Contorno Sul da Tamoios teve implantação suspensa em 1977 para não prejudicar o comércio de Caraguatatuba

O Contorno Sul da Tamoios chegou a ser iniciado em 1976 pelo governo federal, mas as obras foram interrompidas e suspensas após comerciantes e a prefeitura de Caraguatatuba argumentarem que “desvio dos turistas” prejudicaria a cidade; viadutos foram abandonados na região sul de Caraguatatuba(Foto: Reprodução Redes Sociais))

 

Por Salim Burihan

 

O contorno Sul de Caraguatatuba que será inaugurado nesta segunda-feira, dia 18, pelo governador Tarcísio de Freitas, estava programado para ser implantado em 1976, há 48 anos, pelo governo federal, mas as obras foram interrompidas e suspensas um anos após terem sido iniciadas após comerciantes e a prefeitura de Caraguatatuba alegarem que “desvio” prejudicaria o comércio e a arrecadação municipal.

 

A obra, que chegou a ser iniciada em 1976 , pelo governo federal, desviava o tráfego da Rodovia dos Tamoios em direção até São Sebastião, por um traçado que passava por trás de Caraguatatuba, pelos bairros do Rio Claro e o Pirassununga, na região sul do  município. O pacote de obras federal também previa  a implantação do contorno Norte, que desviaria os veículos que chegassem pela Tamoios em direção ate Ubatuba,  por um trecho que passava atrás do Morro de Santo Antônio. As duas obras visavam retirar do centro de Caraguatatuba os veículos que chegavam pela Tamoios com destino as cidades de São Sebastião(Sul) e Ubatuba, Paraty e Angra(Norte).

 

Em 1976, as obras do contorno sul e norte estavam sendo custeada pelos governo federal, na época, pelo Ministério dos Transportes, sob o comando do ministro Mário Andreazza. O cronograma inicial previa as obras do contorno Sul, entre Caraguatatuba e São Sebastião. As obras foram iniciadas, com a construção de alguns viadutos na região sul de Caraguatatuba, mas foram paralisadas em 1977 após pressão dos comerciantes  e da prefeitura de Caraguatatuba.

 

Na ocasião, os comerciantes da cidade e o então prefeito José Bourabeby,  temendo que o desvio do tráfego da região central fosse prejudicar o comércio e, também, a arrecadação municipal, decidiram procurar o governador Paulo Maluf para que ele cobrasse do governo federal a interrupção e suspensão imediata das obras do contorno Sul que já estavam em sendo executadas em Caraguatatuba.

 

A justificativa era de que a cidade de Caraguatatuba era passagem obrigatória dos turistas que seguiam para as cidades vizinhas, que eram as mais procuradas nos fins de semana ou feridos prologados. A passagem dos turistas e veranistas pela cidade movimentava o comércio local, concentrado na época, na região central  e ampliava a arrecadação da prefeitura.

 

Uma comitiva formada por comerciantes e o prefeito José Bourabeby foi até Brasília explicar a situação ao ministro Mário Andreazza, que já tinha sido alertado sobre a reinvindicação pelo governador Maluf. O ministro acatou o pedido dos comerciantes e do prefeito e suspendeu as obras iniciadas, entre elas, dois viadutos que já tinham sido construídos na região sul de Caraguatatuba, sendo que um deles possui 40 metros de altura e 300 metros de comprimento.

 

Viadutos construídos para o contorno Sul em 1976 foram abandonados na região sul de Caraguatatuba

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Andreazza justificou, na ocasião, que usaria os recursos destinados a continuidade das obras do Contorno Sul em Caraguatatuba para melhorar a rodovia Rio-Santos no trecho entre São Sebastião e Bertioga, que na época,  ainda não estava incluída no pacote de obras do governo federal.

 

Rio-Santos, em São Sebastião, na década de 70

 

Os investimentos iniciados pelo governo federal na estrada que liga o centro de São Sebastião em direção as praias da costa sul , complementados em 1985 pelas obras do governador paulista Franco Montoro,  orçadas em Cr$ 23 bilhões, provenientes do Fundo Especial de Vias, alavancaram o turismo naquela região. Praias como Maresias, Boiçucanga, Baleia, Barra do Uma, Juquehy e Maresias passaram a ser conhecidas nacional e internacionalmente.

 

A decisão de Andreazza e a suspenção das obras fez com que viadutos ( já construídos) e traçados (pré-preparados) do contorno Sul fossem abandonados nos bairros do Rio Claro e o Pirassununga, na região sul de Caraguatatuba. Os viadutos estão lá, parcialmente construídos e abandonados no meio da mata atlântica. Nunca se soube quanto foi investido pelo governo federal nessas obras abandonadas.

