Uma equipe do Corpo de Bombeiros e policiais civis de Caraguatatuba estiveram na manhã de quinta-feira, dia 26, na estrada do Pouso Alto no início da serra Tamoios após receberem uma denuncia informando que existia um cadáver abandonado nas encostas da serra do Mar, no interior do Parque Estadual da Serra do Mar, pertencente ao município de Caraguatatuba.
A localização do cadáver na encosta da serra do Mar teria sido feita pelos guardas parques que trabalham na fiscalização do Parque Estadual da Serra do Mar-Núcleo Caraguatatuba. Os guardas parques após verem o corpo dependurado entre as árvores da encosta do “buraco da onça”, no interior do Parque Estadual, acionaram a polícia civil e os bombeiros, para resgatar o corpo, que segundo informações preliminares, é de um homem.
Segundo as primeiras informações, o corpo estava “enroscado” entre as árvores da encosta, que é considerada pela polícia um dos principais locais para desova de cadáveres na região. Os bombeiros utilizaram técnicas de rapel para chegar ao corpo e resgatá-lo. O trabalho foi demorado e arriscado devido as condições do tempo no local.
O corpo estava numa profundidade de mais de 20 metros e estava em adiantado estado de decomposição .Segundo suspeitas, pode ser o corpo de A.M, de 51 anos, que estaria há alguns dias desaparecido na cidade de Caraguatatuba. O corpo, segundo informações extraoficiais, apresentava perfurações, semelhantes as causadas por arma de fogo.
Após o resgate, o corpo foi liberado para as investigações por parte da polícia civil, sendo em seguida, encaminhado ao IML(Instituto Médico Legal de Caraguatatuba). Caberá a polícia civil apurar as causas da morte do homem. Oficialmente, ainda não foi divulgado a identificação do cadáver e nem a causa de sua morte.
Vítimas
Nos últimos anos, pelo menos três corpos foram localizados no local. Em julho de 2014, lá foi localizado o corpo da cabelereira Tamires Ferraz, de 24 anos, de Caraguatatuba, que estava desaparecida há 30 dias.
Para resgatar Tamires, a equipe dos bombeiros levou mais de 4 horas devido as dificuldades para descer as encostas da serra do mar, com o uso de rapel e chegar ao local onde estava o corpo dela estava. O corpo estava em adiantado estado de decomposição e a vítima tinha uma corda amarrada ao pescoço. Tamires teria sido enforcada e o corpo lançado no “buraco da onça”. Foi preciso análises do DNA para a identificação do corpo.
Em junho de 2017, no mesmo local, foi localizado o corpo do jovem Lucas da Silva Santos, de 18 anos, um travesti de Caraguatatuba. o corpo foi encontrado envolto em um lenço, com um saco amarrado na cabeça. A vítima ainda tinha marcas de tiros no tórax e ombro, além de cortes de facão na nuca e no queixo.
Em outubro de 2021, foi encontrado no local o corpo de Claudenora Cristina Souza, de 36 anos, uma camareira de São Sebastião que estava desaparecida desde o dia 28 de setembro do mesmo ano. Ela teria sido assassinada por um policial civil de São Sebastião e o corpo dela jogado no “buraco da onça”.
Buraco
O “buraco da onça”, uma encosta localizada no Parque Estadual da Serra do Mar, em Pouso Alto, é um dos principais pontos de desova de cadáveres do Litoral Norte e Vale do Paraíba, segundo a polícia civil.
Há muitos anos, o local é considerado pelas polícias civil e militar como o principal ponto de descarte de vítimas de homicídios ocorridos no Vale e Litoral Norte. Ribanceira abaixo também são lançados, veículos furtados, corpos de animais e até produtos químicos nocivos à saúde.
O descarte de corpos, segundo a polícia civil e militar, é feito durante a noite e a madrugada para impedir a fiscalização dos guardas parques e das polícias civil e rodoviária. O objetivo é dificultar a localização e a identificação das vítimas.
O “buraco da onça” é um precipício de cerca de 200 metros de profundidade no interior do Parque Estadual da Serra do Mar, no bairro de Pouso Alto, no município de Natividade da Serra.
O acesso ao local é feito pela rodovia dos Tamoios, na altura do km 67, onde começa uma estrada que leva ao Pouso Alto. O “buraco da onça” fica a 1,5 km, a margem da estradinha que dá acesso ao Pouso Alto.
Risco elevado
Um bombeiro de Caraguatatuba, que já participou do resgate de um corpo no “buraco da onça”, disse que trabalhar no local é muito perigoso e exige técnicas especiais. Em períodos de chuva, segundo o bombeiro, a situação fica ainda muito mais complicada e oferece muitos riscos.
Segundo ele, trata-se de uma encosta íngreme que chega a ter 200 metros de profundidade até o seu ponto mais baixo. No meio da encosta, a 100 metros, existe um platô, onde normalmente os corpos de vítimas de homicídios são encontrados.
Para chegar ao platô, segundo ele, existem duas opções, seguir por uma trilha lateral, encosta abaixo, um acesso muito difícil, perigoso e demorado ou a descida de rapel.
O trabalho requer um trabalho de equipe, normalmente de 4 a 6 bombeiros. Eles descem de rapel e quando o corpo é localizado, é içado em uma maca cesto até o alto da encosta.
No buraco da onça, segundo ele, pode-se encontrar além de corpos de vítimas de homicídios, veículos e motos roubados, animais mortos, descarte de material de hospital e de produtos químicos nocivos à saúde e, também, muito lixo.
O bombeiro alertou ainda que uma das maiores preocupações, além dos riscos da descida, é com a possível contaminação por produtos químicos nocivos à saúde, entre eles, material que é descartado irregularmente por farmácias, clínicas e hospitais.