Estudos foram realizados durante 16 meses em mais de 7.000 quilômetros e 306 praias. Foto capa: plásticos depositados pela maré em praia de Caraguatatuba(SP)
Você já parou para pensar no destino do seu lixo? A cada garrafa de plástico descartada, a cada embalagem jogada no chão, contribuímos para uma crise ambiental global. Observando de perto o crescente aumento de acúmulo de lixo nas praias brasileiras, a Sea Shepherd Brasil idealizou uma grande expedição científica pela costa do país. Realizado em parceria com o Instituto Oceanográfico da USP e com o patrocínio da Odontoprev, o estudo percorreu todo o litoral brasileiro para detalhadamente mapear a poluição por plástico e outros resíduos. Os resultados são alarmantes e revelam a urgência de mudarmos nossos hábitos de consumo.
O estudo chamado Expedição Ondas Limpas, realizado no ano passado, pela Ong Sea Shepherd Brasil em parceria com o Instituto Oceanográfico da USP (Universidade de São Paulo) apontou as praias com mais densidade de microplásticos e macroplásticos do país e do estado de São Paulo.
Microplásticos são pequenos fragmentos de plástico, com menos de 5 milímetros de diâmetro, que resultam da degradação de objetos plásticos maiores, ou que são fabricados diretamente nesse tamanho (como em cosméticos). Os microplásticos podem ser degradação de plásticos de produtos de beleza e higiene pessoal como esfoliantes, shampoos, sabonetes, pastas de dente, delineadores, desodorantes e protetores labiais sob a forma de polietileno (PE), polipropileno (PP), politereftalato de etileno (PET) e nylon.).
Macroplásticos são partículas de plástico de tamanho superior a 5 milímetros (mm) ou 25 mm, dependendo da definição utilizada. Eles são visíveis a olho nu e incluem objetos como sacolas plásticas, garrafas, embalagens e outros resíduos plásticos de maior dimensão. São sacolas, garrafas, canudos, embalagens, fraldas, copos descartáveis e muitos outros.
Os impactos causados pela presença de Os microplásticos ou macroplásticos chegam aos oceanos e praias por causa do descarte irregular e inadequado de embalagens, que através da chuva e do vento, através de córregos e rios, chegam ao mar e as praias, afetando a natureza e colocando em risco a vida de animais marinhos e das pessoas.
A Expedição Ondas Limpas percorreu durante 16 meses mais de 7.000 quilômetros e 306 praias. O resultado: em 100% das praias foram encontrados resíduos plásticos e em 97% delas, micropásticos. Ao longo das 306 praias analisadas, foram encontrados 16 mil fragmentos de microplástico e 72 mil macrorresíduos. Em média, as praias brasileiras contêm 4,5 microplásticos por metro quadrado e 0,5 macrorresíduo por metro quadrado, ou seja, 1 resíduo a cada 2 metros quadrados. A praia Pântano do Sul, em Florianópolis(SC) foi apontada, segundo os estudos, a praia mais poluída do país.
No estado de São Paulo, os estudos apontaram que a praia do Centro, em Mongaguá, apresentou a maior densidade de microplásticos do estado. As praias das Vacas e Itaquitanduva, em São Vicente, apresentaram a maior densidade de macroplásticos do estado de São Paulo.
No Litoral Norte Paulista, os estudos apontaram que as praias de Camburi, em São Sebastião; Ubatumirim, em Ubatuba; e, Tabatinga, em Caraguatatuba, apresentaram a menor densidade de microplásticos.
Os estudos apontaram ainda que as praias Ubatumirim (Foto) e Fazenda, na costa norte de Ubatuba; Castelhanos, em Ilhabela; e, Toque Toque Grande, na costa sul de São Sebastião, foram as que menos densidade de macroplásticos apresentaram nos estudos realizados no Litoral Norte Paulista pela Ong Sea Shepherd Brasil em parceria com o Instituto Oceanográfico da USP (Universidade de São Paulo).
Estudos
Além de trazer à tona o estado crítico da poluição marinha no país, o estudo também revelou que as praias mais isoladas e protegidas, como áreas de proteção integral, estão entre as mais afetadas por resíduos plásticos de uso único, expondo um paradoxo entre as zonas de conservação e a presença massiva de poluição.
Os dados coletados vão além dos números chocantes: oferecem um panorama profundo sobre os tipos de plásticos e resíduos, destacando a importância de políticas públicas mais robustas e ações governamentais urgentes para enfrentar a crise da poluição.
“Pretendemos que os resultados do projeto não somente choquem, mas provoquem a ação, trazendo à tona a necessidade de políticas públicas e de uma mudança na cultura de consumo de plástico no Brasil.”, afirma Nathalie Gil, presidente da Sea Shepherd Brasil.
A expedição seguiu uma metodologia científica rigorosa, seguindo o protocolo da UNEP para a coleta de dados, com amostras analisadas em laboratório para identificar a origem dos microplásticos. Um relatório resumido, com diagnósticos e propostas de soluções, já está disponível, e o lançamento de um artigo científico mais detalhado está previsto.
“Esta parceria tem a importante missão de realizar uma leitura abrangente do perfil dos resíduos na costa do Brasil como nunca antes feita no mundo”, afirma Alexander Turra, Professor do Instituto Oceanográfico da USP e Coordenador da Cátedra Unesco para a Sustentabilidade do Oceano.
Recomendações
A nível municipal, a Ong sugere: 1- a criação de Programas locais de reciclagem: estabelecer programas eficazes de coleta e reciclagem com previsão orçamentária e financiamento a longo prazo das prefeituras, que incluem infraestrutura para coletar e triar para retornar à cadeia de produção os plásticos de alta reciclabilidade; 2- Limpeza regular e eficaz das praias: implementar métodos de limpeza que não apenas removem resíduos visíveis, mas também microplásticos enterrados (como técnicas de peneiração); 3- Campanhas de sensibilização comunitária: desenvolver campanhas locais para educar a população sobre o impacto do lixo plástico e do descarte adequado, incentivando práticas de descarte responsável; 4- Proibição de materiais plásticos descartáveis: considerar regulamentos locais para banir o uso de plásticos descartáveis e de uso único em estabelecimentos comerciais, eventos públicos e locais turísticos; 5-Educação sobre resíduos, consumo e descarte consciente como parte do currículo fundamental das escolas públicas da cidade; e, 6- Promoção de mutirões de limpeza constantes com cidadãos e organizações locais, como
feito pela Sea Shepherd Brasil em parceria com prefeituras e organizações locais de diversas partes do país.
*Informações publicadas pela Sea Shepherd Brasil