Veleiro-cargueiro deve deixar o porto de São Sebastião com destino à França neste sábado(16)

Veleiro de 81 metros de cumprimento leva 9,8 mil sacas de café especial produzido pela família Croce em fazenda de Mococa, no interior do estado 

 

Deve deixar o porto de São Sebastião, no litoral de São Paulo, neste sábado, dia 16, o veleiro-cargueiro Artemis com um carregamento de cerca de 600 toneladas de café a serem transportadas até a França.  O café exportado foi produzido na Fazenda Ambiental Fortaleza,  do casal Silvia e Marcos Croce, que fica na cidade de Mococa, no interior do estado de São Paulo. A viagem entre São Sebastião até o porto francês de Le Havre deve durar três semanas.

O veleiro transporta 700 pallets com 14 sacas de café em cada um deles, totalizando 9,8 mil sacas. Além disso, também foram embarcadas algumas sacas contendo semente de cacau brasileiro para a indústria europeia de chocolates. A embarcação segue com uma tripulação de pelo menos oito pessoas.

O veleiro Artemis, de 81 metros de cumprimento, foi lançado ao mar no dia 20 de agosto deste ano, na cidade de Ho Chi Minh, no Vietnã. A embarcação levou mais de dois anos para ser construída no estaleiro Piriou, no Vietnã.  O veleiro, apesar de construído no Vietnã, mantém um terço dos componentes franceses, refletindo a colaboração internacional no seu desenvolvimento.

O veleiro possui um conjunto de velas que ocupam um total de 3.000 metros quadrados de área. O mastro principal tem 65 metros de altura. Além disso, joysticks operam o veleiro direto da cabine de comando. O vento também gera energia eólica com o movimento das velas. Essa energia limpa é armazenada em baterias e alimenta toda a operação do navio, como painéis, equipamentos e iluminação.

Apenas em casos extremos, quando não há vento suficiente, a embarcação utiliza motor a combustão. Já a carga de café é rastreada, o que permite aos compradores saber como foi o processo de plantio e colheita da carga.

A indústria de transporte de cargas marítimas está aos poucos aderindo ao uso dos antigos veleiros de madeira para as suas atividades. Diversas empresas decidiram migrar dos navios tradicionais de cargas, mais caros e dependentes dos combustíveis, para embarcações a vela, que além de mais baratas garantem a preservação ambiental.

Uma das pioneiras no transporte de café foi a Café William, uma torrefação canadense, que transportou uma carga de café da Colômbia para a América do Norte em um barco a vela. A empresa está usando um navio de madeira de 1909 para transportar café da Colômbia para Nova Jersey(EUA).

O transporte de café por veleiro é uma alternativa para reduzir as emissões de gases poluentes e garantir a preservação ambiental. Empresas que transportam azeites e vinhos também estão aderindo ao uso de veleiros para o transporte de suas cargas.

Artemis

É a primeira viagem do veleiro-cargueiro Artemis, um navio sustentável, movido a vela e energia eólica, que saiu diretamente do estaleiro onde foi fabricado, no Vietnã, para São Sebastião. A proposta é realizar a operação da forma mais sustentável possível, desde a produção até o transporte. Por isso a escolha do Porto de São Sebastião para o transporte do café. O local é administrado pela Companhia Docas de São Sebastião, vinculado à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo, e possui o selo verde.

 

Veleiro levará café paulista até Le Havre, na França. Foto: Governo de SP/Divulgação

“Essa é uma operação extremamente significativa e que reforça o crescimento do Porto de São Sebastião, que vem batendo recordes de movimentação de cargas. É relevante também realizar o transporte de um produto tão simbólico para o Estado de São Paulo e para o Brasil, ainda mais em um formato sustentável”, disse o diretor-presidente da Docas de São Sebastião, Ernesto Sampaio.

Em setembro de 2024, o Porto de São Sebastião realizou a primeira operação de café para exportação depois de mais de 60 anos sem movimentações deste tipo. Mais de 8 mil toneladas de café verde produzidos em Minas Gerais e São Paulo foram embarcadas com destino à Alemanha. A última operação do setor cafeeiro feita no Porto de São Sebastião havia ocorrido na década de 1960.

