A Prefeitura de Caraguatatuba, através da Secretaria de Urbanismo, iniciou estudos para transformar a praia da Mococa, na região norte, num parque ecológico. A proposta, caso seja aprovada pelo prefeito e sociedade civil, deverá ser apresentada ao MPF e SPU.
Por Salim Burihan
A Prefeitura de Caraguatatuba, através da Secretaria de Urbanismo, iniciou estudos para transformar a praia da Mococa, na região norte do município, num parque ecológico. O estudo preliminar será apresentado ao prefeito Mateus Silva, ao Ministério Público Federal e a SPU (Serviço de Patrimônio da União).
O parque ecológico da praia da Mococa, está sendo elaborado pela Secretaria de Urbanismo e Governo Municipal, junto ao SPU, que, segundo a prefeitura, também já teria demonstrado concordância inicial com a ideia.
Segundo a Secretaria de Urbanismo, serão necessários 30 dias para apresentação de proposta em estudo preliminar ao SPU, ao MPF, ao Governo Municipal e a população. Caso o projeto avance, a praia da Mococa se tornaria um parque ecológico linear com o plantio de jundu em toda a sua extensão e a recriação de cenários de restinga, com possibilidade de passeio e contemplação para educação ambiental.
Ainda, segundo a prefeitura, o parque linear da orla da Mococa seria uma solução sustentável para a recuperação da praia perante a situação em que hoje ela se encontra, devido ao avanço do mar e a erosão praial, que obrigou, inclusive, o remanejamento dos quiosques instalados na praia.
Segundo a prefeitura, o mar avançou drasticamente sobre a areia criando erosões que desnivelam a praia em quase dois metros. Boa parte dos quiosques foram parcialmente destruídos pelo avanço do mar e reconstruídos um pouco mais distantes do mar.
A prefeitura informou ainda que iniciou um projeto para a implantação e redimensionamento dos espaços dos quiosques em duas áreas ainda possíveis. As concessões dos quiosques estariam nestes dois ambientes, conjuntos e menores. A prefeitura acredita que criando o parque ecológico da Mococa, conseguirá trazer atração para o turismo não predatório, controlado e consciente, junto à natureza.
A prefeitura, no entanto, não esclareceu, se com a implantação do parque ecológico, os projetos de condomínios fechados, previstos na orla da Mococa, ficariam inviabilizados. Existem pelo menos três áreas particulares na orla da Mococa. Uma delas, de propriedade do empresário João Alves de Queiroz Filho, o “Júnior, fundador da Hypera.
Segundo o Mapa de Risco à Erosão Costeira no Litoral do Estado de São Paulo, de 2025, a praia da Mococa, em Caraguatatuba, é classificada como de risco ALTO. O Mapa classifica as erosões em cinco classes como Muito Alto, Alto, Médio, Baixo e Muito Baixo risco.
Erosões
A praia da Mococa, que fica na região norte de Caraguatatuba, uma das praias mais frequentadas da cidade, vem sofrendo há quinze anos um processo de erosão bastante avançado provocado pelo avanço do mar.
A praia já teria perdido cerca de 80 metros de sua faixa de areia. Praticamente todos os nove quiosques instalados na sua orla foram prejudicados pelas últimas ressacas, quatro deles acabaram demolidos pela força da maré.
Confira a mudança de característica da praia nos últimos quinze anos através das fotos feitas pelos fotógrafos Gianne D’Angelo, em 2011 e de Luís Gava, em 2021. Comparando as duas fotos, dá para notar que a praia perdeu mais de 80 metros de sua faixa de areia.
Os proprietários de quiosques instalados na orla da Mococa, como a comerciante Suzana Santos, do quiosque do Serjão, instalado há 25 anos na praia, tentaram proteger seus estabelecimentos com saco de areia, de cimento e madeira, mas as ressacas acabaram levando parcialmente boa parte da estrutura do estabelecimento, um dos mais frequentados na praia.
Em entrevista concedida ao Notícias das Praias em 2021, a doutora e pesquisadora científica Célia Regina de Souza, na época do Instituto Geográfico de São Paulo e, atualmente, no Instituto de Pesquisas Ambientais(IPA), avaliou que entre as causas do avanço do mar na Mococa estaria a elevação do nível do mar que vem ocorrendo em todo o mundo.
Considerada uma das maiores especialistas em erosão praial e costeira do país, Célia Regina explicou, na ocasião, que o avanço do mar ocorre devido as condições naturais e antrópicas (intervenção humana).
“Com a elevação dos oceanos, o mar avança em direção as praias, procurando ocupar a faixa de areia. Isso ocorre com as marés altas e ressacas. A praia é uma espécie de barreira física natural. Como existem construções, principalmente, em praias urbanas, elas impedem o mar de se acomodar, a maré procura ocupar outros espaços”, relatou.
Segundo ela, a ressaca ou maré alta, impedida de ocupar a orla natural, retira areia de um local e leva para o fundo marinho ou outro trecho da orla. Isso tem ocorrido na Mococa, onde o lado esquerdo perde faixa de areia- perdeu quase 80 metros nos últimos dez anos, o lado direito ganha cada vez mais espaço.
Em 2021, um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) visitou a Mococa. A avaliação foi agendada pela Profª Dra Célia Regina de Gouveia Souza, coordenadora da Plataforma de Comunicação de Riscos Costeiros para o Litoral de São Paulo (Redecost).
Projeto
Em 2021, a Praia da Mococa, em Caraguatatuba, foi a primeira praia do Litoral Norte a ter um projeto de reurbanização da orla aprovado pela Secretaria de Patrimônio da União (SPU). Todos os nove quiosques, alguns destruídos totalmente e outros, parcialmente, pelo avanço do mar, receberam autorização do SPU para serem reconstruídos.
Os quiosques foram recuados em torno de quatro a cinco metros da faixa da areia. Alguns foram reconstruídos, outros, substituídos por trailers (foto). Os quiosques reconstruídos receberam o Registro Imobiliário Patrimonial (RIP) da União que acompanhou todo o processo, não havendo a possibilidade de implantação de nenhuma outra estrutura.