Um projeto de lei de autoria deputado estadual Heni Ozi Cukier(Podemos) pretende acrescentar o nome do ex-banqueiro Joseph Safra, falecido em 2020, à rodovia dos Tamoios, que liga São José dos Campos até Caraguatatuba.
O projeto deu entrada na assembleia Legislativa em setembro do ano passado. Foi colocado em regime de urgência em 7 de fevereiro deste ano e aprovado, com emenda, pelas comissões da casa. Deputados do PSOL e PT se posicionam contra a inclusão do nome do ex-banqueiro fundador do Banco Safra na identificação da SP-99.
Heni, autor da propositura, saiu candidato a deputado federal, mas não se elegeu. Em sua justifica ele alega que quer acrescentar à Rodovia dos Tamoios a alcunha “Joseph Safra” em homenagem a Joseph Safra que nasceu em Beirute, no Líbano, filho de Jacob e Esther Teira Safra. A família de origem judaica imigrou para o Brasil na década de 60, e desde novo se destacou nos negócios, se tornando um grande banqueiro.
Segundo Henri, o sobrenome Safra é extremamente reconhecido no mundo da filantropia. A família sempre contribuiu financeiramente em iniciativas nas mais diversas áreas, desde as artes, a medicina e em ações sociais na comunidade judaica.
Consta que Joseph Safra foi um dos principais doadores dos hospitais paulistanos Albert Einstein e o Sírio Libanês, além de apoiar associações beneficentes como a Fundação Dorina Nowill para Cegos, o GRAAC, a Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer, a Associação de Assistência à Criança Deficiente, a APAE e a Casa HOPE.
Na justificativa, não consta nenhuma ligação entre o banqueiro e sua família com o Litoral Norte. Entramos em contato com a assessoria do deputado, cobrando informações sobre o tramite do projeto, mas não tivemos retorno. Caso o deputado se manifeste, anexaremos suas informações ao texto original.
Deputados do PT, PSOL e PC do B se articulam para barrar a proposta. A deputa Márcia Lia(PT) garantiu que votará contra a proposta de Heni Ozi Cukier(Podemos) por entender que rodovia homenageia os Tamoios, indígenas que habitavam o litoral paulista que foram dizimados na Confederação dos Tamoios, uma investida dos colonizadores portugueses em busca de escravos.
Tamoios
A rodovia dos Tamoios foi aberta ao tráfego em 1935. Até então o acesso entre o Vale e o Litoral Norte era feito apenas pelos tropeiros, que faziam a continuação da viagem, que terminava em Paraibuna. Os ônibus saíam de São José e iam apenas até Paraibuna. A descida da serra só era possível nos lombos dos burros ou cavalos ou a pé, por picadas, que cortavam as matas e os morros em direção a Caraguatatuba.
A construção da estrada foi iniciativa do capitão Edgard Armond. A ideia, na época, já era aproveitar melhor os recursos oferecidos pelo porto natural de São Sebastião. A Secretaria Estadual da Viação autorizou a construção e o seu traçado em 1932. Foi criada a Companhia Independente de Sapatadores, sob o comando do capitão Armond, para tocar as obras, que começaram por Paraibuna, seguindo em direção a Caraguatatuba. A estrada, no trecho entre Caraguá e o alto da serra, foi concluída em 1935, sendo inaugurada pelo engenheiro Vicente Huet Bacelar.
Ao longo dos anos, a Tamoios recebeu inúmeras melhorias, que acabaram agilizando o acesso entre o Vale do Paraíba e o Litoral Norte. Na década de 80, o Estado tentou implantar a rodovia do Sol, um novo traçado entre o vale e o litoral, mas a ideia foi rechaçada pelos ambientalistas. Em 2015, foi iniciada a duplicação da Tamoios. Em março de 2022, foi concluída a duplicação do trecho de serra, com a rodovia se transformando numa das mais modernas e seguras do país. Trafegam pela Tamoios diariamente cerca de 35 mil veículos.