 

Apesar dos contornos Norte e Sul melhorarem o tráfego local em Caraguatatuba e a qualidade de vida da população, para alguns comerciantes, o desvio dos turistas e veranistas continua prejudicando parte do comércio local. Alguns restaurantes, por exemplo, garantem que, perderam cerca de 50% de clientes turistas/veranistas nos fins de semana e feriados prolongados a partir da inauguração no ano passado do Contorno Norte.

 

 

Segundo alguns donos de restaurantes, esses clientes turistas/veranistas que viajam em direção ( ou retornam) da região norte de Caraguatatuba e as cidades de Ubatuba, Paraty e Angra dos Reis, frequentavam seus estabelecimentos nos fins de semana e feriados prolongados, mas a partir da implantação do desvio, esses clientes deixaram de “passar” pela região central da cidade e deixaram de consumir em seus estabelecimentos.

 

Os moradores, compreendem as reclamações do comércio, mas justificam que com o contorno Norte, por exemplo, que desviou o tráfego do centro da cidade em direção até Ubatuba, melhorou em muito o trânsito e, a qualidade de vida, nos fins de semana e feriados prolongados. “Acredito que com o Contorno Sul, os moradores dos bairros próximos a rodovia Rio-Santos não sofrerá mais os transtornos causados pelos congestionamentos que ocorrem nos fins de semana e feriados prolongados provocados pelos veículos que deixam a Tamoios em direção a região sul de Caraguatatuba e as  cidades de São Sebastião e Ilhabela. ou no retorno dessas regiões em direção as suas cidades de origem”, comentou Eugênio Avelar, que mora no bairro do Indaiá, às margens da Rio-Santos.

Inauguração

O Contorno Sul, novo acesso entre a rodovia dos Tamoios, em Caraguatatuba e o centro de São Sebastião, será inaugurado na segunda-feira, dia 18, às 10 horas, pelo governador do estado, Tarcísio de Freitas. Obra custou R$ 3 bilhões e levou 11 anos para ser concluída.

A entrega da obra será feita pelo governador, acompanhado do secretário de Estado de Parcerias e Investimentos, Rafael Benini, pelo prefeito Felipe Augusto, pelo vice e prefeito eleito de São Sebastião, Reinaldo Alves Moreira Filho e representantes da Concessionária Tamoios, empresa responsável pela obra.

A  solenidade ocorrerá às 10 horas da manhã, no km 27 da Contorno Sul, nas proximidades do bairro de São Francisco, em São Sebastião. Prefeitos e vereadores do Litoral Norte e Vale do Paraíba e deputados devem comparecer a solenidade. O contorno Sul é considerado de fundamental importância para o desenvolvimento do porto de São Sebastião.

O novo traçado promete também ampliar o movimento turístico em Ilhabela e São Sebastião. O contorno irá reduzir o tempo de viagem às praias de São Sebastião e Ilhabela, que estão entre os destinos mais procurados por turistas no litoral norte de São Paulo. Com 22,7 km de extensão, o novo traçado rodoviário dará acesso direto da Tamoios a São Sebastião e seu porto, evitando a passagem dos motoristas pela área urbana de Caraguatatuba, como acontece hoje.

A expectativa é que o trajeto do trevo de Caraguatatuba até o porto de São Sebastião seja feito em cerca de 18 minutos. A obra começou em 2013, foi paralisada em 2018 e retomada em 2021. O investimento total foi de mais de R$ 3 bilhões.

A expectativa é de que com a liberação do contorno na segunda-feira, dia 18, motoristas demorem apenas 16 minutos e 30 segundos para percorrer o contorno até o Porto de São Sebastião, trajeto que hoje leva cerca de 45 minutos, segundo a Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp). Por ser um trecho urbano, com semáforos, lombadas, pontos de travessia e limite de velocidade entre 40 e 60 km por hora, em feriados prolongados a demora no trecho atual pela Rio-Santos chega a 3 horas.

A velocidade máxima permitida no novo trecho, que tem características de via expressa, será de 80 km por hora. A estimativa do governo estadual é que 10,2 mil veículos circulem diariamente pela via durante os dias úteis. O movimento pode dobrar e até triplicar em fins de semana e feriados.

O novo trecho terá um pedágio no km 13,5 do Contorno Sul, com tarifa básica de R$ 5 para carros, de R$ 2,50 para motos e de R$ 10,00 para ônibus e caminhões. A cobrança começa juntamente com a abertura do trecho e será feita de forma eletrônica, no sistema free-flow, sem cabines e cancelas de pedágio. Câmeras e sensores instalados em um pórtico acima das pistas fazem a leitura da tag (se tiver) ou da placa do veículo.

O usuário com tag paga diretamente na fatura da operadora. Aquele que não possui tag terá de consultar o débito no site da concessionária ou no App Tamoios.

 

 

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