Artigos científicos internacionais, feitos com base em relatórios e estudos clínicos, indicam que o canabidiol pode ter ação antiviral, além de ajudar no tratamento de estresse pós-traumático comum entre pacientes pós-Covid
Anticonvulsivante, antinflamatório, antidepressivo e, ao que parece, antiviral também. Quanto mais a ciência estuda o canabidiol (CBD), mais descobertas faz quanto à sua aplicabilidade na medicina. Novos estudos reforçam a eficácia do composto presente na planta, agora, para o tratamento de complicações infecciosas decorrentes da Covid-19 e para o tratamento da síndrome do estresse pós-traumático resultante da doença. Artigos científicos publicados recentemente pelo International Journal of Molecular Sciences e pela National Library of Medicine enaltecem os benefícios alcançados pelo canabidiol, seja no combate a doenças do aparelho respiratório, seja no fortalecimento de propriedades cardioprotetoras, nefroprotetoras, hepatoprotetoras, neuroprotetoras e anticonvulsivantes – além do enorme potencial terapêutico que possui.
Antiviral
No caso do International Journal of Molecular Sciences, o tema foi destaque de uma publicação de fevereiro, assinada por cientistas da Universidade de Bonn (Alemanha) e da Universidade Médica de Białystok (Polônia). Eles examinaram a adequação do CBD como antiviral contra SARS-CoV-2 e, também, como agente de prevenção e tratamento de estados da doença em ambientes pré-clínico e clínico. Os trabalhos foram desenvolvidos com base em relatórios científicos e estudos de campo, a fim de avaliar vantagens e desvantagens do uso do canabidiol no combate à Covid-19. Os resultados foram bastante animadores e deram sinal verde para o aprofundamento das pesquisas – conforme sugerido pelos próprios cientistas.
De acordo com os autores do estudo, o CBD de fato demonstrou reduzir as proteínas responsáveis pela entrada do vírus e inibir a replicação do SARS-CoV-2. Com relação aos efeitos terapêuticos, a conclusão foi que o canabidiol pode ser eficaz para melhorar a qualidade de vida de pacientes com COVID-19 e também limitar os sintomas de estresse pós-traumático.
De ressalvas, os pesquisadores indicaram apenas possíveis efeitos colaterais do CBD (que raramente são graves, segundo o próprio estudo) e a necessidade do conhecimento das interações medicamentosas (também estendendo-se aos medicamentos que atuam contra COVID-19). Também fizeram um alerta quanto à vaporização do canabidiol, que não é recomendada.
Síndrome do Estresse Pós-traumático
Também publicado em fevereiro, pelo International Journal of Molecular Sciences, um artigo assinado por cientistas dos Estados Unidos (Artelo Biosciences), Reino Unido (University of Nottingham) e Canadá (University of Western Ontario) concluiu que o CBD pode ser uma nova opção terapêutica ao tratamento de casos de estresse pós-traumático, relacionados ao Covid.
Os cientistas defenderam o aprofundamento das investigações e testes com o derivado do cannabis sativa por meio de ensaios clínicos randomizados e controlados.
Entre os principais benefícios identificados no estudo, foram destacados: o valor terapêutico para melhorar o sono (aumento da duração/qualidade do sono e redução de pesadelos), a depressão, e a ansiedade, comorbidades frequentes pós-covid.
Medicina canabinoide
Especialista em medicina canabinoide, a médica Maria Teresa Jacob acredita que, não somente o CBD, como outros componentes da cannabis sativa, podem ser aliados no tratamento complementar da covid-19, pelos efeitos anti-inflamatórios, ansiolíticos, antidepressivos, reguladores do sono, entre outros que demonstram.
“No caso da Covid, estudos preliminares apontam que a cannabis atenua as complicações respiratórias. Os pacientes com quadros de COVID-19 mais graves, ou que necessitam internação em UTI, apresentam níveis elevados das citocinas. Além das citocinas inflamatórias serem responsáveis pela síndrome do desconforto respiratório elas parecem fazer parte do desenvolvimento da fibrose pulmonar, complicação de difícil tratamento. Desta forma, a canabis poderia ser útil se adicionada às terapias anti-inflamatórias que existem atualmente para o tratamento da COVID-’19”, observa Maria Teresa Jacob.
Além disso, segundo ela, a prevalência de sintomas ansiosos e a Síndrome do Estresse Pós-traumático têm sido frequentes em consequência da pandemia, principalmente nas pessoas afetadas pela doença. “O canabidiol (CBD) tem se mostrado eficaz no tratamento destas patologias de forma mais segura, com menor incidência de efeitos colaterais e com início de ação mais precoce do que os tratamentos tradicionais. Desta forma, o CBD e outras substâncias presentes na planta, poderiam ser uma nova opção farmacológica para o quadro pulmonar e, também, para o tratamento das doenças de saúde mental relacionadas ao Covid-19”.
Ainda assim, a especialista defende estudos clínicos mais aprofundados. “Se bem desenhados, eles se tornam necessários, e os prescritores devem estar atentos às possíveis interações medicamentosas pelo efeito do CBD nas enzimas hepáticas”, ressalta a médica.
Maria Teresa também crê que as substâncias da cannabis possam ajudar no controle da dor persistente, distúrbios do sono, sensação de fadiga e distúrbios do apetite que com frequência permanecem após o quadro agudo.
Por isso, a exemplo de muitos cientistas, concorda que os estudos sobre o uso da cannabis continuem ocorrendo. “É importante que esses trabalhos avancem cada vez mais, tendo em vista a enorme aplicabilidade já verificada para o tratamento de diversas patologias e, agora, em especial, ao Covid-19 e às doenças psíquicas consequentes”.
Sobre a Dra. Maria Teresa Jacob
Atua há alguns anos em Medicina Canabinoide em diferentes patologias e no tratamento da Dor Crônica, desde 1992, em sua clínica privada localizada em Campinas. É formada pela Faculdade de Medicina de Jundiaí, em 1982, com residência médica em Anestesiologia no Instituto Penido Burnier e Centro Médico de Campinas. Tem especialização em Cannabis Medicinal e Saúde, pela Universidade do Colorado, e em Cannabis Medicinal, por meio de curso coordenado pela Dra. Raquel Peyraube, no Uruguai. Também é pós-graduanda em Endocanabinologia, Cannabis e Endocanabinoides, pela Universidade de Rosário, Argentina. Além disso, possui Título de Especialista em Anestesiologia, Título de Especialista em Acupuntura e Título de Especialista em Dor. Também tem especialização em Dor, pela Clinique de la Toussaint, de Strassbourgo – França (1992) – e é membro da Society of Cannabis Clinicians (SCC), da International Association for Canabinoid Medicines (IACM), da Sociedade Internacional para Estudo da Dor (IASP), da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED), da Sociedade Internacional de Dor Musculoesquelética (IMS) e da Sociedade Europeia de Dor (EFIC).