O Projeto Mar é Cultura abriu inscrições para cursos de cultivo e aproveitamento integral da macroalga Kappaphycus alvarezii no Instituto de Pesca de Ubatuba. O curso, que será ministrado pela pesquisadora científica Valéria Gelli, do Instituto de Pesca, acontecerá em duas ocasiões, de 12 a 13 de junho e de 24 a 25 de julho. As inscrições podem ser feitas pela internet através da página do Projeto Mar é Cultura.
O Projeto Mar é Cultura é uma parceria entre a AMESP – Associação dos Maricultores do Estado de São Paulo e a Petrobras Socioambiental. O projeto almeja fortalecer e regularizar os maricultores (as) de pequena escala nos municípios de Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião e Ilhabela – Áreas de Proteção Ambiental Marinha do Litoral Norte (APAMLN), oferecer cursos de capacitação técnica e debates com comunidades tradicionais, pescadores e órgãos gestores e desenvolvimento do Turismo de Base Comunitária (TBC).
Uma pesquisa feita pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo mostrou que o cultivo e aproveitamento integral da macroalga Kappaphycus alvarezii pode ser uma alternativa econômica importante para pescadores artesanais do litoral norte paulista. Além de trazer renda para as comunidades pesqueiras, o extrato da alga, usado como biofertilizante, gera mais produtividade para a agricultura, como mostram os resultados do trabalho.
A pesquisadora do IP Valéria Cress Gelli, que coordenou o estudo, na época, garante que a K. alvarezii que é normalmente cultivada para a produção da carragenana, um tipo de gelatina de aplicação em diversos segmentos industriais, também, pode ter utilização de seu extrato como biofertilizante na agricultura.
A facilidade na implantação e manejo dos cultivos da alga e a possibilidade de processamento artesanal do extrato são os atrativos do projeto junto às comunidades de pescadores.
A pesquisadora do IP acredita que os resultados obtidos possam ser um norte para o desenvolvimento ordenado e sustentável da atividade na região, em grande parte situada na Área de Proteção Ambiental Marinha do Litoral Norte (APA marinha).
Alga oferece muitas possibilidades
As pesquisas do IP com a macroalga não param por aí. A K. alvarezii vem mostrando que tem muito mais a oferecer, além do biofertilizante e da carragenana. Um exemplo é seu uso na obtenção de bioetanol, como foi evidenciado em estudos feitos em conjunto com a UNESP de Araraquara, com a equipe do pesquisador Fernando Masarin e financiado pela FAPESP, em 2019.
“Essa macroalga tem um crescimento muito rápido, de 3 a 8% ao dia, sendo possível formar uma biomassa bastante expressiva em pouco tempo”, afirma a pesquisadora, mencionando que a alga tem se mostrado mais eficiente na produção de bioetanol de quarta geração que os resíduos da cana-de-açúcar. Além disso, já há pesquisas (em parceria com a equipe da pesquisadora Valéria Reginatto Spiller, da USP de Ribeirão Preto, também financiadas pela FAPESP), objetivando a produção de hidrogênio a partir das macroalgas cultivadas pelo IP, assim como estudos recentes no aproveitamento integral da macroalga para alimentação, monitoramento ambiental e na extração de bioativos.
Para Valéria, o cultivo da macroalga acumula vantagens ambientais, sociais e econômicas. “Cultivando essa macroalga, temos captura de gás carbônico, geração de emprego e renda e ela ainda pode ser utilizada como biorremediadora, retirando do ambiente compostos poluentes”, enfatiza. Conforme conta, o IP é a única instituição que detém as variedades da espécie no estado e enxerga muito potencial em suas aplicações. “Acreditamos que a macroalga possa ser um grande recurso para o Brasil no futuro, como alimento humano e ração animal”, finaliza a pesquisadora. * Gustavo Almeida/Assessoria de Imprensa APTA