Balanço do programa mostra crescimento na adesão de pescadores, aumento no valor pago em PSA e consolidação da limpeza em manguezais
O programa Mar sem Lixo, coordenado pela Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil), por meio da Fundação Florestal, retirou 29 toneladas de resíduos do mar e de ecossistemas costeiros paulistas nos três primeiros meses de 2025 — um aumento de 198% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram coletadas 9,8 toneladas.
Mais do que um resultado quantitativo, os dados apontam para o fortalecimento da rede de colaboração entre poder público e comunidades tradicionais do litoral. Desde 2024, o programa passou a reconhecer e remunerar também os serviços ambientais prestados por pescadores artesanais durante o período de defeso, com a inclusão da limpeza de manguezais como atividade remunerada por meio do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA).
“Em 2024, demos um passo inédito ao expandir o PSA para ações em manguezais durante o defeso do camarão. Como era uma iniciativa nova, o primeiro ano foi de adaptação — muitos pescadores ainda estavam conhecendo a proposta e testando, na prática, esse novo formato de valorização do serviço prestado”, explica Sandra Leite, coordenadora do programa.
Em 2025, os efeitos desse primeiro ciclo já são perceptíveis. O número de pescadores cadastrados saltou de 200 para 275, e a adesão aos mutirões cresceu significativamente: entre fevereiro e março deste ano, 91 pescadores participaram de 13 ações coletivas, mesmo número de mutirões realizados entre fevereiro e abril de 2024, quando houve apenas 64 participantes.
“Estamos vendo um crescimento da confiança no programa. Há mais vínculo, mais engajamento e mais resultado. O aumento da coleta de resíduos é reflexo direto disso”, avalia Sandra.
Esse engajamento se reflete também no volume de recursos pagos. De janeiro a abril de 2024, o programa repassou R$ 89.888 em PSA. Em 2025, somente de janeiro a março, o valor já soma R$ 137.225, demonstrando a ampliação do esforço coletivo e da valorização da atuação dos pescadores.
Manguezais e ilhas
A maior parte dos resíduos recolhidos no trimestre — mais de 27 toneladas — veio de mutirões realizados em fevereiro e março, com foco em manguezais e ilhas. O município do Guarujá lidera o volume de material retirado, com mais de 17 toneladas, seguido por Bertioga e Ubatuba.
Já em janeiro, as ações ocorreram durante a pesca com arrasto de camarão, antes do início do defeso. Foi recolhida 1,7 tonelada de resíduos diretamente do mar, com participação de 109 pescadores.
Criado em 2022, o Mar sem Lixo tem como objetivo combater o descarte irregular de resíduos no oceano e em ambientes costeiros, promovendo ao mesmo tempo a inclusão socioeconômica de comunidades tradicionais. O programa atua com base em quatro eixos: o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) aos pescadores artesanais; a realização de ações educativas e de sensibilização junto às comunidades; a produção de dados e informações para subsidiar pesquisas científicas e políticas públicas; e a captação de parcerias e patrocínios para ampliar a escala, o alcance e a sustentabilidade da iniciativa.
No eixo do PSA, os pescadores recebem até R$ 653 mensais, via cartão-alimentação, como reconhecimento pelo serviço ambiental prestado. O apoio à renda familiar é especialmente relevante durante o período do defeso do camarão, entre 28 de janeiro e 30 de abril, quando a pesca está legalmente suspensa. Os participantes atuam em regiões que integram as APAs Marinhas do Litoral Sul, Centro e Norte.
“Esse programa mostra que é possível aliar conservação ambiental com valorização das comunidades tradicionais. Os pescadores se tornam protagonistas da proteção dos nossos mares, gerando impacto positivo não só para a natureza, mas também para a economia local”, afirma Rodrigo Levkovicz, diretor executivo da Fundação Florestal.
Desde sua criação, o Mar sem Lixo já retirou mais de 60 toneladas de resíduos da costa paulista e se consolida como uma política pública de conservação marinha com resultados consistentes e participação comunitária.