Três guaranis são pré-candidatos a vereador em São Sebastião, Ubatuba e Bertioga; a proposta é defender os interesses dos povos originários
Por Salim Burihan
Os guaranis do Litoral Norte Paulista tentarão eleger pela primeira vez, nas eleições municipais de outubro deste ano, um de seus representantes nas Câmaras Municipais do Litoral Norte Paulista. Os guaranis decidiram concorrer às eleições municipais de três cidades da região Ubatuba, São Sebastião e Bertioga.
A aldeia do Rio Silveira, que fica na divisa de São Sebastião e Bertioga, terá dois candidatos nas eleições de outubro deste ano. O cacique Mariano Guarani será candidato a vereador pelo PDT em Bertioga. O cacique Adolfo Timóteo será candidato pelo PV em São Sebastião. A líder guarani Luiza Kerexu, da aldeia Boa Vista, em Ubatuba, será candidata em uma candidatura coletiva pelo PSOL com participação de uma quilombola e uma caiçara.
Aldeia Rio Silveira
O Cacique Mariano Guarani, da aldeia Rio Silveira, é vice-presidente do Movimento Indígena do PDT no estado de São Paulo. O cacique já anunciou sua pré-candidatura a vereador em Bertioga, pelo PDT.
Ele tem 49 anos, vive na aldeia e pertence ao povo guarani mbya, atuou como agente da saúde indígena, trabalhou no Centro Histórico de Bertioga e atualmente, e professor na escola estadual indígena EEI Aldeia Ma’Endu’a Porã, em Bertioga.
“Minha vida é dedicada à preservação da cultura indígena e à defesa do meio ambiente. Trabalho para manter vivas nossas tradições e conhecimentos ancestrais, promovendo a educação e a valorização cultural. Luto pela proteção das florestas, rios e biodiversidade, e defendo um desenvolvimento sustentável”, divulgou seus objetivos como pré-candidato nas suas redes sociais.
O cacique Adolfo Wera Mirim, também, da aldeia do Rio Silveira, é pré-candidato o a vereador pelo PV em São Sebastião. O PV integra a coligação Federação Brasil da Esperança formada pelos partidos PT, PCdoB e PV. A coligação teve sua convenção realizada ontem, sábado(3), onde iria confirmar os seus candidatos a vereador e o apoio ao candidato a prefeito professor Glaivison, do Progressistas, em São Sebastião.
O cacique Adolfo Timóteo Wera Mirim tem 59 anos, tem ensino médio completo e foi o 1° indígena a ser eleito como Presidente do Conselho Estadual dos Povos Indígenas do Estado de São Paulo. Em 2022, concorreu a Câmara Federal compondo um mandato coletivo formado por candidatos do PSOL e Rede. Entre algumas de suas propostas, está a criação de projetos turísticos organizados para gerar renda e apoiar pequenos e médios empreendedores, afim de gerar recursos e maiores oportunidades para as pessoas que mais precisam.
A aldeia do Rio Silveira ocupa 948 hectares e está localizada na divisa dos municípios de Bertioga e São Sebastião, em área adjacente ao Parque Estadual da Serra do Mar. O local abriga cerca de 120 famílias da etnia tupi-guarani. Os guaranis do Rio Silveira vivem da produção do artesanato, da caça, da pesca e da agricultura, com o cultivo de palmito e plantas ornamentais.
PSOL em Ubatuba
Luiza Kerexu Oliveira é uma liderança guarani da aldeia Boa Vista, em Ubatuba. Luíza tem 37 anos, quatro filhos e uma neta. É a primeira vez que disputará uma eleição. Luiza participará de uma candidatura coletiva pelo PSOL que é composta por ela, representando os guaranis; uma quilombola, dona Laura, do quilombo da Fazenda (na Picinguaba); e, uma caiçara, Patrícia, da praia da Picinguaba, região norte de Ubatuba. As candidaturas coletivas são formadas por duas ou mais pessoas, mas apenas uma delas assume o cargo como titular. Caso sejam eleitos, os membros passam a ter um mandato coletivo, onde decidem coletivamente sobre propostas e votos
Em março deste ano, Luiza Querexu Oliveira, da aldeia guarani da Boa Vista, no Prumirim, foi homenageada pela Câmara Municipal de Ubatuba por sua atuação na defesa dos interesses indígenas, entre eles, a demarcação das terras e o combate as invasões nas áreas guaranis. Ela é coordenadora regional da Comissão Guarani Yvirupá Sul e Sudeste para demarcação de terras contra invasões, sendo uma liderança respeitada na aldeia guarani Mbya da Boa Vista, no Prumirim.
Luiza é também conselheira municipal dos povos indígenas e comunidades tradicionais de Ubatuba. Ela ainda integra o Fórum das Comunidades Tradicionais -CPP-elaborando e aplicando projetos no território indígena e atua também no turismo de base comunitária na aldeia Boa Vista, fazendo agendamento de visitas e coordenando monitores.
“É a minha primeira experiência na política”, explica Luíza, que vive na aldeia onde faz artesanato, atua como guia no turismo de base comunitária promovido na aldeia Boa Vista e ainda dá palestras em escolas do município e região. Ela é uma das lideranças da aldeia que tem como cacique, Marcos Tupã.
Segundo ela, a ideia dela e das duas participantes da candidatura coletiva é defender as causas das comunidades originárias de Ubatuba: os guaranis, dos quilombolas e dos caiçaras. “Vamos defender, entre outras coisas, mais Educação, Saúde e Renda (geração de empregos) nessas comunidades”, contou Luíza.
Luíza explica que não tá fácil viver hoje em dia apenas do plantio do palmito e do artesanato. “Precisamos expandir o turismo de base comunitária”, sugeriu. . O turismo sustentável e organizado nas aldeias, nos quilombos e nas comunidades tradicionais caiçaras, segundo ela, pode ser uma das melhores alternativas para gerar renda aos povos originários.
Segundo Luíza, as três candidatas pretendem representar, caso eleitas forem, todas as quatro aldeias indígenas, os quatro quilombos e todas as comunidades tradicionais caiçaras de Ubatuba.
Ubatuba conta com quatro aldeias indígenas: a Renascer, a Boa Vista, a Itamambuca e a Rio Bonito. Vivem nas aldeias, segundo dados do IBGE de 2022, um total de 643 indígenas, que representam 0,69% da população do município.
A cidade tem 1.371 quilombolas, 1,5% da população local, segundo o IBGE, que vivem em quatro quilombos: Caçandoca, Camburi, Fazenda(Picinguaba) e Sertão de Itamambuca. Não existe um levantamento sobre a população tradicionalmente caiçara no município, mas ela é muito significativa, apesar do grande número de pessoas d fora que passaram a morar na cidade a partir da década de 60. Ubatuba conta atualmente com cerca de 98 mil habitantes.