Moradores de Cipó, na Bahia, superam os de Pombal, na Paraíba, no comércio ambulante em praias de Caraguatatuba e Ubatuba. Eles são atraídos por “comerciantes” para trabalharem nas praias durante o verão, recebendo alojamento de graça, mas se responsabilizando pelos gastos com transporte e alimentação
Fim da temporada de verão no Litoral Norte. E, mais uma vez, centenas de moradores do Nordeste retornam às suas cidades de origem depois de trabalharem como ambulantes nas praias da região ao longo do verão. A maioria deles, retornou após o carnaval, alguns, ainda permanecem por aqui.
Na década de 90 mais de 300 moradores da cidade de Pombal, na Paraíba, percorriam cerca de 3 mil quilômetros durante dois dias em um ônibus para venderem suas redes nas praias de Caraguatatuba e Ubatuba. Hoje, apenas 15 deles ainda mantém essa tradição nas praias da região.
Há cerca de três anos, os pombalenses estão sendo substituídos no comércio ambulante nas praias pelos cipoenses, moradores da cidade de Cipó, na Bahia. Na temporada de verão deste ano, mais de 200 deles viajaram cerca de 2 mil quilômetros para vender cangas e copos térmicos nas praias de Caraguatatuba e Ubatuba.
Redes
As tradicionais redes que foram sucesso de venda nas décadas de 80 e 90, há alguns anos já não atraem mais os banhistas nas praias paulistas. Nas décadas de 80 e 90 mais de 300 vendedores atuavam nas praias do Litoral Norte, agora, são cerca de 15 ambulantes.
Eles viajaram 2695 km, percorridos em dois dias de ônibus, para chegarem em Caraguatatuba, onde ficaram alojados em casas no bairro da Ponte Seca, de onde saiam diariamente para vender suas redes nas Prainha, Martim de Sá e Tabatinga e em praias de Ubatuba. No passado, o lucro era bem maior, pois não haviam produtos concorrentes nas praias.
Nos anos 2.000 outros produtos começaram a aparecer nas praias paulistas. Entre eles, o CD clandestino, carregadores e capinhas de celular, caixinhas de som e, mais recentemente, cangas e copos térmicos, por sinal, a grande sensação do verão deste ano.
“Nas décadas de 80 e 90, cerca de 10 carretas de rede vinham de Pombal para o Litoral Norte para garantir o estoque dos 300 ambulantes. Hoje, no máximo, duas carretas chegam ao longo de toda a temporada”, conta o ambulante Raimundo Filho, o “Neguinho”, há mais de 20 anos vendendo rede nas praias da região.
O ambulante Manoel Araújo, de 37 anos, também, de Pombal e colega de Neguinho, afirma que as redes ficaram mais caras, por isso, diminuiu o número de vendedores, Ele vem todos os anos, há vinte anos, fica alojado na Ponte Seca e só vai embora quando termina o verão.
“As vendas não são como antigamente, novos produtos fazem concorrência, entre eles, o tal do copo térmico, mas não podemos reclamar, dá para ganhar um dinheirinho”, garante. Ele carrega cerca de 20 quilos de rede nas costas, das 8 às 17 horas, todos os dias. Os preços variam de R$ 70 a R$ 150,00.
Segundo ele, como banca o alojamento e a alimentação, as vezes, vende uma rede quase que pelo preço de compra para poder garantir a alimentação. “Compro as redes do patrão e vendo pelo preço que entendo ser justo”, contou. Araújo não quis revelar qual é o preço de custo de cada rede que vende.
Araújo disse que vem para Caraguatatuba sozinho, deixando a mulher e os filhos em Pombal. O objetivo é trabalhar no verão para garantir o sustento da família que permanece no Nordeste. Nos últimos dois anos, além da tradicional rede de descanso, alguns pombalenses oferecem também capas para sofás.
Para complicar ainda mais a vida dos vendedores de redes nas praias paulistas, as confecções que fabricam o produto em Pombal e cidades vizinhas, como São Bento, na Paraíba, recorreram as vendas online.
