Movimento social pressiona pelo fim do embarque de cargas vivas pelo porto de São Sebastião

O Movimento social contra embarques de animais vivos pelo porto de São Sebastião ocupou a tribuna da Câmara Municipal de São Sebastião na noite de ontem, terça-feira, dia 5, para tentar sensibilizar os vereadores para a aprovação de um projeto de lei que proíba o embarque de cargas vivas pelo porto local.

 

 

Um dia antes, na segunda-feira, dia 4, o movimento entregou um esboço de projeto de lei à assessora do presidente da casa, vereador Marcos Fuly. Falta apenas, os vereadores conhecerem o projeto e colocar em votação. Ontem,  João Carlos Pereira Júnior, membro do movimento, que conta com apoio de entidades nacionais e internacionais, usou a tribuna para fazer um pronunciamento cujo objetivo é “barrar” a exportação de animais vivos pelo porto sebastianense.

 

João Carlos Pereira Júnior faz pronunciamento reivindicando aprovação de lei proibindo exportação de carga viva no porto sebastianense

 

Confira a integra do depoimento de João Carlos:

 

Boa noite!

Primeiramente eu gostaria de cumprimentar todos os vereadores, através do presidente desta casa de leis, vereador Marcos Fuly que, ouvindo o desejo da maioria da população, tem marchado ao nosso lado na busca de uma solução para o fim destes absurdos embarques de Bois Vivos pelo nosso Porto.

Quero cumprimentar também aos demais presentes, eleitores, companheiras e companheiros de luta, que como eu, estão dispostos a empenhar todos os esforços para que estes embarques cheguem a um fim.

Serei o mais breve possível ao me dirigir aos nobres vereadores ressaltando alguns fatos que não podem passar desapercebidos por ninguém, salientando que esta minha fala não é pessoal, mas representa os 393 membros do nosso Instagram e as mais de 1200 pessoas que assinaram, até este momento, nossa petição pública, pedindo o fim dos embarques: Esta casa é a casa do povo e os vereadores foram eleitos para representar a vontade popular; A imensa maioria da população, ouvida por nós do Movimento é contra os Embarques de animais vivos no Porto;

Estes embarques têm beneficiado apenas meia dúzia de empresas que não pagam um centavo de ICMS, ou seja, não contribuem com um centavo de imposto para o desenvolvimento da nossa cidade, nem um centavo para a educação, para a saúde, para a infraestrutura da cidade, Usam o nosso espaço, praticam a crueldade com os animais, na nossa cara, desfilando com os seus caminhões que nos deixam revoltados, indignados e impotentes, congestionam o trânsito e estragam as nossas vias e não nos deixam nada em troca. Repito: Nada!

Como foi cabalmente comprovado no nosso Seminário, realizado no dia 27 de outubro, nesta mesma casa, neste mesmo lugar, a crueldade se inicia quando os bois são retirados das fazendas e confinados em caminhões, apertados e insalubres, onde permanecem viajando por 8, 10 e até 12 horas, de pé, sem comida, sem água, expostos às curvas e ao calor das estradas. O absurdo continua quando estes pobres animais são embarcados nos navios sucata, apertados nas mesmas condições dos caminhões ou até piores para chacoalhar durantes semanas num mar imprevisível e muitas vezes revolto, sem ventilação ou refrigeração adequada, numa situação de crueldade e maus tratos evidente e absurda;

Quero ressaltar que estes caminhões espalham pela cidade não só tristeza, revolta e o mau cheiro, mas também, os resíduos das fezes e da urina destes bois, numa evidente situação de risco sanitário para toda a população da cidade. Lembro a vocês que cada boi produz de 30 a 35 quilos de fezes por dia. Cada navio transporta, pelo menos 5000 bois, ou seja, no mínimo 150 000 quilos de fezes por dia e fica uma pergunta que não pode ser calada: Onde vai parar tanto cocô de boi?

Estes navios sucata, em sua grande maioria, e isso também foi comprovado com dados e relatórios oficiais no nosso Seminário, tem mais de 30, 40 anos de uso e, vem daí o apelido, que não foi inventado por nós, de Navios Sucata. Pois bem, estes navios que oferecem risco à navegação, segundo relatório da própria Marinha do Brasil, têm sido multados, interditados e protagonizado dezenas de acidentes pelos portos de todo o mundo, como o que ocorreu em 2015, aqui mesmo no Brasil, no Porto da cidade de Barcarena, no Pará, onde o navio Haidar, como também foi mostrado e comprovado no nosso Seminário, adernou e naufragou ainda no Berço onde estava ancorado, matando afogado cerca de 5000 bois, inviabilizando por anos a pesca e a vida dos moradores de lá.

