Cachaça sempre foi importante no desenvolvimento de Paraty; Festival começa dia 17

Paraty já teve 12 engenhos e 150 fábricas de aguardente. Cachaça contribui para o desenvolvimento da cidade e deve atrair mais de 50 mil visitantes no 41º festival 

Paraty espera receber milhares de visitantes durante o 41° Festival da Cachaça, Cultura & Sabores de Paraty, marcado para os dias 17 a 20 de agosto de 2023. O festival gera trabalho e renda para a comunidade e promove o fortalecimento da identidade cultural do município através da valorização das atividades e apresentações artísticas para um público expressivo que comparece anualmente para prestigiar o evento.   

 

Tradicional evento realizado desde 1982, o Festival tem como objetivo valorizar a produção artesanal da cachaça, uma tradição que remonta ao século XVI e representa uma importante expressão da identidade local, através de sua cultura e gastronomia.

 

História

 

Alambique Coqueiro um dos mais antigos de Paraty

 

Segundo um dos mais antigos comerciantes de Paraty, Dalcir Ramiro, o festival iniciado na década de 80 como “festival da Pinga” teve como objetivo valorizar o único produto industrial produzido até hoje em de Paraty; a cachaça.

 

Dalcir conta que a ideia do Festival da Pinga nasceu numa das reuniões com os alambiqueiros associados. “O Douglas Reid, um ex-executivo que havia comprado aqui na cidade a produção da cachaça do Joãozinho (príncipe Dom João de Orleans e Bragança), tinha muita visão. Havia batizado de Maré Alta a sua cachaça, para a qual criava modelos especiais de garrafa, com lançamentos de rótulos diferentes, entre eles o nome Carnaval. Chegou a expor sua cachaça nas lojas da H.Stern, como produto de exportação. E foi dele a ideia de valorizar na cidade a cultura da cachaça em um encontro dos alambiques, visando valorizar o produto. Tudo foi criado com muito entusiasmo, numa ação coletiva dos alambiqueiros.”

 

Dalcir conta que o formato do 1º Festival da Pinga, em 1982, era muito semelhante ao festival atual. “Claro que não tão grande, mas tinha o perfil de festa de Paraty, com estandarte, foguetes, carro alegórico e banda de música tocando pela cidade. Aconteceu durante três dias na Santa Rita, também no mês de agosto. O objetivo era valorizar o produto atraindo turistas e visitantes para aquele período de baixa temporada. O lema era cada um fazer sua barraca, foi incrível o espírito de competição, um mostrando que podia fazer melhor que o outro”, diz ele, gostando de relembrar e apontando os participantes pioneiros: “o Eduardinho (Eduardo José Mello), da cachaça Coqueiro; o Luiz Maurício Mello, da Vamos nessa; o Anibal Gama, da Corisco; e o Douglas Reid, da Maré Alta”.

 

Por três anos consecutivos, durante sua gestão na Acip, Dalcir Ramiro viu crescer e ajudou a consolidar o Festival da Pinga. “Nasceu como evento único, com raízes de Paraty, desde o começo sentimos que daria certo. Considero o meu legado para a cidade, fruto da minha atuação como artista e comerciante. E foi uma festa criada para valorizar o produto, não para vender cachaça”, ressalta Dalcir.

 

Do time dos pioneiros da história do Festival da Pinga, Eduardo José Mello (Eduardinho), do alambique Coqueiro, a primeira cachaça brasileira a receber o selo de qualidade e excelência do Ministério da Agricultura, reforça a importância cultural da festa, relembrando seu formato original.

 

No início eram três dias e três noites, sem fechar. Havia um controle rigoroso, não se vendia outra bebida no recinto. O festival foi criado com origem nas festas de família, o que se queria era valorizar a cultura local, por meio da cachaça produzida pelos alambiques e também pela música e pela gastronomia. O principal fruto da história desse Festival foi poder mostrar a cachaça de Paraty para o mundo”, celebra Eduardinho.

 

Cultura e Sabores

 

Festival da Cachaça, Cultura e Sabores de Paraty, recebe mais de 50 mil visitantes anualmente

 

Em 2011 o Festival foi rebatizado com o nome de Festival da Cachaça, Cultura e Sabores de Paraty, em decisão norteada pela oficialização Indicação Geográfica “cachaça” para o produto típico brasileiro (decreto nº 4.062, do governo de Fernando Henrique Cardoso), buscando ressaltar o produto como uma bebida fina e de qualidade diferenciada.

 

O objetivo era valorizar além da cachaça, a cultura e a gastronomia de Paraty para as cerca de 50 mil pessoas que visitavam o festiva da Pinga. Visando a democratização da cultura e a valorização da identidade de Paraty, o festival além de promover a produção das marcas das cachaças, também, promove, os saberes e fazeres locais por meio da exposição e venda de produtos, e atividades musicais e culturais.

 

A cada edição da festa o resultado se aprimora, com bartenders, baristas e chefs da boa cozinha paratiense se superando, entre ingredientes locais, receitas típicas e a excelência da cachaça de Paraty. Um dos indicadores do sucesso da festa é o significativo aumento da circulação de turistas pela cidade, com uma grande ocupação hoteleira num período de baixa temporada.

