No sábado, dia 25, o Coletivo Caiçara e a Associação Caraguatás instalam uma placa de reconhecimento de território caiçara na praia do Camaroeiro, região central de Caraguatatuba. O bairro que é conhecido como Ipiranga e, antigamente, tinha o apelido de “Risca Faca”, era e ainda ainda é o reduto dos pescadores caiçaras de Caraguatatuba. A cerimônia será às 9 horas ao lado do entreposto de pesca.
O Coletivo Caiçara, uma organização social que existe há cerca de cinco anos, envolve famílias caiçaras de Caraguatatuba, São Sebastião e Ilhabela. As placas de reconhecimento de áreas remanescentes ou habitadas por caiçaras vem sendo instaladas desde 2020, em Ilhabela, São Sebastião e Caraguatatuba.
Ubatuba, não integra o coletivo porque já está incluída no Fórum das Comunidades Tradicionais de Angra, Paraty e Ubatuba, que atua junto aos povos tradicionais caiçaras, quilombolas e indígenas existentes nos três municípios.
Apesar da instalação da placa, que mede 1,50 x 1,0 metro, que identifica a área ou espaço como território caiçara ser apenas um “ato simbólico”, o objetivo do projeto é que no futuro essas áreas demarcadas sejam também reconhecidas pelos governos federal, estadual e municipal.
“O coletivo vai demarcando essas áreas para que a comunidade caiçara tenha seu território e suas atividades culturais reconhecidas (pesca, artesanato, culinária…), acreditando que futuramente isso possa ser transformado em uma política pública”, detalha um dos coordenadores do Coletivo Caiçara, o advogado e “caiçara” Camilo Terra.
O reconhecimento através da instalação das placas financiadas pelo próprio coletivo, além de destacar que naquela área ou naquele espaço existiu um ainda existe uma comunidade caiçara, em algumas situações vai mais além: impedir que “terras caiçaras ” sejam tomadas pela especulação imobiliária, como ocorreu em Ilhabela e em algumas praias de São Sebastião.
A primeira placa foi instalada na praia de Santiago, em São Sebastião, em 2020, justamente com o objetivo de garantir a “posse da área” para uma tradicional família caiçara do bairro. Depois, foi instalada outra placa, na praia de Toque Toque Pequeno, também, na costa sul sebastianense. Logo em seguida, três placas foram implantadas em Castelhanos, tradicional comunidade caiçara de Ilhabela.
Entre 2021 e 2022, foram instaladas placas autodemarcando e autorreconhecendo territórios caiçaras no Entreposto de Pesca do Rio Juqueriquerê, em Caraguatatuba; no entreposto de maricultura e pesca na praia da Cocanha, também, em Caraguatatuba; e, na praia da Baleia, em São Sebastião.
Em 2023, o primeiro autorreconhecimento e autodemarcação aconteceu em janeiro na praia da Enseada. Agora, em março, será demarcado o território caiçara do Camaroeiro, um dos mais tradicionais de Caraguatatuba. No Camaroeiro, reduto de pescadores artesanais, eram realizadas as festas mais tradicionais da cultura caiçara e caraguatatubense, hoje promovidas na praça de eventos na região central.
O ato de instalação de uma placa reconhecendo um território caiçara, reúne representantes caiçaras de toda a região e acaba se transformando numa grande festa, com café e comida típica caiçara, música e muitos causos.
Não existe um levantamento oficial sobre a quantidade de famílias caiçaras existentes no Litoral Norte. O Coletivo pretende realizar uma espécie de censo para identificar e quantificar as famílias caiçaras que ainda vivem na região. Outra ideia é fazer um levantamento do número de canoas tradicionais caiçaras.
Segundo Camilo, isso vem sendo feito em Angra, Paraty e Ubatuba, através do Fórum das Comunidades Tradicionais dos três municípios. O “censo” será finalizado em 2023, identificando e quantificando as comunidades caiçaras, indígenas e quilombolas em Angra, Paraty e Ubatuba.