A Prainha (Foto), em Caraguatatuba, está imprópria para banho, mas mesmo assim, vive lotada nos fins de semana.
Por Salim Burihan
O recente surto de virose que atingiu algumas cidades do litoral paulista afugentou boa parte dos turistas da região. O Estado informou que a virose foi causada pelo norovirus, que é altamente contagioso e transmitido por via oral-fecal, mas a causa e a origem da contaminação não foi esclarecida. A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP) descartou a água potável como fonte de transmissão. A suspeita é que a virose possa ter sido transmitida pela água poluída do mar ou por alimentos.
Os sintomas da gastroenterite (virose) que afetou moradores, veranistas e turistas: vômitos, náuseas, cólicas e diarreia. Essa virose ocorre todos os anos a beira mar, mas entre o fim de 2024 e o início de 2025 a situação foi muito mais crítica, superlotando as UBSs e UPAs. Amanda Caroline Resende de Oliveira, de 29 anos, morreu após apresentar indícios de virose, em Cristais Paulista, no interior de São Paulo, no dia 4 de janeiro. A turista havia passado alguns dias no Guarujá. O caso ainda está sendo investigado pela Secretaria Estadual de Saúde.
O verão tem levado cada vez mais gente para as cidades do litoral paulista. A maioria das cidades não possuem infraestrutura para atender tantos visitantes, principalmente, no período entre o Natal e primeiros dez dias de janeiro. A prefeita de Ubatuba, Flávia Paschoal(PL), contou que cerca de 1 milhões de pessoas esteve em sua cidade neste período. Veja: Ubatuba tem 92.981 habitantes ou seja, neste período entre o Natal e os primeiros 10 dias de janeiro, a cidade recebeu uma população 10 vezes maior.
A superlotação causou inúmeros problemas em Ubatuba( e nas demais cidades do Litoral Norte) : congestionamentos intermináveis nas ruas e avenidas e até mesmo na Rio-Santos na ligação entre o centro e as praias do norte e sul do município; excesso na produção do lixo; faltou água em vários bairros em alguns períodos; e, houve sobrecarga no sistema de saneamento básico, com o esgoto extravasando e poluindo córregos, rios e praias. Ubatuba tem apenas 55% de suas moradias atendidas pela coleta e tratamento de esgoto. É a situação mais crítica entre as cidades do Litoral Norte Paulista: Caraguatatuba conta com o índice de 92%; São Sebastião, com 74%; e, Ilhabela, tem 62%. As prefeituras e a Sabesp continuam investindo no saneamento básico.
Lembro de uma história bastante interessante. Na década de 80 eu era correspondente do Jornal da Tarde e Estadão em Caraguatatuba e vivia escrevendo sobre as praias impróprias para banho procurando alertar aos banhistas. Naquela época, o índice de rede de esgoto era muito limitado na cidade. O então prefeito da cidade. Dr. José Bourabeby, decidiu ir até a minha casa reclamar das minhas colocações. Eu não estava em casa e o prefeito decidiu bater boca com a minha mãe, dona Maria Burihan. Quando cheguei em casa, onde também funcionava o Restaurante Xamego, vi muita gente aglomerada, fui entrando e cruzei com o prefeito. “Doutor José não estou prejudicando a cidade, estou mostrando a nossa realidade para que o Estado faça os investimentos necessários em saneamento básico. É apenas isso!!!”, justifiquei. O “prefeitão”, como ele era conhecido na cidade, havia sido procurado por comerciantes reclamando que as minhas publicações estariam afugentando os turistas da cidade. Ainda hoje, infelizmente, ainda se encontra gente com essa mentalidade.
No final dos anos 90, o então prefeito de Caraguatatuba, Antônio Carlos da Silva, fez uma pressão muito forte sobre o estado, na época governado pelo Mário Covas, por investimentos em saneamento básico na cidade. O prefeito chegou a emprestar R$ 30 milhões do município para que a Sabesp investisse em rede de esgoto no município. Antônio Carlos entendia que praias poluídas prejudicavam o turismo na cidade. Sua iniciativa valeu a pena, Covas ampliou em muito a rede de esgoto na cidade, hoje, Caraguatatuba tem 92% de suas moradias atendidas por rede de coleta e tratamento de esgoto. É uma das cidades de melhor índice de saneamento básico no litoral paulista.