Livro

 

Tonéis no alambique que produz a Cachaça Paratiana

Em janeiro do ano passado, a Associação de Amigos e Produtores de Cachaça de Paraty – APACAP, lançou um livro sobre a importância da cachaça no desenvolvimento do município. O livro ”Mucungo – A história da cachaça em Paraty”, de autoria de Flávio Leão e Lúcio Gama Freire, é um livro que descreve o crescimento da cidade, como a cachaça participou desse desenvolvimento, resgatando ações dos últimos 20 anos da cachaça em Paraty e destaca o processo de retomada do setor. Paraty é a única cidade do Brasil, que produz cachaça e tem o nome próprio para o vinho da cana usado para ser destilado a cachaça, que é Mucungo.

 

Desde o início do século XVII, a aguardente de cana era destilada em Paraty, usando a tecnologia do alambique. Em 1863, contam os autores de Mucungo, Paraty contava com 12 engenhos e mais de 150 fábricas de destilação de aguardente, e diversos estaleiros onde se fazem embarcações e vasilhas para a aguardente.

 

Segundo o livro, a decadência de Paraty teve início com a chegada das linhas férreas ao Vale do Paraíba que mudou a dinâmica do transporte de mercadorias entre São Paulo e Minas e o Rio de Janeiro. Paraty fica fora dessas rotas e aos poucos vai entrando em declínio. O Caminho Velho da Estrada Real, outrora bem cuidado por escravizados, fica sem manutenção e o movimento escasseia. E Paraty congela no tempo – cidade esquecida e de difícil acesso.

 

Os alambiques vão fechando. Mas a arte de fazer cachaça ainda resiste, com meia dúzia de produtores, alguns, com tradições familiares na cachaça que remontam o início do século XIX, como os Mello. A família Mello começou a produzir cachaça em Paraty em 1803 com José Mello e segue até hoje a receita dos antepassados que fizeram da cidade sinônimo de cachaça de qualidade.

 

Parte dessa herança está nas técnicas de fermentação com leveduras selvagens e no uso de ingredientes secretos para o preparo do pé de cuba, que resultam em uma pinga que traduz os aromas e os sabores do território de Paraty. Em 1980, Eduardo Mello comprou a marca de cachaça Coqueiro, existente desde 1940, e criou uma das mais icônicas e premiadas cachaças do Brasil. Seguindo a tradição local, a Coqueiro passa apenas por duas madeiras, o amendoim, mais neutro e usado como substituto do inox, e o carvalho europeu. A cachaça Coqueiro é produzida na Fazenda Cabral, a 7 km do centro histórico de Paraty, por Eduardo Mello e seu filho Eduardo Caligari Mello.

 

Programação 2023

 

Durante os quatro dias do festival, 17 a 20 de agosto , será possível desfrutar da presença dos principais alambiques da cidade: Coqueiro, Corisco, Engenho D’Ouro, Pedra Branca e Paratiana, além de variada programação musical, concurso de drinks e um espaço dedicado à gastronomia e à cultura de Paraty.

 

O evento é uma iniciativa da Prefeitura Municipal de Paraty, em colaboração com a Associação dos Produtores e Amigos da Cachaça de Paraty – a Apacap.

 

Confira a programação completa:

 

Tenda Principal | Pontal

  • 17/08/23 | Quinta-feira

☆ 19h00 – Abertura do Festival com Aula Show Cidade Criativa da Gastronomia | Sebrae

☆ 20h00 – Duo Zica Suê

☆ 21h00 – Banda Frank Cadillac

☆ 22h00 – Sambô

☆ DJ Vinícius

 

  • 18/08/23 | Sexta-feira

☆ 12h00 – Lucas Sales – Voz e Violão

☆ 17h00 – Aula Show Cidade Criativa da Gastronomia

☆ 19h00 – Dueto Rhandal & Jerome

☆ 21h00 – Tonn Moreira & Banda

☆ 23h00 – Cantor Higor

☆ DJ Marcus Ferrari

 

  • 19/08/23 | Sábado

☆ 12h00 – Duo Andrea Gorgati

☆ 15h00 – Aula Show Cidade Criativa da Gastronomia

☆ 17h00 – Samba do Quilombo

☆ 19h00 – Orquestra de Violões da Casa da Cultura

☆ 21h00 – Quarteto Moreira Júnior

☆ 23h00 – Baile do Juninho

☆ DJ Marino

 

  • 20/08/23 | Domingo

☆ 12h00 – Duo Lu Bekerman

☆ 15h00 – Aula Show Cidade Criativa da Gastronomia

☆ 17h00 – Grupo Cirandeiros de Paraty

☆ 21h00 – Banda Ratones

☆ 23h00 – Grupo Aglomerou

☆ DJ Bebeto

 

Acompanhe também a programação de cada alambique:

@cachacacoqueiro

@cachacaparatiana

@alambiquepedrabranca

@engenhodouro

@cachacacorisco

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