Raul Seixas passou alguns dias em Caraguatatuba em maio de 1982 para se recuperar das agressões sofridas em um show na cidade de Caieiras(SP); o cantor estava muito alterado e o público achou que não era Raul que se apresentava, mas sim, um sósia dele, passando a atirar latas de cerveja no palco, ele chegou a ser preso
Por Salim Burihan
Em 1982, após uma confusão danada num show realizado na cidade de Caieiras(SP), Raul Seixas resolveu dar um tempo para se recuperar e passou alguns dias “escondido” em Caraguatatuba, no Litoral Norte Paulista. Segundo consta, teria sido a primeira e última vez que o cantor e compositor esteve na cidade litorânea.
A história é a seguinte. No dia 16 de maio de 82, o Raul foi fazer um show na cidade de Caieiras. Ele subiu ao palco, cantou três músicas e começou a falar com a plateia. O público achou que se tratava de um sósia e começou a agredi-lo com palavrões e atirando latas de cerveja em direção ao artista no palco.
Existem duas versões sobre o conturbado show em Caieiras: a primeira é que teria sido o próprio cantor que, supostamente “chapado” começou a agredir verbalmente a plateia; na versão dada pelo seu empresário Dinho, o público achava que não era o cantor que fazia o show, mas sim, um sósia dele, um Raul Cover e reagiu com palavrões e latas de cerveja arremessadas em direção ao cantor.
Irritado, o público achando que estava sendo enganado, tentou agredir o cantor e compositor. Raul Seixas escapou de um linchamento porque a polícia interviu. Levado para a delegacia de Caieiras, nem o próprio delegado, José Gomes dos Santos, acreditava que aquele que estava na sua frente era mesmo Raul Seixas. O delegado fez ele cantarolar algumas de suas músicas, fez-lhe perguntas absurdas e ainda exigiu que a família apresentasse os documentos dele, comprovando que se tratava mesmo de Raul Seixas.
Após a tremenda confusão, o cantor chegou a ser ameaçado de morte e teve que sair de São Paulo correndo. Raul Seixas decidiu dar um tempo e esperar a poeira abaixar se alojando em uma cidade tranquila, longe da mídia. Por causa da confusão em Caieiras, jornalistas do país inteiro estavam atrás do cantor para saber o que teria ocorrido por lá. Por isso, ele optou em vir para Caraguatatuba.
Naquela época eu trabalhava na Rádio Oceânica, de Caraguatatuba e era correspondente no Litoral Norte da Rádio Excelsior, hoje, CBN. Era uma segunda-feira, dia 24, quando buscava pautas para o programa a “Cidade se Comunica”, de terça, dia 25, quando caminhando pela praça principal da cidade, a Cândido Mota, notei um cara cabeludo, barbudo e de óculos escuros saindo do mercado municipal, que existia naquela época onde hoje funciona a Casas Bahia.
Fui me aproximando, achando que poderia ser o Raul Seixas, o cara era realmente muito parecido, na dúvida resolvi ir conferir. Notei que ele, apesar do óculo escuro, estava com o rosto machucado, mas mesmo assim fui chegando. Será que é realmente o cara? pensei. Encostei e puxei conversa.
O cara cabeludo e barbudo trajava uma calça jeans estava acompanhado de um outro homem, supostamente, um dos integrantes da sua banda. Os dois faziam compras na quitanda da Teresinha, no mercado central. Quando os dis deixaram a quitanda, me aproximei.
“Você parece com o Raul Seixas”, falei. “Eu sou o Raul Seixas”, respondeu ele, dando risada. “O que você está fazendo por aqui?” “Estou descansando e me recuperando de uma surra que tomei em Caieiras no fim de semana.” “Surra, você brigou?” “Porra! –respondeu ele– você não ficou sabendo? Eu fiz um show e não acreditaram que era eu… Parte do público me agrediu… Fui preso e tudo mais…”
Raul após deixar o mercado central, caminhava em direção a um boteco, que existia na esquina da praça Cândido Mota com a avenida Altino Arantes. Eu, segui na cola dele. Ele entrou no bar e pediu uma garrafa de vodka. Tomou quase a garrafa inteira. Insisti com ele dá possibilidade de gravar uma entrevista para a rádio. Ele concordou.
