A escritora Marília Passos, irá realizar uma sessão de autógrafos em Ubatuba, para o seu último lançamento: “Do mar, o sonho”, que se passa na vila de Picinguaba na década de 1940. O evento acontece na Livraria Nobel, na próxima quarta-feira (22), das 17h às 20h.
A escritora, de 44 anos, que nasceu em Campinas(SP), mas vive desde os 18 anos no Rio de Janeiro, revelou em entrevista ao Correio Popular, que o romance, “Do mar, o sonho”, foi viabilizado graças a um edital ProAC. A escritora disse ter ficado muito contente de ter conseguido publicar pois “era um sonho antigo escrever sobre comunidades caiçaras do litoral de São Paulo no período em que ficaram isoladas do resto do País, entre os séculos 19 e 20”.
Grande parte do livro se passa em Picinguaba, uma vila caiçara aonde seu avô chegou em 1970, antes da criação da Rio-Santos, se apaixonou pela cultura caiçara e a exuberância da natureza. “Desde então, minha história familiar está ligada ao povoado, vivi experiências marcantes ali. Por isso, tinha o desejo de fazer uma homenagem à vila”, enfatiza. Esse legado é central à narrativa do novo romance, publicado pela editora Labrador e com um roteiro de lançamentos em Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro. A obra terá 20% de sua tiragem distribuída em bibliotecas públicas e instituições culturais.
A autora guarda um carinho especial pela cidade litorânea e a cultura caiçara. No romance de formação com toques de realismo fantástico, o leitor acompanha a trajetória do jovem Deco e sua chegada nos anos 1940 à isolada vila de Picinguaba, em Ubatuba, após a trágica morte de seu pai.
“Após o sucesso de “Selvagem”, finalista do Prêmio Jabuti, mergulho em uma nova história cheia de magia e desafios, ambientada na vila de Picinguaba nos anos 1940. “Do Mar, o Sonho” é um romance que entrelaça história e cultura, retratando a vida em uma comunidade caiçara isolada, com toques de sonho e fantasia”, postou a escritora em suas redes sociais em novembro de 2024, quando o livro foi lançado.
Conforme a divulgação, a obra mescla a história real da vila com elementos ficcionais que recriam uma cultura repleta de causos e mitos que são transmitidos oralmente por gerações, preservando as tradições da floresta e destaca a formação de Picinguaba e os laços profundos que entrelaçam a cultura caiçara à história do Brasil.
O vilarejo se forma no final do século 19, quando famílias descendentes de escravizados libertos pela proprietária da Fazenda Picinguaba, Maria Alves de Paiva, passam a ocupar a região. Esse legado é central à narrativa do novo romance. Para narrar a vida de Deco, Marília se inspirou em relatos reais que ouviu da população local, misturando-os a aspectos subjetivos.
“Meu avô chegou em Picinguaba na década de 1970, antes da criação da Rio-Santos. Se apaixonou pela cultura caiçara e pela exuberância da natureza. Desde então, minha história familiar está ligada ao povoado. As experiências mais marcantes de minha vida vivi ali. Por isso, tinha o desejo de fazer uma homenagem à vila”, disse a autora, por meio da nota de divulgação.
Atriz
Marília estudou teatro, dança e literatura e começou sua carreira como modelo e atriz, atuando por dez anos em novelas (como Coração de Estudante, da Rede Globo em 2002), séries (como Mandrake, da HBO em 2005) e filmes (como Outro Negro). “Foi uma época bem especial, a realização de um sonho que cultivava desde as minhas aulas de teatro em Campinas. Mas, com o passar do tempo, comecei a me sentir insatisfeita com a profissão de atriz”, relembrou ela na entrevista concedida ao Correio Popular, quando do lançamento do livro “Do mar, o sonho” .
Seu primeiro romance foi “Azul e sombra” (2014), depois veio “A Natureza das Coisas” (2017) onde resgata muitas lembranças de sua infância em Campinas, seguido de “Intragável” (2019), “Selvagem” (2022) — finalista do Prêmio Jabuti e que consolidou a escritora como uma voz original e promissora da literatura —, o livro “Isadora” (2024), que conta a história de vida e arte de Isadora Duncan (1877-1927), considerada precursora da dança moderna, e o recém lançado romance, “Do mar, o sonho” (2024).
Picinguaba
A Vila de Picinguaba, tradicional reduto de pescadores, está localizada no Norte de Ubatuba, quase na divisa com Paraty, a 43 km do Centro. A partir da rodovia Rio-Santos, são mais 2,5 km em uma estradinha de pista bem estreita e com grande declive. É uma das praias de Ubatuba mas visitadas por turistas nacionais e internacionais.
A praia possuí pousadas e restaurantes e é ponto de partida para passeios até as ilhas praias vizinhas. A Vila de Picinguba pertence ao Núcleo Picinguaba, do Parque Estadual da Serra do Mar (PESM), em Ubatuba, é um dos únicos trechos do amplo corredor de preservação ambiental que atinge a cota 0, ou seja, chega ao nível do mar. A unidade de conservação administrada pela Fundação Florestal conta com cinco praias na região norte do município: Brava da Almada, Vila de Picinguaba, Fazenda, Cambury e Brava do Cambury.
Confira alguns trechos do livro:
“Os quatro homens, depois de olharem a rede toda, começaram a estendê-la na areia. Estava chegando a época das tainhas. Já tinha ouvido dizer que em Picinguaba o mar ficava talhado de peixe. A tainha vinha assim, na beira da praia, se oferecendo sem nenhum confronto.”
“— O que é um cerco?
— Não sabe o que é um cerco?
Reis fez que não e o homem achou graça.
—A gente faz um círculo no mar com a rede e deixa ela lá. O círculo tem entrada para o peixe, mas não tem saída. Quando a gente volta para pegar a rede, o peixe está dentro.”
“A mandioca não gostou da encosta, então eles tiveram que fazer um roçado longe da praia, onde chamaram de sertão, e construíram a casa de farinha por lá, assim não precisariam carregar a raiz para colocar no torno”.