A praia Martim de Sá, uma das mais frequentadas de Caraguatatuba, vem sofrendo uma erosão muito aguda devidos as ressacas ocorridas nos últimos dois anos. Esse fenômeno também ocorre em outras duas praias da cidade, Massaguaçu e Mococa.
Considerada a “Copacabana” da cidade, a Martim de Sá, já teria “perdido” entre 20 a 30 metros de sua faixa de areia devido ao avanço do mar que além derrubar coqueiros, reduz o espaço entre quiosques e o mar. Confira como a praia está atualmente no vídeo e em algumas fotos:
O veranista Luiz Gustavo, de São José dos Campos, frequentador da praia, disse que se surpreende todas as vezes que visitau a Martim de Sá nos últimos dois anos. “O avanço do mar está cada vez mais reduzindo a faixa de areia”, comentou.
A ambulante Diane Santos, que vende canga na praia há oito anos, disse que o processo de erosão (redução da faixa de areia) foi maior ao longo deste ano. “As ressacas ocorram mais vezes e bem mais fortes”, afirmou.
O comerciante Antônio Barbosa, de 90 anos, há 19 anos na Martim de Sá, disse que este ano ocorreram as ressacas mais violentas desde que se estabeleceu na praia. Segundo ele, em agosto, o mar avançou sobre o quiosque e chegou na avenida Aldino Schiavi, a principal da orla da Martim de Sá.
Especialista
O noticiasdaspraias.com . entrevistou a Profª Dra Célia Regina de Gouveia Souza, do Instituto Geológico de São Paulo, umas das maiores especialistas em erosão praial no país e coordenadora da Plataforma de Comunicação de Riscos Costeiros para o Litoral de São Paulo (Redecost), para explicar aos seus leitores o que estaria ocorrendo na praia mais badalada de cidade.
A professora Célia estuda o litoral paulista desde 1992 e tem conhecimento sobre eventos ocorridos na orla paulista desde 1962, através de fotos e mapas aéreos. Ela conhece muito bem a Martim de Sá, bem como, as praias de Massaguaçu e Mococa.
Martim
Segundo ela, a Martim de Sá sofreu fenômenos fortes ao longo deste ano, como uma sobre elevação do mar acompanhado de uma ressaca em fevereiro; em abril, duas ressacas acompanhadas de sobre elevação do mar; em julho, três ressacas muito agressivas e nos meses seguintes, ressacas menores. “A praia perdeu sedimentos(areia) e ainda não teve tempo de se recuperar. A tendência é que se recupere naturalmente, mas é preciso saber como a maré irá se comportar nos próximos meses”, explicou.
A professora Célia destacou que as ressacas são tradicionalmente comuns entre abril e setembro, mas nos últimos anos, elas têm ocorrido também em outros e com muito mais intensidade. Ela cita como exemplo, a sobre elevação do mar que ocorreu em fevereiro deste ano, em pleno verão, que invadiu toda a orla e “expulsou” todo mundo da praia. “Foi surpreendente. O mar subiu quase dois metros”, revelou.
A sobre elevação- quando o mar avança sobre a costa e chega até atingir as avenidas, como ocorreu na Martim de Sá e em outras praias, teria sido provocada por um ciclone. “A sobre elevação nem sempre vem acompanhada de agitação marítima, mas também causa danos a praia”, disse.
“A maré se eleva e avança, quando retorna, traz com ela os sedimentos (a areia da praia). Esse sedimento(areia), retorna com o tempo, mas a praia (Martim de Sá) não teve tempo de se recompor ainda devido aos constantes fenômenos que vem ocorrendo”, detalhou.
Segundo ela, as ressacas quando acompanhadas de sobre elevação e agitação marítima são muito mais agressivas e provocam danos muito mais graves nas praias, devido a força dos ventos e da maré. É o que tem ocorrido na Martim de Sá.
Estatísticas
Célia destacou que 52% das praias paulistas apresenta erosão costeira provocada pelas ressacas. Entre 1928 e 2020, foram registrados 275 eventos intensos no litoral paulista. Entre 1928 e 1999, registrou-se 72 fenômenos de sobre elevação do mar. Na última década, foram constadas 41 ressacas no litoral paulista, todas elas mais fortes e mais duradouras. Segundo Célia, antes, as ressacas duravam cerca de 1,4 dia, atualmente, dois dias. Entre as causas, estaria as mudanças climáticas.