Imaginem os senhores se este acidente tivesse acontecido aqui no nosso Porto: Pensem o que seria de todos nós ao vermos 5000 carcaças apodrecidas de bois mortos boiando no Canal, pensem na repercussão nacional e mundial que este acidente traria. Podem imaginar o impacto no turismo? No meio ambiente, em nossas vidas e na economia da nossa cidade? Isso coloca em risco o emprego não só dos trabalhadores portuários, caso aconteça aqui também um destes acidentes, mas a sobrevivência de toda a cidade, já que a maioria de nós sebastianenses vivemos de trabalhos ligados à pesca, ao comércio e à cadeia do turismo;

Aliás, os vereadores que defendem os direitos dos portuários, deveriam ser os primeiros a estar do nosso lado pois, um acidente, num porto com a sobrevivência de toda a cidade, já que a maioria de nós sebastianenses vivemos de trabalhos ligados à pesca, ao comércio e à cadeia do turismo; Aliás, os vereadores que defendem os direitos dos portuários, deveriam ser os primeiros a estar do nosso lado pois, um acidente, num porto com um só berço de atracação, geraria milhares de trabalhadores desempregados por anos. Pensem nisso!;

 E por falar em acidente com navios sucata, senhores vereadores, convido vocês a se colocarem no lugar dos vereadores de Brumadinho, de Mariana e, agora mais recentemente de Maceió. Estes vereadores e todas as instâncias do poder público, foram avisados dos riscos das tragédias que abateram sobre estas 3 cidades e nada fizeram e deu no que deu. Nosso movimento, está aqui para avisar, para alertar mais uma vez, que estes embarques oferecem graves riscos à sobrevivência de todos os biomas protegidos pelas legislações ambientais, nacionais e internacionais e acredito que se vocês não proibirem, o quanto antes estes embarques, não poderão dizer que não sabiam dos riscos;

Ontem entregamos para a assessora do presidente desta casa, vereador Marcos Fuly, uma proposta de Projeto de Lei que resolve, definitivamente, esta questão e pedimos aos senhores que ouçam a vontade popular, demonstrada nas mais de 1200 assinaturas na nossa Petição Pública e, não só aprovem nossa proposta, mas se juntem a nós na defesa do Meio Ambiente e de uma melhor qualidade de vida para todos nós, moradores de São Sebastião; Nosso movimento está apenas começando e continuaremos somando forças para esclarecer e mobilizar a população e as autoridades responsáveis até conseguirmos parar com esta irracionalidade. Nós não pararemos nem nos calaremos! A História e a população de São Sebastião, saberão e lembrarão a todos e a todas de que lado cada um de nós esteve neste momento!

Muito Obrigado

 

Empresas faturam alto

 

Segundo João Carlos, apenas este ano foram exportados cerca de 200 mil animais vivos pelo porto sebastianense. “A cidade não lucra um centavo, mas as empresas faturam 7 mil euros por cada animal exportado pelo porto, conforme comentou o representante da Minerva, uma das empresas que exportam animais por São Sebastião”, contou.  A Minerva é uma multinacional brasileira responsável pelo embarque de 60% dos animais vivos para o exterior.

Porto

O porto sebastianense é um dos poucos no país a realizar a exportação de animais vivos para o exterior. Além do porto de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, as exportações de animais vivos também são feitas pelos portos de Rio Grande (RS), Imbituba (SC) e Vila do Conde (PA).

 

 

Até o mês de outubro, tinha sido exportados por São Sebastião cerca de 150 mil animais com destino à Turquia, que posteriormente, distribui os animais para outros países como Egito, Iraque, Palestina, Argélia, Emirados Árabes, Jordânia, Líbano, Irã e Marrocos.

 

As entidades ambientalistas contrárias ao embarque de cargas vivas consideram a atividade cruel e estressante para os animais. A viagem de navio entre São Sebastião e a Turquia pode durar de 18 a 20 dias. Ana Paula Vasconcelos, diretora jurídica do Fórum Animal, explica que o transporte de gado vivo é realizado de forma cruel, por longas distâncias, que pode durar semanas até o destino final.

 

Esses animais são submetidos a vários tipos de maus tratos, tais como: Elevadas temperaturas, ambientes insalubres, falta de alimentação e água, lesões físicas como fraturas, contusões e hematomas, tudo isso sem que recebam qualquer atendimento veterinário. Além dos danos aos indivíduos, temos também um grave impacto ambiental, pois, por onde passa, o navio vai lançando ao mar dejetos de milhares de animais, além dos cadáveres dos animais que também são descartados ao mar”, contou.  

 

 

 

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