Evitar praia imprópria
Uma das supostas causas do surto de virose é o contado dos banhistas com a água poluída do mar. Neste fim de semana, por exemplo, 43 praias do litoral paulista estão inadequadas para o banho de mar, segundo a Cetesb. O banho de mar em águas poluídas por esgoto, segundo a Cetesb, podem causar riscos à saúde dos banhistas. As praias impróprias são sinalizadas com bandeira de cor Vermelha e devem ser evitadas para banho. O banhista que frequenta praia poluída ao ingerir a água do mar pode contrair doenças como a gastroenterite, diarreia e até hepatite A e febre tifóide.
Os banhistas devem ser mais alertados sobre os riscos do banho de mar em praias impróprias. Acho que já chegou a hora das prefeituras ou o próprio Estado interditarem o banho de mar nas praias classificadas como impróprias nos períodos de surto de virose. Sinalizar com bandeiras Vermelha não está resolvendo. As pessoas continuam nadando em águas contaminadas por esgoto. Os turistas podem frequentar os quiosques, praticar atividades esportivas nas areias, mas devem ser impedidos de se banhar em águas poluídas. Trata-se de uma questão de saúde pública. Quem frequenta águas poluídas por esgoto contraí doenças e vai se tratar nas UBSs e UPAs, elevando os gastos com saúde por parte dos municípios.
Cuidado com a alimentação
A nutricionista Priscilla Primi, mestre pela Universidade de São Paulo, publicou um artigo bastante interessante e oportuno na coluna Bem-Estar, no Jornal O Globo, na edição de quinta-feira, dia 16, sobre a virose que surgiu em algumas cidades do litoral paulista neste início de janeiro.
A nutricionista destacou ainda que a gastroenterite é uma doença que também pode ser transmitida pelos alimentos. Segundo ela, os alimentos podem ser veículos de contaminação de vírus, bactérias e parasitas que podem causar gastroenterites com sintomas semelhantes aos relatados. “As doenças podem ser causadas ingestão de toxinas, enquanto infecções podem ser mediadas por toxinas produzidas no intestino ou resultar da invasão de microrganismos no trato intestinal”, afirmou.
Priscilla lembrou que “apesar das delícias do verão, há cuidados que devem ser redobrados, principalmente em relação ao que se come e ao que se bebe nas praias do Brasil”. Segundo ela, é importante analisar o contexto das férias: “geralmente saímos da rotina, dormimos tarde, acordamos cedo, logo, descansamos pouco, não fazemos todas as refeições nos horários corretos, ficamos expostos ao calor (sol escaldante) e ao frio intenso (ar condicionado ou ventilador), ou seja, mudanças drásticas de temperatura. Tudo isso já altera e fragiliza o sistema imunológico”, alertou a nutricionista.
Ela alertou ainda sobre o gelo que se consome a beira mar, numa caipirinha adquirida num quiosque, por exemplo. Alertou ainda sobre a água usada para lavar o copo ou os alimentos nos estabelecimentos a beira mar. “Desconhecemos a procedência da água e as condições em que o copo, se não for descartável, os utensílios e as frutas foram lavadas”, destacou.
É verdade, o consumo de alimentos vendidos por ambulantes nas areias das praias, seja o espetinho de camarão, o churros, o sanduiche natural devem ser evitados. Não se sabe a procedência, conforme alertou a nutricionista. O risco é muito grande principalmente para as crianças. Devem ser evitados os picolés de marcas desconhecidas. O ideal é comprar os de marca conhecidas na cidade, como por exemplo, o Sérgio e Lobinho, em Caraguatatuba ou até mesmo os industrializados, tipo Kibon.
No caso dos aperitivos ou alimentos, o ideal mesmo é levar de casa para a praia, desde que, bem condicionados num coller para que resistam ao calor a beira mar. Para quem adora um porção de peixe ou de camarão, recomenda-se que sejam adquiridos nos quiosques mais tradicionais de cada praia. Com a redução dos turistas, acredita-se que os casos de virose tendem a reduzir cada vez mais. No entanto, é sempre bom prevenir. Boa praia!!!