Uma canoa, quase centenária, está sendo recuperada por um pescador caiçara em Caraguatatuba, no Litoral Norte Paulista. A ”Rainha da Paz”, com oito metros de comprimento e um metro e dez de boca, foi feita de jequitibá. Segundo os caiçaras, a embarcação foi construída em Boiçucanga, na costa sul de São Sebastião, há mais de 80 anos.
A canoa está há 30 anos no bairro do Camaroeiro, local onde vivem e ainda se concentram os pescadores tradicionais caiçaras de Caraguatatuba. Segundo o caiçara Miguel Cortez, a embarcação passou por vários donos, entre eles, os pescadores Nilo, Dito Costa e hoje, pertence a Luiz Carlos Quirino.
Cortez é quem está fazendo a recuperação da canoa. Ele explicou que a embarcação ficou muito tempo fora da água, cerca de três anos e mesmo coberta, parte de sua madeira foi consumida pelas formigas. Ele acredita que levará dois meses para recuperar a embarcação, que também receberá uma nova pintura.
O atual dono da “Rainha da Paz” , Luiz Carlos Quirino acredita que a recuperação da embarcação ficará em torno de R$ 7 mil. Uma canoa deste porte nova, segundo ele, hoje, custaria em torno de R$ 30 mil, sem o motor.
“Vamos recuperar a parte de madeira, depois lixar e pintar. A ideia é deixar ela como era antes. Daqui uns dias, você, se passar por aqui não vai reconhecer a canoa”, contou. A canoa tinha um motor de centro, da marca Yamaha. A “Rainha da Paz” era usada na pesca da Tainha e da Curvina.
Segundo ele, hoje, a maioria dos pescadores estão proibidos de pescar a Tainha, pois a Polícia Ambiental exige uma licença específica para este tipo de pesca e a maioria dos pescadores possui uma licença para pesca de peixes diversos, mas que não vale para a pesca da Tainha.
Os pescadores do Camaroeiro consideram a canoa uma raridade, por ser uma das mais antigas de Caraguatatuba. ” É uma das mais antigas aqui no Camaroeiro. Ela tem muitas histórias e a sua recuperação sensibiliza a toda a comunidade caiçara de nossa cidade”, argumenta Cortez.
Cortez disse que tem uma canoa parecida a “São Pedro”, com sete metros de comprimento e um metro de boca. Cortez passa várias horas por dia trabalhando na recuperação de embarcação, sempre rodeado por vários outros pescadores que ajudam ou dão palpite no serviço.
“Essa canoa é muito importante para os caiçaras, uma das mais antigas e uma das poucas deste tamanho na comunidade caiçara. Trata-se de uma relíquia, um verdadeiro patrimônio cultural”, afirma Quirino.
Atração Turística
Em Ilhabela, também, no Litoral Norte Paulista, a canoa “Vencedora” , construída há mais de 100 anos, é considerada um dos principais símbolos da tradição caiçara do município e exposta para visitação no Parque Fazenda Engenho D’Água, transformou-se em atração turística. Antigamente, a canoa ficava exposta na praça Coronel Julião, Vila (Centro Histórico).
A canoa -de- voga Vencedora tem 11 metros de comprimento e foi construída em tronco de jequitibá. A embarcação foi doada em 1998 para a Prefeitura de Ilhabela pela caiçara de origem nipônica Renato Kengo Imakawa, que a herdou de seu avô, Bungoro Naka, que tinha a canoa desde 1908. A canoa foi utilizada para o transporte de mercadoria e venda de aguardente na cidade de Santos desde o século XIX.
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A canoa teve a primeira restauração no início dos anos 2000, feita pelo mestre canoeiro, Antônio Rafael de Souza, que aos 89 anos restaurou a embarcação, que foi exposta na Praça Coronel Julião, no Centro da Vila. Em 2009, devido às depredações que vinha sofrendo, a canoa, foi tirada da praça e levada para um espaço ao lado do antigo prédio da Cadeia e Fórum da Vila.
Em 2017, a embarcação foi levada para a praia da Santa Teresa, onde em 2018, passaria por nova restauração, desta vez, pelo carpinteiro náutico Marco Antônio Rafael de Souza, Em maio de 2018, a canoa voltou a ficar exposta na Praça Coronel Julião.
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Exposta à chuva e sol, a canoa precisou ser novamente restaurada, em 2021, mais uma vez sob os cuidados de Marco Rafael de Souza, Amílton Rafael, com a colaboração do amigo Nilo Mathias. A canoa Vencedora passou por novo processo de restauração, após análise das partes danificadas, como madeira podre e infestadas por cupim, sendo retiradas e preenchidas com madeira. Foi feita ainda uma dedetização para maior proteção e aplicada uma massa para o acabamento e depois aplicada uma nova pintura. Após a restauração, a canoa foi levada para o Parque Fazenda Engenho D’Água e instalada em local coberto com todo cuidado e manutenção adequada.