História e tradições do Quilombo do Campinho foram destaque no 10º Encontro de Cidades Históricas em Paraty

 

A história e as tradições do Quilombo do Campinho foram destaques durante a realização do 10º Encontro Brasileiro das Cidades Históricas Turísticas e Patrimônio Mundial realizado pela Unesco e encerrado ontem, sábado(5), em Paraty.

No segundo dia do encontro, a família do Sr. Valentim, mestre do Quilombo do Campinho, e as artesãs Sueli Martins Mariano, Aguimaria Martins Mariano, Catia Bento, Margarida Alves da Conceição e Rosangela Jota foram convidadas para conversar com o público sobre o tema ‘Comunidades Tradicionais: Artesanato e Ancestralidade’.

“A chance de mediar uma mesa nesse evento falando sobre artesanato, tradições, sabedoria, costumes e ancestralidade é semear uma semente que certamente irá germinar”, declarou Rosangela. “Agradeço muito às pessoas que apostaram em mim”.

Moradora do Campinho, Sueli também agradeceu pela oportunidade de contar sobre o seu trabalho. “Foi muito gratificante mostrar minha arte e compartilhar os usos da matéria-prima que escolho pras minhas peças. Eu colho a taboa, planta nativa de Paraty, no brejo, e conheço a importância dessa palha: é alimento, planta medicinal, pode ser colocada em telhados, pode ser até transformada em barco”.

Foi feita ainda uma visita técnica no Quilombo do Campinho, primeiro a receber a titulação no Rio de Janeiro, com os participantes conhecendo os saberes e fazeres das famílias quilombolas. O artesanato, técnicas de agroecologia e a casa da farinha encantaram os visitantes.

 

Participantes do encontro visitaram o quilombo do Campinho

 

Quilombo

O Quilombo Campinho da Independência está localizado entre os povoados de Pedra Azul e Patrimônio, à 20 km de Paraty, na região sul do Rio de Janeiro. É banhado pelo Rio Carapitanga e contém cachoeiras e matas pertencentes à mata atlântica. Cerca de 100 famílias vivem no quilombo.

Conforme contam os moradores da comunidade, o Campinho da Independência foi fundado por três irmãs: Antonica, Marcelina e Luiza. No século XIX, eram escravas que viviam dentro da casa grande da antiga Fazenda Independência e realizavam serviços privilegiados, tais como tecer, bordar e pentear para os brancos.

Com o fim da escravidão, as três irmãs receberam terras do senhor e continuaram vivendo onde hoje está localizada a comunidade do Campinho da Independência. Praticamente todos os moradores da comunidade são descendentes de uma dessas três mulheres.

 

 

Campinho da Independência foi a primeira comunidade quilombola do Estado do Rio de Janeiro a ter suas terras tituladas. Em 21 de março de 1999, os quilombolas do Campinho receberam da Fundação Cultural Palmares e da Secretaria de Assuntos Fundiários do Estado do Rio de Janeiro o título definitivo de seu território com 287,9461 hectares.

Ao longo das décadas de 1960 e 1970, os quilombolas de Campinho da Independência enfrentaram uma acirrada disputa por suas terras. A construção da rodovia BR-101 (Rio – Santos), entre os anos de 1970 e 1973, trouxe a supervalorização da área em que se encontra a comunidade.

Toda a região de Paraty passou a ser foco de interesse de empreendimentos turísticos, e, como conseqüência, grande parte da população tradicional foi expulsa de suas terras. Foi nessa ocasião que grileiros começaram a tentar se apossar das terras de Campinho. No entanto, a comunidade não aceitou essa expropriação e resistiu.

Em 1994 os quilombolas de Campinho da Independência fundam a Associação de Moradores do Campinho (AMOC) e começam, então, a exigir a titulação coletiva de suas terras. Em março de 1999 a área da comunidade foi finalmente titulada coroando mais de 30 anos de luta pelo direito à sua terra.

Embora a batalha pela titulação esteja vencida, os quilombolas ainda enfrentam o desafio da auto-sustentação. Ao longo de quase todo o século XIX, a comunidade viveu tranquilamente da agricultura, caça e extrativismo. Atualmente os moradores de Campinho não realizam mais a caça nem a coleta nas matas ao redor da comunidade. As atividades produtivas da comunidade são a agricultura e o artesanato.

As principais plantações são as de mandioca (utilizada para fazer farinha) e cana-de-açúcar (utilizada nos engenhos de cachaça). Além disso, são também plantados o feijão, o arroz e o milho.

O artesanato, feito com taboa, taquara e cipó, é produzido basicamente para a comercialização. Em 2001 foi construída uma casa de artesanato, onde o trabalho fica exposto para venda.

A comunidade também desenvolve um programa que denomina de turismo étnico. A comunidade mantém um sítio eletrônico com informações para turistas, onde são anunciadas as diversas atividades realizadas no local, como trilhas ecológicas e apresentações de danças típicas. A comunidade dispõe também de uma pousada para os visitantes.

No entanto, muitos moradores ainda continuam tendo que trabalhar nos condomínios de alto padrão localizados próximos à comunidade para completar a renda familiar. As mulheres costumam trabalhar como empregadas domésticas e os homens como caseiros.

Assim, o maior desafio dos quilombolas de Campinho é a busca de alternativas de geração de renda que possam ser desenvolvidas no seu próprio território. É para isso que a Associação de Moradores de Campinho vem lutando. Com informações do ICMBio.

 

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