A rede Dutra têxtil, da cidade de Pombal, Iniciou as vendas online em 202, atendendo todo o país, oferecendo alta variedade, qualidade e conforto a preços acessíveis. Segundo a empresa, as redes são de alta qualidade, artesanais, produzidas em fios de algodão. A entrega é feita pelos correios.
Concorrentes
Nos últimos dois anos, cerca de 200 moradores da cidade de Cipó, na Bahia, são atraídos para trabalharem como ambulantes nas praias de Caraguatatuba e Ubatuba.
Cipó, na Bahia, é uma cidadezinha que fica no sertão baiano, a 206 quilômetros de Salvador e tem cerca de 17 mil habitantes. Adultos, adolescentes e crianças percorreram mais de 2 mil quilômetros de distância para trabalharem durante o verão nas praias de Caraguatatuba.
A “contratação” dos cipoenses para trabalhar nas praias de Caraguatatuba na temporada de férias, segundo os ambulantes, teve início na temporada de 2022. Nenhum deles tinha carteira assinada ou qualquer tipo de contrato de trabalho assinado.
De ônibus, são mais de 48 horas de viagem entre Cipó e Caraguatatuba. O grupo chegou em outubro e novembro, ficou alojados em casas no bairro da Casa Branca e, segundo consta, a maioria retornou para Cipó após o carnaval.
Em Caraguatatuba, receberam alojamento de graça, mas tiveram que custear os gastos com alimentação e outras despesas, a partir da venda de “cangas” e outros produtos, como copos térmicos. Praticamente, nenhum deles possuía alvará da prefeitura para trabalhar nas praias de Caraguatatuba ou de Ubatuba. Alguns deles, se aventuraram em vender seus produtos em praias de Ubatuba. Se a fiscalização apreendesse os produtos, tiveram que repor em dinheiro ao intermediário o valor referente ao que foi apreendido.
A aventura tem valido a pena. Segundo Terezinha, de 32 anos, que há dois anos vem de Cipó para Caraguatatuba trabalhar como ambulante nas praias, juntamente, como o marido Luciano, em sua cidade são poucas as opções de trabalho. ” Lá, a única opção é trabalhar na lavoura, nas confecções de cangas e estante de tecidos, não tem outras opções. Aqui, o trabalho é cansativo, mas lucrativo”, contou.
Ela contou que nas praias da Bahia os produtos como a canga, por exemplo, não tem tanta saída e que nas praias de São Paulo o lucro é bem maior, apesar das despesas com transporte e alimentação. Ela e o marido ficaram alojados em uma casa no bairro da Casa Branca.
Segundo ela, a venda de copos térmicos foi bastante lucrativa neste verão. “Tem sido sem dúvida nenhuma a grande sensação do verão. Chegou as praias da região no final do verão passado, mas na atual temporada virou “uma febre”. Vendo em média 20 unidades por dia”, contou Terezinha, na véspera do carnaval, quando percorria as areias da praia Martim de Sá.
Um copo térmico, réplica da original inglesa “Stanley”, vem se transformando no grande objeto de desejo por parte dos turistas que frequentam as praias do Litoral Norte neste verão 2023. Foto: Ambulante Terezinha vendendo o produto na praia Martim de Sá, em Caraguatatuba.
O copo térmico teria sido o produto mais comercializado pelos ambulantes que percorrem as praias de Caraguatatuba e Ubatuba durante a temporada de verão 2023. Os preços variavam de R$ 50 a R$ 80,00 a unidade. O original pode ser adquirido pela internet por cerca de R$ 250,00.
Segundo consta, o copo térmico surgiu na segunda guerra mundial e conquistou os usuários a partir do final do verão de 2022, quando começou a ser oferecido pelos sites de venda na internet.
Segundo os ambulantes, o copo térmico mantém a bebida gelada por cerca de 4 horas mesmo debaixo de sol e forte calor. O copo em aço inoxidável, de 473 ml, possui parede dupla com isolamento a vácuo, mantendo a preservação térmica das bebidas sendo por até 4 horas gelado.