Uma jovem de 22 anos foi uma das grandes atrações do carnaval de rua de Caraguatatuba na década de 60, ela era caiçara e tinha o apelido de “Tainha”.
Por Salim Burihan
Assim como o Rio de Janeiro e Búzios(RJ), tiveram suas musas, as atrizes Leila Diniz e Brigite Bardot, respectivamente, Caraguatatuba, no Litoral Norte Paulista, também teve a sua musa na década de 60: Conceição Aparecida do Nascimento, uma caiçara, linda e morena, que tinha o apelido de “Tainha”.
Conceição virou musa de moradores, veranistas e turistas, ao participar dos desfiles de carnaval de rua na cidade, nos anos de 1967 e 1968. Ela desfilava numa “concha”, um carro alegórico que abrilhantava os desfiles carnavalescos naquela época em Caraguatatuba.
O desfile de carros alegórico, nos anos 60, era a principal atração do carnaval da cidade. Os carros que participavam do desfile eram preparados e decorados pelos próprios moradores com “apoio”, vamos dizer, uma ajuda da prefeitura local, que tinha poucos recursos e não contava com verbas para investir no carnaval.
Eram carros decorados com muito amor e carinho, apesar de simples, mas agradavam à todos quando percorriam as ruas da região central, entre elas, a praça Cândido Mota, rua Altino Arantes e a avenida Dr. Arthur Costa Filho, a avenida beira mar.
O carro que transportava a “concha” com a “Tainha” no seu interior era a grande sensação do desfile. A concha era um reprodução daquela concha da Shell, feita de estrutura de madeira e papel alumínio, que abria e fechava, acionada por uma cordinha por uma pessoa que seguia a pé ao lado do carro alegórico.
A concha parava em alguns trechos, normalmente, nas esquinas mais movimentadas. Nessas paradas, a parte da frente da concha se abria e surgia a “Tainha”, trajando um maiô de duas peças, com aquele corpaço. Apesar da pouca iluminação nas avenidas e ruas, quando a concha se abria era um delírio só. Aplausos, assobios, gritos e, alguns minutos depois, a concha se fechava e seguia o desfile.
Muita gente seguia a pé o carro da concha para poder ver várias vezes ela se abrindo com aquela linda morena dentro. Apesar do desfile contar com outros carros alegóricos, entre eles, o do “Netuno”, com o Antônio Nepomuceno, o Totó, em cima , sem dúvida alguma, a concha era realmente a grande sensação do carnaval de rua da cidade, que tinha pouco mais de 25 mil habitantes, mas que recebia turistas e veranistas, principalmente, das cidades do Vale do Paraíba.
Conceição morou em Caraguatatuba no bairro do Estrela D’Alva. Era filha do seu Lino e dona Bertulina, caiçaras de Ubatuba, que se mudaram para a cidade. Conceição estudou no Grupo Escolar de Caraguatatuba (hoje, Museu Adaly Coelho Passos) e no Colégio Thomaz Ribeiro de Lima.
Adolescente, frequentava os bailinhos do Clube XV de Novembro e do Clube das Américas, que ficava no bairro do Ipiranga (na época, conhecido como Risca Faca). Conceição trabalhou na Magazine Flórida, loja que pertenceu ao meu pai, Jorge Burihan e no Auto Posto Atlantic, de propriedade do Ditinho Lelis.
Conceição participava de desfile de modas(Foto) e era considerada uma das jovens mais lindas da cidade. Ela me contou alguns anos atrás que o convite para desfilar na concha partiu do então prefeito, Geraldo Nogueira da Silva, o Boneca. Conceição desfilou na concha nos carnavais de 1967 e 1968, quando tinha 22 anos de idade.
Em 1969, casou-se com o italiano Antônio Cataldo e foi morar na capital paulista. Lá, teve dois filhos: Karina e Giuseph. Em 1975 mudou-se para São José dos Campos e montou a Doceria Antoniella, que tornou-se uma das mais famosas do Vale do Paraíba. A Antoniella ficava ali na Praça da Preguiça, na região central de São José.
Muitas pessoas que lhe encontravam na loja, a reconheciam do carnaval de Caraguatatuba. Em 1993, vendeu a loja e foi trabalhar como corretora de imóveis. Depois de 15 anos na área decidiu parar de trabalhar.
Na conversa que tive com ela em 2015, Conceição lembrou com muito carinho do carnaval de antigamente: “Era muito legal, muito família…Desfilar na concha era ótimo…Depois do desfile a gente ia para o clube XV pular carnaval…Foi um período muito bom”, comentou ela. Conceição contou que continuava a frequentar a Caraguatatuba uma vez ao ano, sempre para rever os parentes.