou ainda que está comprometida com a expansão da rede de saneamento básico em Ubatuba, incluindo a região do Perequê-Mirim, onde estão em andamento as obras do Sistema de Esgotamento Sanitário. O investimento no sistema do Perequê-Mirim é de R$ 45,7 milhões
Segundo a Sabesp, a região já conta com 73% de rede coletora instalada e, até 2026, terá o sistema completo, com a entrega da Estação de Tratamento de Esgoto e das tubulações remanescentes. O projeto contempla cerca de 15 quilômetros de redes coletoras de esgoto, 1.251 ligações domiciliares e 6 estações elevatórias. A infraestrutura beneficiará mais de 10 mil pessoas. Em toda a cidade de Ubatuba, até 2029, a Companhia irá investir R$ 593 milhões em obras de saneamento.
Segundo a Sabesp, a qualidade das praias depende de diversos fatores, além da infraestrutura de saneamento básico, como o combate à poluição difusa. Portanto, preservar o meio ambiente e saúde de todos é um trabalho conjunto entre diversos órgãos e empresas.
A coordenadora ambiental do Tamoio de Ubatuba, Lidi Keche, se manifestou através das redes sociais sobre o pronunciamento feito por Domício Silvestre Gomes. “A dor desse pai ecoa em outras famílias, pois, segundo ele, não foi um caso isolado. Ao menos quatro vidas foram ceifadas por essa mesma condição. Sua narrativa, repleta de angústia, expressava a frustração de um cidadão que vê o descaso político como um obstáculo à cura não apenas das águas, mas da própria sociedade. Ele denunciava a negligência que transforma a água suja em um veneno letal, capaz de provocar não apenas doenças, mas a morte”, comentou.
Bactéria
O que é fasciíte necrosante?
Fasciíte necrosante é uma infecção grave e rara que destrói os tecidos abaixo da pele. Pode ser causada por diferentes bactérias, como as do gênero Streptococus, e é mais comum em pessoas com sistema imune debilitado.
Sintomas
Os principais sintomas da fasciíte necrosante são feridas, dor, inchaço, febre, bolhas e erupções na pele e presença de pus, entre outros. Pode se espalhar rapidamente e causar complicações graves.
Causas
A fasciíte necrosante é provocada por determinadas bactérias que invadem o organismo através de fissuras na pele. Micro-organismos do gênero Streptococus estão entre os causadores do problema.
Diagnóstico
O diagnóstico de fasciíte necrosante é feito por médicos, a partir da análise da pele e dos sintomas. Biópsia e exames de imagem podem ser solicitados.
Método de prevenção
Para prevenir a fasciíte necrosante, é importante lavar bem as mãos e manter feridas higienizadas e cobertas por curativos.
Tratamento
Para tratar a fasciíte necrosante, antibióticos são aplicados o quanto antes, com o objetivo de eliminar a bactéria. Outros medicamentos podem aliviar sintomas e, muitas vezes, é necessária a remoção cirúrgica do tecido atingido.
Duração
A fasciíte necrosante evolui rapidamente, mas pode ser curada em semanas com tratamento adequado.
Contagiosa?
Não, a fasciíte necrosante é transmitida por bactérias que invadem a pele através de fissuras, mas esse micro-organismo geralmente não veem de outra pessoa.
Pode ser contraída mais de uma vez?
É possível ter mais de um caso de fasciíte necrosante, embora isso seja raro.
Informações do Hospital Albert Einstein/São Paulo