Tragédia de São Sebastião é a segunda maior já registrada na história do Litoral Norte

Tromba d’água em 1967 destruiu parcialmente Caraguatatuba causando mais de 500 mortes

Segundo dados divulgados pelo Governo do Estado, 36 pessoas morreram e cerca de 50 ficaram feridas na tragédia causada pelas fortes chuvas de sábado(18) e domingo(19), que atingiram as cidades do Litoral Norte.

 

Um total de 35 pessoas morreram nos bairros da costa sul em São Sebastião. Uma menina de 7 anos morreu no bairro Estufa II, em Ubatuba. Equipes dos bombeiros, do exército e policiais militares ainda vasculham áreas soterradas na costa sul de São Sebastião em busca de sobreviventes.

 

O número de desalojados chega a 1.730 desalojados e 766 pessoas estão desabrigadas. Cerca de 40 pessoas permanecem desaparecidas na região sul de São Sebastião, a mais atingida pelas chuvas de sábado e domingo.

 

Morro do Esquimó, em Juquehy

 

Os números comprovam que a tragédia em São Sebastião trata-se do segundo maior desastre natural ocorrido na região desde a catástrofe que ocorreu em Caraguatatuba em 1967, que causou a morte de mais de 500 pessoas, na época.

Catástrofe

 

 

A cidade de Caraguatatuba foi atingida por uma tromba d’água no dia 18 de março de 1967. Após 13 horas de chuvas, as encostas da serra do mar deslizaram sobre a cidade, destruindo casas e soterrando moradores e animais. Cerca de 30 mil árvores desceram das encostas dos morros, acompanhadas de muita lama e pedras. A cidade ficou ilhada por três dias, com acessos interrompidos, sem luz e sem energia.

 

Em dois dias (17 e 18 de março de 1967) a precipitação pluviométrica foi de 580 milímetros, ou seja, choveu em Caraguatatuba em apenas dois dias a quantidade de chuva acumulada de seis meses.

 

 

Segundo um dos maiores especialistas mundiais em mecânica de solos e fundações, o professor Artur Casagrande, que na época prestava assessoria aos EUA, Índia e Suíça: “Nunca vi coisa igual na minha vida. Isso só ocorre a cada milênio. O que ocorreu em Caraguatatuba foi um evento natural- tromba d’água fato raro, raríssimo. Na história do Brasil nunca ocorreu nada igual”.

 

Política habitacional

 

Hoje, as tragédias são anunciadas. As vítimas são moradores que sem condições financeiras de terem uma moradia digna, ocupam áreas de risco, nas encostas ameaçadas dos morros que circundam a maioria de nossas cidades. Inexistem políticas municipais habitacionais para alojar quem ocupa áreas de risco. Se existem, são poucas, sem condições de atender o grande número de pessoas que aguardam por uma moradia popular.

 

A prefeita de Ubatuba, Flávia Paschoal, disse em entrevista à CNN, que a morte da criança de 7 anos que morreu no bairro Estufa II poderia ter sido evitada. Segundo ela, a prefeitura tentou retirar a família da área de risco, mas não conseguiu. É que a família seria transferida para uma escola. A família se recusou a deixar o local porque iria ser alojada em uma escola. Se a prefeitura ou o Estado liberassem uma casa, em definitivo e, em um local seguro, a família certamente deixaria a área de risco.

 

O que chama a atenção é que a maioria dos prefeitos está mais preocupado com a revisão do plano diretor, em liberar áreas que devem ser preservadas, beneficiando a especulação imobiliária e a construção de condomínios particulares. Projetos de drenagem, para evitar alagamentos e enchentes e construção de casas populares, para abrigar famílias que ocupam áreas de risco, não atraem muito os prefeitos.

 

Em 2012, o governo do estado previa dar prioridade a três cidades do litoral norte: São Sebastião, Ubatuba e Caraguatatuba, para remover 3.392 famílias que vivam em áreas de risco. São Sebastião e Ubatuba concentravam o maior número de moradias irregulares identificadas no interior dos parques estaduais. Em São Sebastião, existiam 389 habitações – a maioria nas proximidades das praias da Barra do Sahy e Juquey.

 

Em 2020, o prefeito de São Sebastião quis construir um conjunto habitacional em Maresias. Felipe Augusto pretendia fazer 200 casas, boa parte delas destinadas as famílias que viviam em áreas de risco no bairro.

 

“Temos um déficit habitacional de 503 casas em áreas de risco ou de preservação que já estão cadastradas na prefeitura. Dessas 503 vamos atender inicialmente 220 nesse terreno em Maresias, que tem 25 mil metros quadrados, mas que vamos utilizar 15 mil metros para a construção das casas”, contou o prefeito, durante uma reunião com empresários e moradores de Maresias.

 

A pressão foi tão grande por parte da sociedade amigos de bairro e da própria imprensa local, que o projeto não saiu do papel. Imagine, construir casa para pobre na badalada Maresias!!! É claro que jamais aceitariam, pois o conjunto habitacional poderia desvalorizar os imóveis da badalada praia. A população pobre, mais digna de Maresias, Juquehy, Sahy e outras praias do litoral norte, são “obrigadas” a buscar moradia nas encostas dos morros, em áreas de grande risco.

 

Em visita hoje (20) ao município de São Sebastião, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, garantiu a reconstrução de casas atingidas pelos temporais, “desde que em áreas consideradas seguras e aptas para moradias”. O presidente lembrou que há municípios brasileiros que registraram tragédias semelhantes há cinco, seis ou sete anos e que, ainda assim, o problema habitacional das famílias afetadas não foi resolvido.

 

Lula pediu ao prefeito Felipe Augusto, auxílio para mapear as localidades em que a Defesa Civil atesta segurança para a construção de casas. “Desta vez, vai acontecer de verdade. Só arrumar terreno mais seguro”, disse. “Vocês vão voltar a ter um ninho, para cuidar da família de vocês”, completou. O presidente Lula, quando eleito, disse que voltou para incluir o pobre no orçamento da União. Os prefeitos deveriam incluir os pobres em seus projetos habitacionais. Porque não?

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