Homenagens acontecem há mais de 60 anos nas praias da cidade
A Prefeitura de Caraguatatuba, no Litoral Norte Paulista, inicia a partir desta segunda-feira, dia 2 de setembro, as inscrições para as entidades religiosas interessadas em participarem da tradicional Festa de Iemanjá. As inscrições poderão ser feitas até o dia 13 de setembro. As festividades acontecerão no dia 7 de dezembro, a partir das 19 horas, na praia central de Caraguatatuba.
Para se cadastrar as entidades devem acessar o site da Secretaria Municipal de Turismo para consultar o regulamento e as condições para o credenciamento. A prefeitura irá disponibilizar 40 barracas(espaços) as entidades cadastradas. Segundo a prefeitura, a disposição de cada tenda se dará conforme a ordem de inscrição. A relação das entidades cadastradas será divulgada no dia 18 de setembro.
A prefeitura alerta que as entidades que vierem de ônibus para participar da festa devem solicitar autorização especial para a entrada do coletivo no município por meio do site 156 ou telefone 3897-8800. O pedido deve ser feito com no mínimo dez dias de antecedência, sem qualquer custo adicional.
Segundo a prefeitura, a festa comemora 40 anos este ano de 2024, mas na verdade, as homenagens são feitas há mais de 62 anos nas praias da cidade, segundo depoimento de um dos mais antigos participantes das homenagens, seu Milton Balbino dos Santos, de 81 anos, falecido em 2022. A estátua de Iemanjá onde ocorrem as homenagens foi instalada na praia em 1985.
Homenagens acontecem há 62 anos
Em Caraguatatuba, as homenagens a Iemanjá acontecem há mais de 62 anos. Tudo começou com o italiano Francisco D’ Onofrio, que residiu muitos anos em Caraguatatuba, onde tinha um terreiro. Seu D’Onofrio foi quem idealizou e construiu a estátua de Iemanjá instalada na praia do centro, em 1985, local onde acontecerá as festividades.
Segundo contou seu Milton Balbino dos Santos, de 81 anos, de São José dos Campos, falecido em 2022, um dos pioneiros nas homenagens em Caraguatatuba, os umbandistas de São José dos Campos desciam a serra na carroceria de um caminhão, na década de 50, para homenagear Iemanjá na praia central de Caraguatatuba.
“A gente viajava pela estrada de terra ligava Paraibuna até Caraguatatuba”, lembrou. Segundo ele, quando chovia, as árvores caiam na estrada, impedindo a passagem dos caminhões. “A gente descia, cortava os troncos e abria caminho para o caminhão continuar a viagem”, contou ele.
Seu Milton contou que tinha 16 anos de idade quando começou a participar das festividades em Caraguatatuba. Ele faleceu em fevereiro de 2022, aos 81 anos. Em dezembro de 2021, seu Milton, que atuava na Casa de Umbanda Pai José de Palma e Caboco Rompe Mato, na região central de São José dos Campos, foi homenageado pelo prefeito de Caraguatatuba, Aguilar Júnior, pelos relevantes serviços dedicados a realização da Festa de Iemanjá da cidade, uma das mais tradicionais do litoral paulista.
Segundo ele, na década de 50, cerca de 100 pessoas das cidades do Vale do Paraíba, participava das homenagens. As tendas eram instaladas nas areias da praia do Centro. Seu Milton participava da Tenda Espírito de Umbanda Pai José da Palma e Caboclo Rompe Mato. Ele foi durante muitos anos um dos principais responsáveis pela festividade e amigo inseparável do seu Francisco D’ Onofrio, de Caraguatatuba e um dos fundadores da Liga União Federativa de Umbanda e Candomblé do Litoral Norte.
A Lifuc (Liga União Federativa de Umbanda e Candomblé) contou com a participação de muita gente de em Caraguatatuba. O comerciante Pedro Luiz Correa da Silva, o “Pedrinho”, já falecido, foi o primeiro presidente da Liga. Silvio Fernandes, empresário de Caraguatatuba, também, já falecido, foi outro que se dedicou e muito a entidade e aos eventos de Iemanjá promovidos na cidade.
Estátua
A estátua de Iemanjá foi instalada na praia do centro de Caraguatatuba em 1985, por iniciativa de seu D’ Onofrio e seu Milton. O monumento com dois metros de altura, fica a 1,80 metros do solo e é um dos mais visitados na cidade.
Seu D’ Onofrio tinha 90 anos de idade quando decidiu fazer a estátua. Ele praticava o espiritismo há 66 anos. Seu Milton, lembrou muito bem como surgiu a ideia de se fazer a estátua de Iemanjá. Segundo ele, a ideia surgiu em 1984, quando os dois- ele e seu D’ Onofrio, foram limpar e restaurar a estátua de Santo Antônio, no alto do morro, que fica em frente a cidade. A imagem de Santo Antônio, instalada no morro em 1954, durante as comemorações do centenário da cidade, enfrentava problemas com ações de vândalos.
“Conseguimos a autorização e o D’Onofrio iniciou a construção da estátua, que foi inaugurada em 1985”, contou. A estátua chegou a provocar muita polêmica na cidade. No início da década de 90, um vereador, conhecido como “pastor Anderson”, adepto da Igreja Universal, fez uma forte campanha para retirar a estátua da praia do centro. A proposta dele causou muita controvérsia, mas não obteve sucesso. A pressão feita pelo vereador não deu em nada.
A Festa de Iemanjá acabou entrando no calendário oficial da cidade. A estátua é visitada diariamente por turistas de passagem pela cidade. Em 2015, a estátua passou por uma reforma, feita pelo artista plástico Roberto Gallo.
As homenagens à Iemanjá são muito tradicionais em Caraguatatuba. Tradicionalmente, as homenagens ocorrem nos dias 8 de dezembro (Umbanda) e 3 de fevereiro (Candomblé). A cada ano aumenta o número de entidades participantes e o número de visitantes cresce, tornando a festa de Iemanjá num atrativo turístico religioso.
Iemanjá
O Dia de Iemanjá é comemorado em 2 de fevereiro. Iemanjá, também conhecida como “Rainha do Mar” é um orixá africano feminino, e faz parte da religião do candomblé e de outras religiões afro-brasileiras.
No Litoral Norte, em Caraguatatuba, o dia de Iemanjá é comemorado sempre no segundo sábado de dezembro para não coincidir com o evento evangélico “Marcha para Jesus”. No dia 2 de fevereiro, também, ocorrem várias homenagens nas praias da cidade, mas espontaneamente.
O Dia de Iemanjá é a maior festa em honra a este orixá, quando milhares de pessoas se vestem de branco e vão às praias depositar oferendas, como espelhos, joias, comidas, perfumes e outros objetos.