Pipas na rede elétrica prejudicaram 9.641 clientes da EDP entre janeiro e junho deste ano

Pipas com ou sem cerol causam lesões em  68 aves, de 23 espécies distintas, somente no primeiro semestre de 2023, segundo o Centro de Triagem e Recuperação de Animais Silvestres de São Paulo (CETRAS SÃO PAULO), da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) 

As férias escolares merecem ser curtidas com a máxima segurança e a EDP, distribuidora de energia elétrica de Caraguatatuba e São Sebastião, reforça um alerta importante com relação à brincadeira de pipas. De janeiro a junho deste ano, 9.641 clientes foram afetados pela interrupção da distribuição de energia por conta de ocorrências envolvendo pipas na rede elétrica da região, cerca de quinze vezes mais do que no mesmo período do ano passado, em que 605 clientes foram impactados.

Clientes com fornecimento de energia impactado por pipas na rede elétrica por município da região: Em Caraguatatuba foram prejudicados 2.739 clientes; e, em São Sebastião, 6.902. A concessionária Elektro que atende Ilhabela e Ubatuba não divulgou interrupções de energia provocada por pipas.

Já a quantidade de ocorrências apresentou uma pequena redução, passando de 99 para 93 no período. O maior número de clientes afetados se deve à localização das ocorrências, em trechos mais populosos. Para se ter uma ideia, somente uma ocorrência envolvendo pipa em junho deste ano deixou 3.597 clientes sem energia em São Sebastião.

“Em muitos casos conseguimos manobrar de forma automatizada o sistema de distribuição de energia para reduzir a abrangência do dano à rede e o tempo de interrupção do fornecimento nesses locais, porém o transtorno provocado por uma pipa que enrosca na fiação ainda é muito grande, podendo deixar hospitais, escolas, residências e empresas sem energia. E o mais grave é a questão do risco de ferimentos graves e até de morte para quem pratica esta brincadeira sem segurança”, destaca o gestor de operação da EDP, Stevon Schettino.

As linhas de pipas – com ou sem cerol ou produtos cortantes – causam desligamentos ao romper os cabos de energia e também podem provocar curtos-circuitos, ao ficarem presas na fiação.

No período de férias e de maior incidência desse tipo de ocorrência, a EDP intensifica o alerta. “A EDP deve ser acionada imediatamente em caso de qualquer ocorrência que envolva a rede de distribuição de energia. Será encaminhada equipe técnica ao local para reparar o dano causado e para o restabelecimento do sistema”, reforça o gestor.

Confira abaixo algumas dicas para que a brincadeira possa acontecer com toda a segurança.

– Busque espaços abertos como parques e campos, onde não exista o risco de contato com fios de energia. Empine pipas longe de rede elétrica, em locais onde não exista nenhum tipo de cabo de energia, de serviço telefônico ou antenas de celular. Isso evita acidentes e interferências na qualidade desses serviços;

– Se a pipa ficar presa nos fios elétricos, não tente retirá-la. Nunca use varas nem suba em postes, muros ou lajes para tirar uma pipa. O choque, nestes casos, pode ser fatal. Somente técnicos da distribuidora são treinados para manusear a rede com toda segurança.

– Arremessar objetos na rede elétrica para o resgate da pipa pode causar graves acidentes. O “lança-gato” (pedra presa a uma linha), ou qualquer outro objeto, não deve ser lançado na rede;

– Jamais use cerol ou a chamada “linha chilena”. Esses produtos são proibidos e podem também provocar acidentes graves e mortes.  Ao cortar a camada protetora da fiação, a linha interrompe a transferência de corrente elétrica, podendo provocar curto-circuito;

– Não empine pipas perto de estradas e vias de grande circulação de veículos, pois a linha da pipa pode ferir ciclistas e motociclistas, além do risco de atropelamento a quem está praticando a brincadeira.

