O Litoral Norte Paulista teve três “mestres gelatiere”-como são chamados os especialistas em desenvolvimento de receitas de sorvete, na disputa da seletiva do Gelato Festival World Masters, competição internacional que escolherá o melhor “sorvete” de 2024
Por Salim Burihan
Mestres sorveteiros de três sorveterias do Litoral Norte Paulista participaram da seletiva brasileira do Gelato Festival World Masters, uma competição internacional que busca os melhores sabores de gelato(sorvete) do mundo, uma espécie de “campeonato mundial de sorvete”. A competição começou a ser disputada em 2010, em Florença, na Itália.
O Litoral Norte Paulista tem entre seus principais atrativos os sorvetes artesanais produzidos pelas suas dezenas de sorveterias espalhadas por Ilhabela, São Sebastião, Ubatuba e Caraguatatuba. Ao longo da temporada de verão, as sorveterias artesanais estão entre os comércios mais frequentados pelos milhares de turistas que visitam a região.
Os estabelecimento procuram lançar produtos novos para atrair os consumidores, mas também investem na melhoria da infraestrutura física e na qualificação de seus funcionários, para manter a qualidade de seus sorvetes e permanecer entre as preferidas dos turistas. Participar do “campeonato mundial” pode garantir reconhecimento internacional às sorveterias.
Na seletiva brasileira realizada em outubro do Gelato Festival World Masters, três sorveterias da região inscreveram seus mestres sorveteiros. A competição tem entre seus parceiros a Carpigiani – empresa italiana que fabrica máquinas de sorvete e é líder mundial no segmento e a Sigep – Italian Exhibition Group- que realiza o Salão Internacional da Sorveteria, Pastelaria e Panificação Artesanais. O evento realizado em várias partes do mundo busca o melhor gelato artesanal.
A competição aconteceu nos dias 23 e 24 de outubro, em São Paulo, com a participação de 31 maestros gelatieres que participaram da competição organizada no Brasil pelo distribuidor da Carpigiani a 3L Locações e Serviços. Para cada dia de Challenge, os três melhores pontuados foram eleitos como vencedores. Mestre gelatiere é como são chamados os especialistas em desenvolvimento de receitas de sorvete.
Na primeira etapa, os maestros gelatieres tiveram que preparar seu gelato no laboratório cedido pelos organizadores. Em seguida, especialistas do setor, chefs locais e jornalistas gastronômicos provaram e avaliaram cada gelato. Os três melhores sabores foram selecionados com base em critérios como sabor, textura, apresentação e criatividade. O júri avalia não apenas a parte artística e estética dos sorvetes apresentados mas também, sabor, textura, apresentação e criatividade.
Entre os participantes deste ano, estiveram três Mestre gelatiere representando as sorveterias do Litoral Norte Paulista : Igor Amorim da Sorveteria Sergio, de Caraguatatuba (SP) com o sabor “Gengibre Balsâmico”; Uysses P. Ruela da Miatto Gelateria, de Caraguatatuba (SP), com o sabor “Choco Black Café”; e, Gabriel Santin da Santin Gelato Artesanal em Ubatuba (SP) com o sabor “Pipoca”.
Igor Amorim, de 27 anos, da Sorveteria Sérgio, de Caraguatatuba, apresentou o gelato com o sabor Gengibre Balsâmico. O sabor escolhido foi um gelato de gengibre, onde a calda é balanceada e pasteurizada com açúcar mascavo. Ainda quente, é feito uma infusão do gengibre e do aceto balsâmico Di Modena e finalizado com balinhas de gengibre caramelizadas com açúcar mascavo.
“Participei ano passado, não consegui avançar. É uma competição muito difícil, com participantes de todo o país e muito qualificada. É uma oportunidade para se atualizar, conhecer o que está sendo produzido no país. Competidores de alto nível, faz a gente evoluir cada vez mais. Vou continuar tentando passar pelas eliminatórias e disputar a etapa mundial na Itália”, comentou Igor.
Segundo ele, cada mestre sorveteiro tem pouco tempo para produzir e mostrar sua criação no laboratório onde ocorre as eliminatórias. Igor disse que a calda pode ser levada pronta, mas a produção deve ser feita na frente e acompanhada pelos jurados. “Percebi que, a maioria dos concorrentes, procura valorizar os produtos de sua região, criando um sorvete com frutas ou produtos típicos de sua cidade ou região de origem”, comentou Igor.
Segundo ele, o gelato com o sabor Gengibre Balsâmico, que ele apresentou no concurso não será colocado a venda na sorveteria pois já existe um sorvete de gengibre à disposição dos consumidores.
No ano passado, Igor concorreu com um sorvete feito de café branco com doce de leite. Igor disse que os proprietários da Sorveteria Sérgio, o casal Sávio e Silvana, estimulam e apoiam a sua participação na competição.
Os gelatiere selecionados irão avançar para a Final Nacional Brasil do Gelato Festival World Masters programada para 2025. Sabor, estrutura, criatividade e apresentação são os quatro parâmetros utilizados para a avaliação, valorizando desde a escolha dos ingredientes à artesanalidade na elaboração da receita e o impacto visual do gelato (veja abaixo a lista completa de participantes).