Raul pediu que eu fosse no final da tarde até a casa onde ele estava alojado, no bairro do Morro do Algodão, região sul de Caraguatatuba, nas proximidades do Clube Ilha Morena. Como ele não sabia informar o endereço da casa, acabei seguindo o dodge dart branco dele, com o meu carro até o bairro para confirmar onde ficava a residência. Não queria perder a oportunidade de entrevistar o Raul Seixas.
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No final da tarde, lá estava eu com aqueles gravadores enormes, que se usava na época, na casa onde Raul estava na rua Salestino Rodrigues Ferreira, no Morro do Algodão, para fazer a entrevista. Estavam na casa, o Raul, sua mulher Ângela e outras duas pessoas. A casa era bem simples, numa rua tranquila. O pessoal estava muito à vontade. Raul Seixas concedeu a entrevista, onde contou um pouco de sua vida e, sempre bebendo vodka, falou de suas composições mais conhecidas como Ouro de Tolo, Mosca na Sopa, Al Capone (1973), Gita (1974), Há Dez Mil Anos Atrás (1976), Maluco Beleza (1977), entre outros sucessos.
Meio chapado, não sei se de vodka ou de maconha (ou os dois), ele então apanhou o violão e começou a cantar. Foi talvez a única apresentação dele em Caraguatatuba. Ficamos algumas horas ali, sentados na sala da casa, ele ao violão e eu curtindo o som.
Já escurecia quando deixei a residência e lhe perguntei se poderia voltar no dia seguinte, acompanhado de alguns amigos. Ele pediu apenas para não levar muita gente porque queria ficar tranquilo, sem muita muvuca.
No dia seguinte, por volta das 7 horas, passei um boletim ara rádio Excelsior, de São Paulo, contado que o Raul Seixas estava em Caraguatatuba, se recuperando das agressões sofridas no show de Caieiras e coloquei a entrevista gravada com ele na Oceânica.
No início da tarde, acompanhado de alguns amigos, fui novamente até a casa onde o cantor estava alojado no Morro do Algodão e não encontrei mais ninguém. Voltei mais tarde e ninguém apareceu. A vizinha me contou que as pessoas que estavam na casa viajaram porque uma rádio de São Paulo havia informado que o Raul Seixas estava em Caraguatatuba. O empresário do cantor ligou da capital pedindo que ele deixasse a cidade pois vários jornalistas da capital estavam seguindo em direção até Caraguatatuba para tentar entrevistá-lo sobre a confusão ocorrida no show de Caieiras.
Após o incidente no show de Caieiras, Raul vinha evitando contato com a imprensa. Prá mim, ele contou que fez o show em Caieiras, muito doido, mas que se surpreendeu com a reação do público, que não acreditava que era ele mesmo e não, uma outra pessoa, que estava no palco.
“Quando começou o show eu vi aquele burburinho, o povo começou a ficar agitado. E começaram a jogar garrafas, jogar latas de cerveja. Eu acho que foi um boato que houve que não era eu que estava cantando”, explicou Raul, numa entrevista concedida a repórter Alba Carvalho, do Jornal Hoje, da TV Globo, exibida no dia 18 de maio de 1982. Raul Seixas, um dos maiores cantores e compositores do Brasil morreu aos 44 anos, na capital paulista, em 21 de agosto de 1989.
Raul explicou o que ocorreu em Caieiras
Numa entrevista concedida a TV Globo, ainda em maio de 1982, Raul Seixas explicou o que teria acontecido naquele show em Caieiras(SP). Raul falou para a repórter Alba Carvalho. A entrevista com cerca de 5 minutos foi para o Jornal Hoje. A confusão em Caieiras, também, resultou num documentário, de cerca de 11 minutos, produzido pelo Raul Rock Club. O documentário pode ser visto no Youtube. Confira o que aconteceu naquele show de Caieiras: