Coqueiros com raízes expostas na praia Martim de Sá, em Caraguatatuba, devem ser removidos, sugere pesquisador da Embrapa

Boa parte dos coqueiros da praia mais famosa de Caraguatatuba está com a raiz exposta, outras sofrem com “afunilamento de estirpe”. Procurada, a Prefeitura não se manifestou sobre o futuro dos coqueiros, mas o pesquisador da Embrapa avaliou a situação das plantas. Confira:

 

A praia de Martim de Sá, uma das mais frequentadas de Caraguatatuba, no litoral norte paulista, está com a boa parte de seus coqueiros plantados na praia com as raízes expostas, devido a erosão praial e outra parte deles, com “afunilamento de estirpe”, ocasionado por estresse hídrico e nutricional.

Os coqueiros foram plantados na praia no início dos anos 2.000. A maioria da espécie exótica cocus nucifera, mais conhecido como coco da Bahia. A maioria dos coqueiros plantados na praia pela prefeitura não são nativos, vieram de outras regiões e segundo consta, as plantas não teriam se adaptado na cidade.

A prefeitura de Caraguatatuba dentro do Plano Municipal de Arborização Urbana prevê a remoção destes exemplares e substituição por espécies nativas. Isso consta no Projeto de Intervenção Urbanística (PIU), desenvolvido atualmente pela Prefeitura de Caraguatatuba, por meio da Secretaria de Meio Ambiente, Agricultura e Pesca (SMAAP), em parceria com os quiosqueiros.

Os quiosques estão sendo reformados para se adequarem as normas estabelecidas pela prefeitura e a Secretaria de Patrimônio da União (SPU). Segundo a prefeitura, assim que as adequações dos quiosques forem finalizadas, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente iniciará projeto de recuperação com a implantação de núcleos de vegetação nativa originária das proximidades das praias, como espécies de restinga, condição estabelecida inclusive na decisão judicial que deu origem ao PIU em execução.

 

A praia Martim de Sá tem ao longo de sua faixa de areia cerca de 125 coqueiros. Não foram computados os coqueiros plantados no gramado e jardins que existem ao longo do calçadão da orla onde estão os instalados os treze quiosques.

As plantas mais atingidas pelo avanço da maré estão no canto direito da praia. Nesse trecho também podem ser encontrados a maioria dos coqueiros com “com “afunilamento de estirpe”. Entre o meio da praia e o canto esquerdo as plantas apresenta, melhores condições.

Canto direito da praia concentra maior número de plantas com raízes expostas

Antes do início da temporada de verão desde ano, a prefeitura fez uma maquiagem na praia. Colocou areia em todos os coqueiros que estavam com as raízes expostas. A “maquiagem” durou pouco tempo pois as ressacas cada vez mais fortes deixaram as plantas novamente com as raízes expostas.

Na época, segundo a prefeitura, a medida- colocar areia sobre as raízes expostas, também, tinha como objetivo impedir que alguns coqueiros durante as fortes rajadas de vento pudessem cair e ferir banhistas.

O Notícias das Praias procurou a prefeitura para saber se existem algumas medidas para “salvar” os coqueiros ameaçados da praia Martim de Sá, principalmente, aqueles que estão com suas raízes bastante expostas. Aguardamos a resposta por mais de 15 dias, porém a prefeitura não se manifestou. Na falta de interesse da prefeitura em atender a imprensa, procuramos os profissionais da Embrapa(Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

A Embrapa Tabuleiros Costeiros atua desde 1975 na pesquisa, desenvolvimento e inovação para a sustentabilidade da agricultura em benefício da sociedade brasileira. É uma das referências no desenvolvimento de tecnologias para coco, citro, mangaba, grãos, ovinos, cana e aquicultura. A unidade desenvolve tecnologia de base ecológica e mantém bancos de germoplasma para conservar recursos genéticos vegetais e animais, com destaque para o coco, mangaba e ovinos da raça Santa Inês.

Embrapa

A assessoria de Imprensa da Embrapa foi muito prestativa e acionou os profissionais da Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE), especialistas em cultivo e em pragas de coqueiros, entre eles, o pesquisador Humberto Fontes.

Encaminhamos ao pesquisador, por e-mail, as informações solicitadas e as fotos dos coqueiros com suas raízes expostas e aqueles com “afunilamento de estirpe”. Ao contrário da assessoria de Imprensa da Prefeitura Municipal de Caraguatatuba, que ficou “enrolando” o quanto pode, os jornalistas e pesquisadores da Embrapa encaminharam alguns dias depois as informações e orientações solicitadas.

Segundo o pesquisador Humberto Fontes, o coqueiro é uma planta que apresenta predominantemente raízes superficiais, concentrando-se até 1 m de profundidade, sendo que lateralmente, alcança em média, um raio de 2 m a partir do estipe. Nas primeiras camadas de solo predominam raízes secundárias e as radicelas, sendo estas mais finas e maiores responsáveis pela absorção de água e nutrientes. As raízes primárias, apresentam maior diâmetro, e ocorrem em menor percentual, sendo responsáveis pela fixação da planta, podendo alcançar em torno de 3 m de profundidade.

“Com relação ao assoreamento observado de coqueiros à beira da praia, conforme citado, há pouco o que se fazer. Esta situação é recorrente em praias do Nordeste, e na maioria das situações as plantas conseguem sobreviver, embora com baixa capacidade de produção de frutos”, explicou Fontes.

Segundo o pesquisador, “uma opção seria o transplante destas plantas para outro local, embora esta seja uma alternativa dispendiosa que exige muito cuidado, para preservar raízes eliminando também parte das folhas e cachos. Deve-se considerar também o estado geral do coqueiro para justificar esta operação”. Com relação ao “afunilamento do estipe”, o pesquisador informou que este é um sintoma típico de plantas sob estresse hídrico e nutricional, conhecido também como “ponta de lápis”.

Coqueiro com “afunilamento de estirpe”

“Plantas mal nutridas ou em presença de excesso ou déficit de água promovem redução do diâmetro do estipe, associado à redução do tamanho e número de folhas, as quais, apresentam quase sempre uma clorose generalizada (amarelecimento das folhas)”, destacou.

Para o pesquisador, a remoção das espécies ameaçadas seria a única solução, pois as plantas com esse afilamento pronunciado ficam mais vulneráveis à tombamento, em presença de ventos fortes ou mesmo com o crescimento continuado da planta, que vai ficando mais pesada acima desse ponto. “O ideal seria retirar essas plantas e as substituir por coqueiros mais jovens, fazendo o transplantio de forma correta, ou plantando o coqueiro na fase de muda”, finalizou.

 

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