Ações voluntárias protegem árvores, rios, costeiras e pets no litoral norte paulista

 

Por Salim Burihan

 

Moradores, veranistas e frequentadores das cidades do Litoral Norte Paulista vem se dedicando a ações voluntárias na proteção ao meio ambiente e na defesa de causas animais. A maioria dessas ações acontece por iniciativa das próprias pessoas envolvidas e sem apoio das prefeituras.

 

Em Ubatuba, por exemplo, o comerciante Onadio Paida,  de 51 anos, há 3 anos faz a “limpeza das arvores”, dentre elas, amendoeiras, pau Brasil e amoreiras. Ele já limpou e cuidou de mais de 100 árvores. Não tem ajuda de ninguém, tudo por conta dele, as vezes, alguns voluntários ajudam. Segundo ele, o trabalho precisa ser contínuo pois, as árvores estão definhando e o peso das pragas, quando dá ventania, facilita o rompimento dos galhos e, também, que sem esse trabalho muitas morrem. O trabalho é voluntário e segundo ele, preventivo. Ele retira, por exemplo, a erva de passarinho, uma praga que atinge as árvores.

 

Onadio Paida,  de 51 anos, “cuida” das arvores de Ubatuba

 

Ele explicou que começou fazer a limpeza das árvores que ficam na praça próxima ao seu comércio e, que em seguida, passou a cuidar das espécies plantadas na orla do Itaguá. Segundo ele, tudo começou quando percebeu que as árvores estavam morrendo por causas das pragas. Onadio disse que comprou equipamentos de segurança e passou a cuidar delas. Ele investiu cerca de R$ 3 mil na compra da escada, serras e cinto de segurança.

 

Ele garante que como já tinha algum conhecimento em podas, pois quando criança trabalhou com os pais no campo na cidade de Jacutinga(RS) onde adquiriu experiência em cuidados com a natureza. O trabalho, segundo ele, acabou dando muito certo. “As árvores que tenho cuidado estão bem saudáveis enquanto as outras continuam sofrendo”, conta Onadio.

 

Onadio faz a limpeza de árvores de 3 a 4 vezes ao mês, sempre, das 8 às 13 horas. Não possui qualquer ajuda financeira. Segundo ele, de vez em quando a prefeitura ajuda na retirada do material retirado das árvores. Ele disse que assim que iniciou o seu trabalho voluntario a prefeitura voltou a fazer a limpeza das árvores da cidade. Segundo ele, a prefeitura começou a fazer novamente o serviço graças a insistência dele.

 

Lidi Keche, diretora ambiental da Ong Tamoio de Ubatuba, considera importante o trabalho voluntário de Onadio. “Ele salvou muitas árvores e realiza um trabalho voluntário muito importante para a preservação ambiental em Ubatuba” comentou.  Ela disse que lembra quando ele limpou a primeira árvore, uma pitangueira, que após os cuidados dele ficou muito bonita e passou a dar frutos. A partir daí, segundo ela, Onadio passou a cuidar das outras árvores, conseguindo chamar a atenção da prefeitura, que agora vem dando suporte.

 

A Ong Tamoio de Ubatuba, também, tem se envolvido em ações voluntárias importantes no município. Os integrantes da entidade fazem a limpeza dos principais rios da cidade, entre eles, o rio Tavares. A Ong também ajuda a “reflorestar” praias com o plantio de jundu e plantas nativas, como foi feito recentemente, na praia Vermelha do Norte.   A ação do Tamoio de Ubatuba atraiu a atenção da Família Schurmann que esteve na cidade em setembro de 2021 para conhecer as ações da entidade logo no início do  Projeto “A Voz dos Oceano”  que percorrerá 60 locais estratégicos no Planeta com a finalidade de sensibilizar a população mundial a respeito do lixo nos oceanos, especialmente os plásticos.

 

Integrantes do Tamoio de Ubatuba limpando as margens do rio Tavares

 

Com relação a manutenção das árvores na cidade, Leonardo Andrew, o secretário municipal de Infraestrutura da Prefeitura de Ubatuba, esclareceu que a equipe da secretaria realiza podas semanais nas praças e na orla com a participação de 10 funcionários. A ênfase da pasta recai sobre espécies nativas, como quaresmeiras, angicos, araçás, cedro rosa, canela amarela, ingás, pau-jacaré, guanandi, figueiras, urucum e aroeiras. Contudo, essa não é uma regra exata, uma vez que moradores e empresários frequentemente fazem doações de outras variedades, as quais também são incorporadas para enriquecer o paisagismo local.

