Uma tartaruga-verde, conhecida cientificamente como Chelonia mydas, marcada pelo Tamar, em 2001, quando jovem em Ubatuba(SP), no Litoral Norte Paulista, foi reencontrada 24 anos depois, já adulta, desovando na Praia da Quixabinha, em Fernando de Noronha (PE).
O fato da tartaruga ter sido reencontrada 24 anos depois é considerada importantíssima para a história da conservação marinha no Brasil, segundo o Tamar. É a primeira vez que a Fundação Projeto Tamar registra uma tartaruga marcada em área de alimentação(em Ubatuba(SP), sendo identificada, tantos anos depois, em uma área de reprodução( na praia de Quixabinha, em Fernando de Noronha(PE).

Segundo o Tamar, a tartaruga foi marcada em janeiro de 2001, após ser capturado acidentalmente por pescadores da Praia do Camburi, em Ubatuba. Na época, pesava 13 kg e media 49 cm de carapaça. Recebeu duas marcas metálicas e foi devolvido ao mar. Agora, foi reencontrado com 103 cm, o dobro do tamanho, colocando ovos no arquipélago de Noronha.
Apenas por curiosidade, a distância em linha reta através do mar, entre Ubatuba(SP) e Fernando de Noronha(PE), é de aproximadamente 2.567 quilômetros. O Tamar, em Ubatuba, teve inicio em 1991. O Projeto Tamar iniciou suas atividades de pesquisa e conservação em Fernando de Noronha em 1984 e o seu Centro de Visitantes foi inaugurado em 1996.
Segundo o Tamar, o feito reforça a importância do trabalho de monitoramento realizado em Ubatuba, onde o projeto atua desde 1991. Com apoio dos pescadores locais, mais de 12 mil tartarugas já foram marcadas e devolvidas ao mar. Além de confirmar uma das origens das tartarugas verdes juvenis da costa brasileira, estes registros também trazem outras informações significativas para a pesquisa científica, como a durabilidade das marcas de aço-inox utilizadas, ratificando a validade desta metodologia em pesquisas de longo prazo.
Para avançar nos estudos sobre estes animais tão incríveis, longevos, de ciclo de vida complexo, desenvolvido em diferentes zonas dos oceanos, são necessárias pesquisas de longa duração, com a padronização da metodologia de coleta de dados e o compartilhamento das informações. O reencontro também comprova a durabilidade das marcas e a eficiência da metodologia em pesquisas de longo prazo.
Esse emocionante reencontro com a tartaruga marcada em Ubatuba não foi o único destaque recente nos registros do Tamar. Uma outra tartaruga-verde, marcada em 2010 na Praia do Forte, no litoral norte da Bahia, também foi identificada desovando em Fernando de Noronha. Quando foi marcada, há 14 anos, ainda era jovem e media 79cm de carapaça. Além de ser a principal área de desova de tartarugas-de-pente no Brasil, Praia do Forte é uma área reprodutiva para outras três espécies de tartarugas marinhas e também uma importante área de alimentação para as tartarugas verdes.
Agora, com registros destas tartarugas desovando em Noronha, amplia-se ainda mais a compreensão sobre as migrações dessa espécie e os vínculos entre diferentes áreas costeiras brasileiras. Segundo o Tamar, é a natureza mostrando sua conexão entre os territórios: Ubatuba, Praia do Forte e Fernando de Noronha unidas pelas rotas migratórias destas tartarugas-verdes.
Não se sabe ao certo a idade das tartarugas, mas é sabido que esta espécie, a Chelonia mydas, pode levar mais de 30 anos para atingir a idade reprodutiva! Estudos de genética realizados no final dos anos 90, mostraram que as tartarugas verdes encontradas em Ubatuba compõem um chamado “estoque mixto”, reunindo tartarugas juvenis de origens diversas no Atlântico. A maioria delas, nascidas na llha de Ascencion, a cerca de meio-caminho entre Brasil e o continente africano. Outras, provenientes de áreas de desova na llha de Trindade/ES, Atol das Rocas/RN, Fernando de Noronha/PE, Suriname, Venezuela e até mesmo no Caribe. Fotos: Tamar