Morre Bidico, aos 90 anos, pescador mais antigo da comunidade do Camaroeiro, em Caraguatatuba

 

 

Será sepultado às 11 horas desta sexta-feira(23), em Caraguatatuba, no litoral norte paulista, o corpo de Benedito Joaquim do Nascimento, o “Bidico”, o mais antigo pescador do bairro do Camaroeiro, o reduto mais antigo de pescadores artesanais do município. 

 

Benedito Joaquim do Nascimento, o “Bidico”. Foto: Angélica Santos.

 

Bidico, de 90 anos, completaria 91 anos em abril próximo, faleceu no início da tarde de ontem, quinta-feira(22). As causas de sua morte não foram reveladas. O sepultamento ocorrerá no Cemitério Municipal de Caraguatatuba, no bairro do Indaiá. 

 

Nascido no bairro da Tabatinga, em Ubatuba, Bidico cresceu e constituiu sua família no bairro do Camaroeiro, em Caraguatatuba. Nos registros da Colônia dos Pescadores Z 8 Benjamin Constant, Bidico era o pescador mais antigo ainda em atividade no reduto do Camaroeiro. 

 

Segundo familiares, Bidico não praticava mais a pesca há cerca de cinco anos devido a sua saúde debilitada. Como pescador, ele sempre foi considerado um dos importantes e conceituados na praia do Camaroeiro, reduto da pesca artesanal em Caraguatatuba. 

 

Em 2001, o pescador foi entrevistado pelo Arquivo Público de Caraguatatuba “Arino Sant’Ana de Barros”e contou coisas bem interessantes de sua vida no Camaroeiro. 

Pesca antigamente: 

É de puçá né, também a gente tinha rede em casa também, mais isso ai é pra comércio já né, e a gente pegava e lavava os… dez, doze canoa e ia embora até pra lá do canal pescá, depois quando chegava onze horas, meio dia, lavava o… e vinha pra cá com o outro vento que era leste né, depois chegava aqui e enfiava tudo em fieira e ia vendê na cidade, vendia tudo, né?

 

Conservação do pescado:

 

Quando a gente matava os peixe nois secava no sol com sal, a gente matava duas, três, quatro mil tainha com a nossa rede, repartia cada um pegava os seus… como diz e a gente secava, levava no rio escamava ela tudo e secava no sol. Quatro, quinhentos, seiscentos, setecentos mil tainhas cada vez pra secá, depois um dia secou… na cidade mesmo chegou na cidade o pessoal levava muito pra… de cavalo, né?

 

Roça vira cidade: 

 

As mulheres de antigamente também trabalhava muito né, na roça, em casa de pessoa e coisa e tudo né, antigamente a gente pescava e trabalhava na roça também né. Acho que aqui no Centro tinha argum que ainda trabalhava em roça, tinha muita roça por aqui também. Não, tinha por perto poucas casa tinha, aqui era um matagal só não tinha nada disso aí, nem uma… mato tudo essas rua tudo, pra Prainha tudo só tinha um caminho de trilha né, depois que foi movimentando, foi indo, foi indo, foi indo e então virou uma cidade né.

 

Nas décadas de 60, Bidico foi um dos idealizadores da procissão marítima de São Pedro, juntamente com Sebastião Isidoro, Canhoto, João e o farmacêutico Bileco. A procissão acontece até hoje, promovida pela Fundação Cultural.  

 

Em 2005, Bidico foi homenageado pelo então prefeito José Pereira de Aguilar, que concedeu seu nome ainda em vida a praça da rotatória do Camaroeiro,  onde um monumento homenageia os pescadores tradicionais da cidade. 

 

Bidico e o amigo Charles Medeiros, de Ubatuba

 

Em março de 2017, recebeu homenagem do prefeito Aguilar Júnior, como um dos heróis da catástrofe de 1967,  quando uma tromba d’água matou centenas de pessoas e destruiu parcialmente a cidade. 

 

Com a morte de Benedito Joaquim do Nascimento, o Bidico, o pescador mais antigo em atividade no Camaroeiro em Caraguatatuba passa a ser Benedito Francisco do Espírito Santos, de 80 anos.

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