 

Guardião das costeiras

 

Giliard Ferreira, de 43 anos, o “guardião das costeiras”

 

Em Caraguatatuba, Giliard Ferreira, de 43 anos, conhecido como o “guardião das costeiras” realiza há muitos anos um trabalho voluntário que tem repercutido e muito na cidade e região. Ele se dedica a limpar praias, costeiras, mangues, ilhas e pontos turísticos há oito anos em Caraguatatuba, São Sebastião e Ubatuba. Segundo ele, mais ou menos limpa 40 praias, 18 delas em Caraguatatuba. Acredita retirar 5 toneladas de lixo por ano, cerca de 40 toneladas nos últimos oito anos, incluindo, lixo procedente de outros países.

 

Giliard conta que após ficar desempregado decidiu criar um projeto para limpar as costeiras, praias e pontos turísticos. Em troca, ele recebe de lojas e restaurantes, alimentos, roupas, calçados e ajuda financeira para manter a família. Giliard trabalha de segunda até sexta-feira, em média, seis horas por dia. Usa luvas e botas, utiliza sacos de lixo grossos, devido ao recolhimento de materiais cortantes como vidros e uma espécie de “pegador” adaptado para recolher micro lixo.

 

Giliard recolhe lixo e micro lixo em locais onde os garis da Prefeitura da cidade ou da empresa terceirizada não conseguem chegar, como nas costeiras, encostas, mangues e trilhas. Ele explica que nas praias os lixos mais coletados são embalagens plásticas de alimentos, garrafas pets e latinhas de cerveja; nas costeiras, são lixos produzidos por pescadores: resto de iscas, pedaços de isopor, naylon e bitucas de cigarro; e, nos mangues e boca de rios, recolhe lixos que são produzidos nos bairros periféricos que são levados pela chuva e córregos: sapato, sofá, roupas e panela; nos pontos turísticos, explica que recolhe garrafas de água, embalagens de alimentos e bitucas de cigarro.

 

Ele conta que já encontrou coisas estranhas nas limpezas realizadas nas praias, mangues e costeiras. Em dezembro de 2019, por exemplo, durante a limpeza do mangue do Camaroeiro, em Caraguatatuba, ele encontrou uma granada de efeito moral, fabricada em 2010. O artefato, ainda intacto, foi entregue na delegacia de polícia da cidade e, em seguida, encaminhado para a Polícia Federal onde passaria por perícia técnica para apurar a procedência.  Ele também contou que já recolheu privadas abandonadas nos mangues e até em costeiras.

 

Segundo ele, “algumas relíquias” encontradas no lixo, entre elas, latinhas de refrigerante e cerveja comemorativas das copas do mundo de 1994 e 1998, leva para sua casa para compor o “acervo” que utiliza nas palestras que dá em escolas públicas e privadas. Giliard, que tem o segundo grau completo, sempre é convidado para dar palestras em escolas. Ele não cobra nada, apenas solicita um certificado para ampliar seu curriculum como ativista ambiental. Foram mais de 30 palestras até agora em Caraguatatuba, São Sebastião e Ubatuba.

 

Ultimamente, Giliard anda indignado com trabalhos feitos por simpatizantes da umbanda nas costeiras e encostas onde ficam pontos turísticos. Velas, aves e animais sacrificados, oferendas utilizados nos rituais ficam abandonados nesses locais. “Acho que isso deveria ser feito em outros locais, não nas costeiras e em acessos aos pontos turísticos, como no caminho até o Monumento de Sant Antônio. Deveria haver uma campanha neste sentido. Não tenho nada contra os rituais, apenas entendo que nesses locais, as coisas que são usadas oferecem riscos aos frequentadores. Quem usa a costeira para pescar, por exemplo, pode escorregar após pisar na vela derretida e sofrer um acidente grave”,  argumentou.

 

O comerciante Rodrigo Gonçalves Rahal, do Gamboa Restaurante, um dos mais procurados na praia Martim de Sá ´´e um dos colaboradores de Giliard fornecendo almoço e uma pequena ajuda financeira pelo trabalho executado. Segundo Rahal, Giliard executa sozinho o trabalho que nenhuma empresa até hoje realizou na cidade que é recolher o lixo nos mangues e costeiras da cidade. Segundo ele, trata-se de um trabalho dos mais importantes para uma cidade que vive e depende do turismo.

