Estátua foi instalada na praia central de Caraguatatuba há 38 anos; mas homenagens nas praias acontecem desde a década de 60
A Prefeitura de Caraguatatuba, por meio da Secretaria de Turismo, realiza neste sábado (09), às 19h, a 39ª Festa de Iemanjá. O evento é promovido na Praia do Centro e conta com a participação de 62 casas religiosas. A expectativa é que mais de 10 mil pessoas participem da festividade.
A concentração dos religiosos será ao lado da Estátua de Iemanjá, no Centro. O evento tem previsão para ser finalizado às 6h do dia 10 de dezembro (domingo). Como já é tradicional, a Festa de Iemanjá contará com espaços determinados para que os integrantes das instituições façam suas homenagens à divindade.
No dia da festividade, o período de montagem das tendas será das 8h às 15h. São 11 casas de Caraguatatuba e 51 das demais cidades, como Amparo, Botucatu, Caçapava, Campinas, Itatiba, Jacareí, Extrema, Guararema, Guaratinguetá, Guarulhos, Serra Negra, Tremembé, Mogi das Cruzes, São José dos Campos, São Paulo, Suzano, Taubaté, entre outras.
Às 17h, o grupo de maracatu Odé da Mata fará apresentação. É um dos cinco grupos de maracatu do Litoral Norte e representa as cidades de Caraguatatuba e São Sebastião. A Festa de Iemanjá faz parte do calendário oficial de eventos do município, de acordo com a Lei 2.267, de 12 de janeiro de 2016, aprovada e sancionada pela Câmara Municipal. O evento é gratuito e aberto a todos os públicos.
A Prefeitura destaca que é proibido depositar oferendas ao redor da imagem e não será permitida a permanência de veículos próximos aos espaços na praia, ficando cientes que esses estarão sujeitos às penalidades impostas pela Secretaria de Mobilidade Urbana e Proteção ao Cidadão.
Histórias
A estátua de Iemanjá foi instalada na praia do centro de Caraguatatuba em 1985, por iniciativa de seu Francisco D’ Onófrio, de 90 anos e seu Milton Balbino dos Santos, na época, com 43 anos. O monumento continua no mesmo local há 38 anos. A estátua mede dois metros de altura, fica a 1,80 metros do solo e é um dos monumentos mais visitados da cidade.
Estátua de Santo Antônio no alto do morro inspirou a construção do monumento à Iemanjá– Seu D’ Onofrio tinha 90 anos de idade quando decidiu fazer a estátua. Ele praticava o espiritismo há 66 anos. Seu Milton, lembra muito bem, quando surgiu a idéia de se fazer a estátua de Iemanjá. Segundo ele, a ideia surgiu em 1984, quando os dois- ele e seu D’ Onófrio, foram limpar e restaurar a estátua de Santo Antônio, no alto do morro que fica em frente a cidade. A imagem de Santo Antônio, instalada no morro em 1954, durante as comemorações do centenário da cidade, enfrentava problemas com ações de vândalos.
Contava seu Milton Balbino dos Santos, um dos pioneiros na organização da festa: “Falei prá ele (D’Onófrio) que se a gente construísse uma estátua de Iemanjá, na praia do centro, muita gente iria visitá-la ao longo do ano, como ocorria com a estátua de Santo Antônio instalada no alto do morro”. Ele contou que os dois foram no dia seguinte até a prefeitura e entregaram um ofício ao então prefeito Jair Nunes de Souza. O prefeito pediu que eles solicitassem autorização da Capitania dos Portos. “Conseguimos a autorização da Marinha e o D’Onófrio iniciou a construção da estátua, que foi inaugurada em 1985”, contou.
Pastor evangélico tentou tirar estátua da praia- A estátua chegou causar muita polêmica na cidade, no ano de 2000, quando o então vereador Anderson Silva Bertoncini (PPB), eleito com 666 votos, que era pastor evangélico, ameaçou retirar a imagem da praia do centro da cidade. Pastor Anderson, adepto da Igreja Universal, fez um projeto de lei propondo a retirada da estátua e fez campanha na Câmara, nos cultos, nas rádios locais, para que a estátua fosse tirada da praia central. A proposta dele gerou muita polêmica e revoltou a comunidade negra e adeptos da Umbanda e Candomblé, mas não obteve sucesso. Sem apoio popular, o então vereador propôs a mudança da estátua do centro para a praia das Palmeiras, na época, mais distante e pouco frequentada, mas também, não teve apoio. A pressão feita pelo vereador não deu em nada, pelo contrário, ajudou a tornar o monumento ainda mais conhecido e frequentado por visitantes de todo o estado. Anderson não conseguiu se reeleger vereador em 2004, obteve 712 votos disputando uma vaga na Câmara pelo PL.
Principais lideres já faleceram– Seu D’Onófrio faleceu na década de 90, foi um dos pioneiros nas organização das homenagens à Iemanjá em Caraguatatuba. Após a morte de D’Onófrio, Silvio Fernandes, proprietário do Náutico Clube das Palmeiras, assumiu a coordenação da festa. Com a morte de Sílvio nos anos 2000, seu Milton Balbino dos Santos, assumiu os festejos. Logo depois, o comerciante Pedro Luiz Correa da Silva, o “Pedrinho”, passou a coordenar as festividades. Pedrinho faleceu em 2014. Seu Milton Balbino ficou com a coordenação até 2021, quando adoentado ficou impossibilitado de coordenar o evento. Seu Milton faleceu no dia 7 de fevereiro do ano passado, deixando 11 filhos e 67 netos.
Artista plástico reformou a estátua– As homenagens feitas à Iemanjá atraiam cada vez mais visitantes e isso fez com que a prefeitura assumisse a organização das comemorações em dezembro e fevereiro e incluísse o evento no calendário oficial da cidade. A estátua foi reformada no início dos anos 2000 pelo artista plástico Roberto Gallo. Roberto Alves Gallo, cenógrafo e artista plástico, faleceu em julho deste ano, aos 66 anos. Ele era responsável pela cenografia do Bioparque Pantanal, maior maior aquário de água doce do mundo no Mato Grosso do Sul.
As homenagens à Iemanjá são muito tradicionais em Caraguatatuba. Acontecem há mais de mais de 60 anos nas areias das praias da cidade, entre elas, a do centro. Tradicionalmente, as homenagens ocorrem nos dias 8 de dezembro (Umbanda) e 3 de fevereiro(Candomblé). Em alguns anos, a festa chegou a receber cerca de 15 mil visitantes.