Polícia investiga se capela de Ubatuba foi demolida por intolerância religiosa, vandalismo ou interesse imobiliário

 

A polícia civil investiga a demolição de uma igrejinha, supostamente centenária, segundo os moradores mais antigos, a Capela de São José, na praia do Félix, região norte de Ubatuba. A Capela de São José teria sido demolida no dia 21 de setembro. A Igreja Católica registrou um boletim de ocorrência cobrando das autoridades investigações sobre a demolição da capela.

As investigações devem apurar se a demolição ocorreu por intolerância religiosa, vandalismo ou interesses imobiliários. A capela pertence a paróquia do Perequê-Açú e estava há algum tempo desativada.

O padre Ronaldo Calixto dos Santos, da Paróquia Imaculada Conceição, do Perequê-Açu, registrou boletim de ocorrência sobre a demolição da capela pedindo que a polícia civil esclareça o caso.

O bispo Dom José Carlos Chacorowski, deve emitir uma nota oficial em nome da Diocese do Litoral Norte Paulista cobrando providências das autoridades sobre a demolição da Capela de São José.

 

Capela foi totalmente demolida; missa protesto será realizada no local onde existia a capelinha na terça, dia 3 de outubro

 

Missa protesto

Na próxima terça-feira, dia 3 de outubro, às 10 horas, será realizada uma missa protesto no local onde existia a capela, que será celebrada pelo padre Ronaldo e com a presença de dezenas de fiéis, a maioria de caiçaras de Ubatuba, que não se conformam com a demolição da capelinha.

A Igreja Católica quer obter com os moradores mais antigos, documentos de batismo, crismas e casamentos realizados na capela, para tentar identificar há quantos anos ela existia. Depoimentos de moradores relatam que a capela era centenária.

Seu Júlio Galdino, de 86 anos, que mora na praia do Félix, conta que a capela tinha sido construída de pau a pique pelos caiçaras da região norte de Ubatuba.  A capela tinha cobertura de folha de palha de coqueiro.

Ele recorda que quando criança, ajudou a reconstruir a capela, desta vez, com tijolos e material transportados de canoas da região central de Ubatuba até a praia do Felix.

Segundo seu Júlio Galdino, não havia acesso por terra ligando o centro de Ubatuba às praias e bairros da região norte. Oficialmente, a rodovia Rio-Santos foi aberta em 1970. Ele recorda ainda que estudou na capelinha junto com as demais crianças do Félix e lembra dos batizados e casamentos que frequentou no local.

 

Foto cedida pela comunidade de caiçaras de 1971 quando o então frei Piu inaugurou o primeiro sino da capela

Dona Eufrásia, de 86 anos, que vive atualmente no Perequê-Açú, também, lembra com carinho do tempo em ainda criança frequentava os batizados e casamentos realizados na capelinha. Assim como a maioria dos caiçaras mais antigos de Ubatuba, dona Eufrásia não se conforma com a demolição da capelinha.

O ex-vereador e caiçara Charles Medeiros conta que a demolição da capela afetou toda a comunidade caiçara de Ubatuba. “A capela era muito importante e significativa para a comunidade caiçara. A capela fazia parte da história da comunidade católica de Ubatuba. De lembranças e de memórias, quantos não foram batizados, crismados e casados na capela? Os caiçaras pretendiam restaurar e reativar as cerimônias na capelinha. Ela foi demolida justamente quando a comunidade pretendia reativá-la”, contou Medeiros.

Segundo ele, a capela sempre ocupou um espaço de uso comum do povo na praia do Félix, ou seja, ela não ocupava área particular. “Queremos que as autoridades tomem providências para esclarecer o que ocorreu, quem demoliu e se foi por intolerância religiosa, vandalismo ou interesse meramente imobiliário”, afirmou.

Investigações

O padre Ronaldo aguarda um posicionamento da polícia civil de Ubatuba. “A capela não foi construída da noite para o dia. Existia há dezenas de anos e ficou desativada quando os caiçaras deixarem a beira mar para viver nas encostas de Ubatuba. Não sei se ocupava área particular ou pública, isso não importa. Não poderia ser demolida. A capela tinha uma importância histórica e sentimental para o povo caiçara”, afirmou o padre Ronaldo.

Procurada, a prefeitura municipal de Ubatuba se manifestou sobre a demolição da Capela de São José, através da Fundação Cultural. Segundo o presidente da Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba(FundArt), Luiz Bischof, a prefeitura, através da fundação já está solicitando às seis paróquias de Ubatuba o local e a data da existência de cada uma das capelas existentes no município de Ubatuba. ” Com essa relação, iremos solicitar ao prefeito a elaboração de um projeto de lei que decrete a preservação das capelas como patrimônio histórico-cultural do município”, explicou.

Procuramos a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo para apurar como andam as investigações a partir do boletim de ocorrência feito pela Paróquia Imaculada Conceição, do Perequê-Açú. A assessoria de Imprensa da SSP-SP informou que o caso foi registrado como dano contra o patrimônio na Delegacia de Ubatuba, a vítima foi orientada quanto ao tempo de representação. Segundo a nota, a autoridade segue à disposição para dar continuidade nas investigações.

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