Vale ressaltar que em caso de acidentes relacionados ao sistema de energia, nunca se aproxime do local. Fale imediatamente com a EDP pelos canais:

· Aplicativo EDP Online (compatível com tablets e smartphones)

· WhatsApp (11) 93465-2888

· Central de Atendimento: 0800 721 0123

Todos os canais de relacionamento são gratuitos e funcionam 24 horas

Aves 

Uma atividade recreativa, comum para adultos e crianças, as pipas representam um perigo às aves. Além disso, a utilização de linhas mais resistentes “chilenas” e com cerol (pó de vidro misturado à linha com cola para “cortar” a pipa adversária), que é inclusive proibida por lei, agrava o nível de ameaça.

 

Somente no primeiro semestre de 2023, o Centro de Triagem e Recuperação de Animais Silvestres de São Paulo (CETRAS SÃO PAULO), da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil), recebeu 68 indivíduos, de 23 espécies distintas, todos com lesões ocasionadas por linhas com ou sem cerol. Entre elas estão: a corujinha-do-mato (Megascops choliba), a marreca-ananaí (Amazonetta brasiliensis), o gavião-peneira (Elanus leucurus) e o pica-pau-de-banda-branca (Dryocopus lineatus).

 

Diferente do que muitas pessoas pensam, os ferimentos não ocorrem durante a prática de empinar a pipa, mas sim com pedaços de linhas que ficam enroscados em árvores, casa, prédios e outras edificações. Os acidentes podem acontecer em duas situações, durante o voo ou pouso, próximo aos locais onde as linhas ficam enroscadas, ou quando elas são utilizadas como substrato nos ninhos. Como é um material que não sofre degradação com o tempo, representa risco permanente para qualquer espécie, entre elas, as aves de rapina e outras adaptadas as cidades.

 

“Muitos animais chegam a óbito, pois ficam longos períodos feridos no alto das árvores”, explica a coordenadora do CETRAS SÃO PAULO, Lilian Sayuri Fitorra, citando o caso de um carcará (Caracara plancus), encontrado já sem vida.

 

Com a crescente adaptação das espécies ao ambiente urbano, o uso das linhas como substrato nos ninhos passou a ser também uma realidade e um problema. “Isso ocorre principalmente com as maracanãs (Psittacara leucophtalmus) e com o periquito-rico (Brotogeris tirica). Eles substituíram os itens naturais por linhas, para forrar os seus ninhos”, explica Sayuri. “Durante o desenvolvimento dos filhotes, à medida que eles crescem, eles enroscarem as patas, o que pode resultar em lesões graves ou até mesmo na amputação completa”, acrescenta.

 

Os tratamentos para casos de lesões com linhas de pipa são complexos e exigem muita dedicação dos técnicos do CETRAS. “As intervenções podem variar da correção ao implante de penas, da analgesia à imobilização, de pequenas cirurgias até amputações”, detalha a coordenadora. A técnica de implante de penas, atividade da qual o CETRAS SÃO PAULO é uma referência, consiste na inserção de uma nova pena por meio de uma haste, leve e flexível, na base da que foi perdida.

 

CETRAS SÃO PAULO

 

O Centro de Animais Silvestres do Estado de São Paulo (CETRAS SÃO PAULO), que faz da Coordenaria de Fauna Silvestre (CFS), da Semil, foi inaugurado em 1986. A unidade está localizada dentro do Parque Ecológico do Tietê, na Zona Leste da cidade de São Paulo. O Centro tem como objetivo receber, identificar, marcar, triar, avaliar, recuperar e destinar animais silvestres provenientes do tráfico ilegal de fauna silvestre, das apreensões realizadas pela Polícia Militar Ambiental do Estado de São Paulo, das fiscalizações do IBAMA, Polícia Civil, Municipal e Federal; os resgatados pelas Prefeituras, Corpo de Bombeiros e munícipes ou ainda entregues por particulares.

 

Todos os animais recebidos passam por avaliação clínica, biológica e exames para definição do melhor tratamento e ingresso no processo de reabilitação que envolve estímulos e correção física, nutricional e comportamental. O Centro tem parcerias com áreas de soltura cadastradas no Estado de São Paulo e com os órgãos ambientais de outros estados para destinação de animais reabilitados para devolução para a natureza.

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