Confira a história de Zenaide Conceição, a primeira porta-bandeira de escola de samba em Caraguatatuba

Primeira porta-bandeira de uma escola de samba em Caraguatatuba, Zenaide Conceição, aos 87 anos, relembra os bons tempos de avenida

 

Por Salim Burihan

 

A primeira porta-bandeira de uma escola de samba em Caraguatatuba, no Litoral Norte Paulista, Naíde da Conceição Souza, a dona Zenaide, hoje, aos 87 anos, garante que apesar de ter muitas saudades dos tempos de avenida, não acompanha mais os desfiles na cidade.

“Antigamente, era muito mais animado, tudo era feito na raça, com muitas dificuldades, mas era mais coletivo. Todos unidos pelo sucesso da escola. Hoje, cada um quer aparecer mais que o outro, infelizmente”, comentou.

Naíde da Conceição Souza, a dona Zenaide, está com 87 anos de idade e vive no bairro do Tinga, em Caraguatatuba. Ela é natural de Itambacuri, um município do interior de Minas Gerais, que fica 1.038 quilômetros de distância de Caraguatatuba, onde ela vive hoje. Ela chegou em Caraguatatuba, no ano de 1968, um ano após a tromba d’água que destruiu parcialmente a cidade.

Tinha 30 anos de idade e muita vontade de trabalhar. A cidade enfrentava situação das mais difíceis devido a tragédia do ano anterior. Como faxineira trabalhou em vários locais, entre eles, o escritório de contabilidade Barbosa, um dos mais tradicionais de Caraguatatuba e no Despachante Rubinho. Chegou a receber convite para trabalhar na prefeitura, na época do prefeito José Bourabeby, mas preferiu se manter autônoma. Além do trabalho, Zenaide tinha duas paixões: o carnaval e Iemanjá.

Ela lembra que quando morou em São Paulo, antes de ir morar em Caraguatatuba, desfilou um ano na Casa Verde. “Ela recorda que desfilou em escola de samba de São Sebastião, antes de desfilar pela Escola de Samba Tubarão, em Caraguatatuba.

“Nessa época, decidimos iniciar uma escola de samba em Caraguatatuba. Em 1974, quando foi iniciada a Escola de Samba Tubarão, que tinha como presidente a dona Leonor e como mestre de bateria, o Dionísio, Zenaide se tornou a primeira porta-bandeiras da agremiação que até então era a única escola de samba da cidade. A escola, oficialmente, foi fundada em 1977.

A morena, bonita, sempre alegre e radiante, se portava como uma princesa como porta-bandeiras da Tubarão nos carnavais de rua de Caraguatatuba. “A gente desfilava nas ruas do centro, mas o espaço foi ficando pequeno demais e o Dionisio conseguiu com a prefeitura que o desfile de carnaval fosse transferido para a avenida da praia, onde cabia mais gente”, relembra.

“Éramos muito unidos, dona Leonor, o Dionísio, a dona Zú, todos juntos pelo sucesso da escola. Nós mesmos produzíamos as fantasias e os adereços da escola. Éramos uma verdadeira família. Um tempo bom, muito bom…Um período inesquecível da minha vida…Dá muitas saudades”, relembra Zenaide, aos 87 anos.

Ela recorda que teve como mestres salas, primeiro, o Sérgio, depois, Gilberto e por último, seu filho, Vicente Celestino. Contou que apreendeu a sambar sozinha e que deu conta do recado enquanto foi porta bandeiras da Tubarão. Foi porta-bandeiras da agremiação por mais de 15 anos consecutivos.

Dionísio Reis, comandava a bateria

“A nossa bateria era pequena, mas mandava bem no samba, sob a coordenação e comando do mestre Dionísio. A cuíca, do Vanderley, fazia muito sucesso. Desfilamos em várias cidades. Fizemos apresentações em São Sebastião, Ubatuba e Ilhabela. Na Ilha, fizemos uma apresentação a convite da prefeitura durante a visita do então governador Paulo Maluf”, recorda.

Seu gingado e seu samba no pé, acabou lhe provocando convites para também desfilar em blocos de embalo e escolas de samba de São Sebastião. Ela lembra que desfilou na escola do bairro de São Francisco, a Acadêmicos de São Francisco, na década de 90.

Desfilou, também, como porta estandarte no bloco “Notei no Teu Semblante”, de Caraguatatuba, coordenado pelo Edilson, o “Macaco”, professor de Educação Física e no Bloco do Bixiga.

 

Zenaide também representou outras das escolas de samba como porta-bandeiras: ao Império do Litoral e a X-9. Ela ainda se recorda de um ano em que a prefeitura trouxe uma escola de samba de São Paulo desfilar no carnaval, mas a porta bandeiras da escola não veio. “Foram em casa me buscar para desfilar no lugar dela”, lembra com orgulho.

Um dos títulos que mais guarda com carinho- o quadro está fixado na parede de sua sala de estar, é o de “Imperatriz do Samba”, concedido pela liga das escolas de samba de Caraguatatuba, na ocasião, presidida pelo Francisco Guedes.

Sentada na varanda de sua casa, Zenaide abre um livro onde registra toda a sua história no carnaval de Caraguatatuba e lê uma poesia que fez para o “Vôzinho da Cuíca”, um dos integrantes da bateria da Escola de Samba Tubarão, falecido em 1977. Acompanhe:

 

 

“O carnaval de rua, promovido pelas escolas de samba é muito importante. A escola de samba reúne ricos e pobres, todos num samba só…O povo mais humilde adora participar. O desfile na avenida é um momento inesquecível para qualquer membro de uma escola de samba”, conta.

No final da década de 90, com o fim do desfile das escolas de samba em Caraguatatuba, Zenaide resolveu dar um tempo no samba. Ela passou a se dedicar mais a estátua de Iemanjá instalada na praia central. Zenaide fazia semanalmente a limpeza do local, devota de Iemanjá. Nos últimos anos, aposentada, mãe de seis filhos, com netos e bisneto, passou a ficar em casa, no bairro do Tinga, ao lado da família.

 

 

 

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