O treinamento incluiu 14 dias a bordo da embarcação Ibis da renomada equipe de Resposta ao Emaranhamento de Animais Marinhos (Marine Animal Entanglement Response – MAER) do CCS – Center for Coastal Studies
Com o objetivo de aperfeiçoar continuamente as técnicas para desemalhe de baleias, no último mês, a convite do Centro de Mamíferos Aquáticos do ICMBio, o Instituto Argonauta participou de um treinamento no Laboratório Hiebert (Hiebert Lab) do Centro de Estudos Costeiros (Center for Coastal Studies – CCS) situado em Provincetown, no estado de Massachusetts (EUA).
O treinamento foi dividido entre teoria e prática, e a bordo da embarcação Ibis da renomada equipe do CCS. No mar, foi possível simular as técnicas e protocolos de segurança desenvolvidos para o desemalhe de baleias com a equipe MAER – reconhecida como líder mundial no resgate de baleias.
A formação foi viabilizada por meio da Rede Global de Resposta ao Emaranhamento de Baleias (Whale Entanglement Response Network – GWERN) – uma parceria entre o CCS e a Comissão Internacional das Baleias – CIB (The International Whaling Commission – IWC).
O programa para capacitar os países para a atividade de desemalhe, é realizado através da indicação de representantes governamentais de instituições participantes que integram a Rede Global de Resposta ao Emaranhamento de Baleias. No Brasil, a indicação e avaliação da proposta é feita pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos (CMA)/(ICMBio) e pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), sendo aprovada pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE).
O Instituto Argonauta foi representado pela bióloga e Diretora Executiva Carla Beatriz Barbosa. “Participar deste treinamento foi muito importante para ampliar nosso conhecimento e entender melhor a atividade de desemalhe, e poder replicar isso para a nossa equipe. Pudemos conhecer melhor os protocolos de segurança das pessoas e de segurança das baleias emalhadas. Foi muito emocionante poder participar, junto da equipe MAER do desemalhe, mesmo que parcial, de um filhote de baleia-Jubarte, e de uma tartaruga de couro”, comentou.
Além do Instituto Argonauta, também participaram da formação no CCS, representantes do CMA/Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e do VIVA Instituto Verde Azul. O treinamento foi conduzido por membros do Centro de Estudos Costeiros, incluindo David Mattila, coordenador do GWERN, que tem uma longa história de trabalho internacional com baleias.
A visita também foi uma oportunidade para o contingente brasileiro compartilhar informações sobre os esforços de conservação no Brasil, e aprender mais sobre as pesquisas que estão sendo realizadas no Centro de Estudos Costeiros.
O CSS é uma organização de pesquisa e conservação que tem por missão entender e proteger o ambiente marinho da região costeira de Cape Cod, bem como os ecossistemas marinhos em geral. O Centro realiza pesquisas científicas, educação ambiental e esforços de conservação para promover a preservação dos oceanos e da vida marinha e, desde 1984, libertou mais de 200 baleias e outros animais marinhos de emaranhados potencialmente fatais e, por esse motivo, desenvolveu técnicas e protocolos especializados que estão sendo compartilhados com conservacionistas de todo o mundo.
O emalhe é uma das ameaças mais significativa ao bem-estar dos cetáceos e um obstáculo à recuperação de algumas populações de baleias ameaçadas. O desemalhe de uma baleia é uma atividade extremamente arriscada que precisa ser feita, seguindo protocolos específicos que, no Brasil, estão sendo regulamentados pelo CMA-ICMBIO. A atividade somente deve ser realizada por uma equipe técnica capacitada e treinada para evitar ao máximo o risco a vida da equipe de salvamento. A capacitação e o uso de equipamentos corretos e adequados para este tipo de operação é muito importante para o sucesso da atividade.
Histórico de desemalhe
O Instituto Argonauta atua em todo litoral norte do Estado de São Paulo, e tem em seu histórico ocorrências e ações de sucesso na região envolvendo o desemalhe de animais marinhos, tendo participado de capacitações junto ao ICMBio nos últimos anos, contando com uma equipe treinada e capacitada para as ações.