O júri foi composto por: – Paulo Bueno – Jornalista e atuante no seguimento de A&B desde 1988, Empresário e sócio proprietário da MilK&Mellow; – Saiko Izawa – Chef Confeiteira Executiva no Hotel Rosewood São Paulo; – Franklin Bin – Cozinheiro e Confeiteiro, Vice-Campeão MasterChef Profissionais 5; – Heaven Delhaye – Chef de Cozinha e apresentadora de televisão franco-luso-brasileira, Finalista da terceira temporada do MasterChef Profissionais no Brasil; e, – Luca Gozzani – Chef Executivo Grupo Fasano.
Os 6 sabores vencedores e melhores gelatieres do Brasil em 2024 foram:
• Dario Hideki da ÀMei Gelato e Doces em São Paulo (SP) com o sabor “3 Canas”
Descrição: Cachaça de alambique, flocos de chocolate branco com raspas de limão e melado de cana.
• Neztor Bertrand da MOOI MOOI em São Paulo (SP) com o sabor “Maiz, migas, toffee de alho negro, pipoca”
Descrição: Gelato de milho, toffee de alho negro, migalhas de milho com chocolate e pipoca.
• Vinicius B. Buffon da Così Gelato em Bento Gonçalves (RS) com o sabor “La Cucagna”
Descrição: Gelato base leite e ricota perfumada com tomilho, Uvada (geleia de uva artesanal) com casca, Sfregolá (crocante) de farinha de amêndoas e Tomilho fresco.
• Gabriela A. M. Zorzalda Blu Gelatos em Domingos Martins (ES) com o sabor “Sorbet de gabiroba gigante, castanhas da mata atlântica, frutas vermelhas e mel de uruçu”
• Aline Vieira da Flor do Ingá em Maringá (PR) com o sabor “Doce Encanto”
Descrição: Gelato de queijo azul com geléia de limão cravo.
• Henrique Consoneda Ilgiorno Gelato em Brasília (DF) com o sabor “Harmonia Mediterrânea”
Descrição: Gelato de queijo gorgonzola suave, redução de vinho do Porto, figos assados e pistaches caramelizados.
O Gelato Festival estreou em Florença em 2010, inspirado na criação da primeira receita de gelato do versátil arquiteto Bernardo Buontalenti em 1559. Desde então, o evento expandiu suas fronteiras, primeiro para o resto da Itália, depois para Europa e – começando em 2017 – nos Estados Unidos com um total de 80 “Festivals” realizados, antes de abraçar todo o planeta com o Campeonato Mundial Gelato Festival World Masters 2021, que terminou em Dezembro de 2021 – com a vitória de Adam Fazekas de Budapeste – e viu um recorde de 3.500 maestros gelatieres julgados por júris internacionais.
Em 2024, O Brasil participou da Gelato World Cup 2024 em sua 10° edição, em uma grande feira internacional realizada em Rimini, na Itália. A equipe de chefs brasileiros conquistou a 8ª colocação entre os 12 melhores países do mundo. Entre os integrantes da equipe, estiveram Abner Ivan, Frederico Jardin Samora, Francisco Ambrosio de Souza, Breno Floriano e Gustavo Franceschini.
História das sorveterias do LN
Uma das mais antigas é a Rocha, em São Sebastião, criada em 1947. Em São Sebastião, na década de 40 surgiu a sorveteria Rocha, até hoje, de muito sucesso. A sorveteria foi criada por José Rocha Medeiros, mais conhecido como seu Zeca. Em 1964, o patriarca dos Rocha passou a loja para seu irmão, João, que tinha sete filhos. Os filhos assumiram a casa; Em 1981, um dos filhos de João, Rodolfo, decidiu abrir com a mulher outra sorveteria e nasceu a Sorvetes Rochinha.
A Rochinha, no entanto, em 2012, foi vendida para um grupo de empresários interessados em conquistar com a marca, bastante conhecida entre os veranistas e turistas, o mercado nacional e internacional. Foram investidos R$ 8 milhões numa nova fábrica em São José dos Campos. De lá, o sorvete passou a abastecer o mercado de São Paulo e o exterior: Portugal, Estados Unidos e Emirados Árabes. A Rochinha deixou de ser artesanal para disputar o mercado nacional e internacional.
Em Caraguatatuba, a produção de sorvete artesanal começou com a família Miscocci, na década de 50. Na década de 60, surgiu o sorvete Silvio, produzido pelo casal Sylvio Luiz dos Santos e Severina Garrido dos Santos. A sorveteria foi vendida em 1970 para o Getúlio Navarro Magalhães. Em 1975, o seu Sylvio decidiu abrir uma nova sorveteria, desta vez, com a marca Sérgio.
Após a morte do casal, seu Sylvio em 1989 e dona Severina, em 1999, a sorveteria ficou sob o comando do Sávio(Foto) e da sua esposa Silvana. É um dos estabelecimentos comerciais mais antigos de Caraguatatuba por moradores e turistas. Caraguatatuba também ganhou outras sorveterias como a Rocha, do Adhemar Rocha; a Pracinha, do seu Vanel, a Aldo, do Geraldinho Nascimento; a Wilson; a Lobinho; a Gelateria Dama Bersani, no Massaguaçu.