Rafael Moura, diretor de Logística da FTS Par, que controla a Seaforte (empresa operadora da carga de café), considerou essa operação histórica: “Falamos de uma carga especial, que é o café brasileiro, e também o nosso cacau 100% rastreável, tudo dentro de uma cadeia sustentável, desde o plantio, cultivo e a colheita, até este momento em que a carga seguirá seu destino à Europa, em um transporte marítimo que reduz a emissão de gases poluentes.”

Fazenda Ambiental Fortaleza

 

A fazenda Ambiental Fortaleza mantém uma página nas redes sociais onde detalha a origem da fazenda e a produção do café que está sendo exportado para a França. A fazenda existe desde 1850, mas a partir de 2001, vem sendo administrada pelo casal Silvia e Marcos Croce(Foto: Arquivo fazenda Ambiental Fortaleza).  O casal deixou Chicago, em Illinois nos EUA, onde viviam, para administrar a fazenda herdada por Silvia. O sonho do casal era transformar a fazenda em um negócio sustentável que levasse em consideração o meio ambiente e as relações entre as pessoas, ao mesmo tempo em que produzia produtos de alta qualidade.

Segundo o casal, a transição para orgânico reduziu drasticamente a produção, pois as plantas sofreram com o término abrupto de produtos químicos. Em 2007, Marcos exportou seu primeiro contêiner direto para os Estados Unidos e colocou a Fazenda Ambiental Fortaleza no mapa.

Em 2008, a Fazenda Ambiental Fortaleza ganhou o prêmio de Sustentabilidade da Specialty Coffee Association of America. A entidade, fundada em 1982,  é uma organização sem fins lucrativos, que representa milhares de profissionais do café, de produtores a baristas em todo o mundo. Através da inclusão e o poder do conhecimento compartilhado, promove uma comunidade global de café e apoia atividades para tornar o café especial uma atividade próspera, equitativa e sustentável para toda a cadeia de valores. Como resultado, muitos torrefadores começaram a seguir a FAF e a visitá-la para ver o que eles estavam fazendo.

Em 2009, o filho de Silvia e Marcos, Felipe, que trabalhava em uma microtorrefação de café especial em St. Louis chamada Kaldi’s, se juntou à equipe. Felipe montou um laboratório de café e começou a separar e estudar lotes por variedades e métodos de processamento. Na mesma época, os vizinhos começaram a expressar interesse no modelo de comércio direto e nos esforços para melhorar a qualidade e começaram a fazer parceria com a FAF.

Hoje a Fazenda Ambiental Fortaleza é uma fazenda, uma rede de agricultores, um centro de estudos sobre café e uma empresa exportadora que moe e envia café para todo o mundo. “Nossa missão é ser uma Fazenda Social, Ambiental e Economicamente Sustentável – um modelo que semeia as sementes da Sustentabilidade para o Indivíduo, para a Família, para a comunidade Empresarial e para a Sociedade como um todo”, segundo o casal.

O proprietário da FAFCoffees, Marcos Croce, comenta que esse embarque é emblemático porque começa desde o plantio de café que segue toda uma pegada ambiental e segue para sua exportação e distribuição na França, que também tem essa preocupação com o meio ambiente.

‘Nossos produtores plantam o café de montanha nos Estados do Espírito Santo, Minas Gerais e  São Paulo, tendo toda essa preocupação com a qualidade sensorial, solo orgânico do princípio ao fim do processo”.

Por isso, a escolha de uma embarcação totalmente com essa pegada ambiental e o embarque pelo Porto de São Sebastião, localizada na região que o empresário considera a mais bonita do país e sem perder para outros lugares no mundo. A família Croce sempre frequentou Ilhabela.

“Quando iniciamos o processo de exportação, a empresa logo entendeu a importância de utilizar uma embarcação que segue tudo aquilo que acreditamos, pois cada um é importante para que a mudança ambiental ocorra e 10 anos, como se prevê, passa rápido”, frisou Croce.

 

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