Desde 2018 até o momento, o Instituto atendeu ocorrências envolvendo desemalhes de Baleia-de-bryde (Balaenoptera brydei), Jubartes (Megaptera novaeangliae) e Franca (Eubalaena australis).
Somente no ano de 2021, foram três Jubartes desemalhadas pela equipe do Argonauta. Uma das ocorrências aconteceu na região do Parcel de Itapecerica em Ilhabela/SP, e contou com o apoio da equipe do VIVA Instituto Verde Azul. Na ocasião, no primeiro dia do mês de agosto, o Instituto foi acionado por pescadores e, uma equipe devidamente treinada para esse tipo de atividade, se dirigiu até o local com equipamentos de desemalhe em um bote específico para esta finalidade. Na região conhecida como Borrifos, a baleia estava completamente envolta por uma rede de espera. A equipe conseguiu realizar o desemalhe, removendo 95% da rede do corpo do animal.
De acordo com o oceanógrafo Hugo Gallo Neto, presidente do Instituto Argonauta, pode ser muito perigosa a operação de desemalhar uma baleia, tanto para as pessoas que a executam como para o próprio animal, por isso é importante que seja acionada uma equipe especializada. O oceanógrafo ainda comenta sobre o sentimento para a instituição de liberar um animal marinho que esteja sendo impedido de alguma (por interação antrópica) de continuar a sua jornada. “Um dos momentos mais importantes e mais realizadores de todo trabalho de resgate e reabilitação de fauna que já executamos ao longo destes 25 anos em toda a região é justamente quando conseguimos liberar um animal tão especial quanto uma baleia, e descobrir que ele vai poder continuar a sua trajetória de vida por mais tempo na natureza. Nestes momentos, eu chego a pensar que, pelo menos um pouco, nós estamos tentando e conseguindo reverter o grande impacto que a atividade humana causa na fauna marinha”, disse. “Considero esse treinamento um reconhecimento também do trabalho que iniciamos desde o ano de 1996 com o Aquário de Ubatuba na defesa dos animais marinhos. A Carla Barbosa e a nossa instituição foram escolhidas para representarem o Brasil nesse tipo de treinamento, que é uma questão altamente técnica e especializada, e sobretudo que precisa ser executada com toda segurança tanto para o animal quanto para as pessoas envolvidas”, acrescentou.
Sobre o Instituto Argonauta
O @institutoargonauta foi fundado em 1998 pela Diretoria do Aquário de Ubatuba @aquariodeubatuba.oficial e reconhecido em 2007 como OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). O Instituto tem como objetivo a conservação do Meio Ambiente, em especial a conservação dos ecossistemas costeiros e marinhos. Para isso, apoia e desenvolve projetos de pesquisa, resgate e reabilitação da fauna marinha, educação ambiental e resíduos sólidos no ambiente marinho, entre outras atividades. O Instituto Argonauta também é uma das instituições executoras do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS).
Seja um Argonauta!
Venha conhecer o Museu da Vida Marinha @museudavidamarinha, na Avenida Governador Abreu Sodré, 1067 – Perequê-Açu, Ubatuba/SP, aberto diariamente.
Para acionar o serviço de resgate de mamíferos, tartarugas e aves marinhas, vivos debilitados ou mortos, entre em contato pelos telefones 0800-642-3341 (horário comercial) ou diretamente para o Instituto Argonauta: (12) 3833.4863 – 3833.5789/ (12) 3834.1382 (Aquário de Ubatuba) / (12) 3833.5753/ (12) 99705.6506 e (12) 99785.3615 – WhatsApp.
Também é possível baixar gratuitamente o aplicativo Argonauta, disponível para os sistemas operacionais iOS (APP Store) e Android (Play Store). No aplicativo, o internauta pode informar ocorrências de animais marinhos debilitados ou mortos em sua região, bem como informar ainda problemas ambientais nas praias, para que a equipe do Argonauta encaminhe a denúncia para os órgãos competentes.
Conheça mais sobre o nosso trabalho em: www.institutoargonauta.org, www.facebook.com/InstitutoArgonauta e Instagram: @institutoargonauta