 

A prefeitura de Caraguatatuba informou que a limpeza das praias é feita pela Renovar, uma empresa terceirizada, por uma equipe de 15 pessoas. A prefeitura não informou o valor do contrato. Segundo a prefeitura, as praias mais frequentadas como Centro, Martim de Sá e Cocanha, recebem as equipes diariamente. As demais praias são limpas 3 vezes por semana. Segundo a prefeitura, são retirados semanalmente das praias uma média de 15 a 20 toneladas de detritos.

 

Segundo a prefeitura, além dos detritos verdes (galhos, folhas, etc), os lixos mais recolhidos são copos plásticos, garrafas pet, garrafas de vidro, fraldas descartáveis, embalagens de marmita, micro-lixos como papel de bala, palitos de sorvete e pirulito, e bitucas de cigarro. Em dezembro as equipes serão reforçadas com a contratação de mais 15 pessoas, com objetivo de manter a limpeza das praias no período da temporada. A prefeitura lembra que durante o verão, são feitos mutirões de limpeza na areia das praias com apoio de voluntários. A prefeitura explicou que não faz a limpeza nas duas praias da Ilha do Tamamduá por trata-se de uma área particular. Contudo, a preocupação ambiental com o lugar existe e que em algumas ocasiões são feitas ações voluntárias de limpeza, promovidas pelas Secretarias de Urbanismo e de Meio Ambiente, Agricultura e Pesca.

 

Causa animal

 

Carla Lindemberg recolhe animais abandonados em Caraguatatuba e cuida deles até serem adotados

Carla Lindemberg, é uma voluntária da causa animal. Vive levando animais para sua casa em Caraguatatuba, tratando e cuidando de todos eles com a ajuda de amigos e de rifas para a compra de remédios e até para pagamento de cirurgias. Faz isso desde 2015, quando recolheu nas ruas a cachorra Maria Vitória que havia sido atropelada e abandonada. Carla investiu tudo o que tinha na recuperação da cachorra e conseguiu até uma espécie de “cadeira de rodas” para que o animal pudesse se locomover. A partir daí, nunca mais deixou de recolher um animal abandonado nas ruas da cidade. Maria Vitória morreu de câncer em 2021.

 

 

Atualmente, está rifando um airfryer eletrolux , um fone de ouvido bluetooth + uma caixa de som ( doado por Ju Carneiro), e um caotil (reservatório de água e ração para viagem de pets, que foi doado por Ricardo Freitas).

 

Cada número custa R$ 10,00. Parte da renda será destinada para a compra de vermífugos para os 16 cachorros que resgatou e ainda não foram adotados. Outra parte da renda será destinada à compra de remédios para tratar do coração do Thor, um velho cão da raça pitbull, com problemas no coração, que foi abandonado pelos tutores.

 

“Eu comecei a resgatar animais em 2015 não fazia muito tempo que eu tinha me mudado para Caraguatatuba. Depois que você resgata um animal, fica difícil não conseguir mais vê-los nas ruas sofrendo. Eles precisam do ser humano 100%, tanto para comer, para beber água, para ir no veterinário, para medicar e vacinar. Os animais são como crianças nas ruas e como dar as costas quando um anjinho desse pede socorro, ou porque foi atropelado e ficou jogado na sarjeta ou porque está doente ou morrendo?”, afirma.

 

Carla explica que tem 16 cachorros em casa, todos eles passaram pelo veterinário, foram castrados e vacinados e todos com as vacinas em dia. “Não os pego no intuito de adota-los e sim, de ajuda-los e doa-los. Infelizmente, essa prática de adoção está se tornando cada vez mais difícil. As pessoas querem filhotes e animais de raça. Animais de raça indefinida ou mais idosos, infelizmente, nem sempre são adotados”, lamenta.

 

Ela conta que gasta quase todo o seu ordenado para manter os animais. Amigos fazem rifas para ajudar a arrecadar recurso para compra da ração, de medicamentos e exames veterinários.  “É preciso uma política mais séria por parte do estado, da prefeitura e até do governo federal para animais de rua. Muitas famílias abandonam seus animais por não ter como mantê-los. Esses bichinhos não podem e não devem ficar abandonados nas ruas. Isso é uma crueldade, além de se tornar um problema de saúde pública”, finaliza.

 

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