Memórias: Há 56 anos Caraguatatuba era parcialmente destruída por uma tromba d’água

Em março de 1967, Caraguatatuba foi abalada por uma catástrofe, que destruiu parcialmente a cidade e causou a morte de cerca de 500 moradores. É considerada até hoje a maior tragédia natural do país.

 

Há 56 anos, no dia 18 de março de 1967, um sábado, a cidade de Caraguatatuba foi atingida por uma tromba d’água. A chuva insistente que caía sobre a cidade há vários dias, provocou desmoronamento das encostas que rodeiam o município. As marcas até hoje podem ser observadas.

 

Barulho dos deslizamentos

 

 

Os deslizamentos causaram durante a madrugada do dia 18 um barulho infernal. Eram as pedras, lama, terra, árvores descendo as encostas em direção à cidade. As ruas do centro, se transformaram rios de lama. A água levava tudo que encontrava pela frente: o que restavam das casas soterradas, animais mortos, entre eles, cavalos, vacas, cachorros, galinhas e pessoas.

Quando amanheceu o sábado, dia 18, pode-se ver o tamanho da tragédia. Várias pontes que ligavam a cidade aos municípios vizinhos foram levadas pela força das águas. A ponte sobre o rio Santo Antônio, a principal da cidade, se deslocou e ficou junto à margem, interrompendo o tráfego de carros e pessoas, Ninguém passava.

A Santa Casa foi atingida e parcialmente encoberta pela lama. O estádio do XV, foi destruído pelas pedras e lama que desciam do morro do Jacu. Na região do bairro do Benfica, inúmeras casas ficaram soterradas. Na zona rural, pouca coisa sobrou em pé. A cidade ficou sem água, sem energia elétrica, sem telefone, sem acesso pelas estradas e sem comida. O mar em frente a cidade se transformou num depósito de lama e de troncos.

Centenas de pessoas perderam a vida. Oficialmente, falaram em 500, mas devem ter  morrido muito mais.  As vítimas resgatadas pelos moradores eram colocadas na prefeitura municipal, na época, localizada na praça Cândido Mota. Os desabrigados foram alojados na igreja, no clube XV, em escolas e acolhidos pelos moradores, cujas casas não foram atingidas pelas águas. A cidade ficou isolada e ilhada.

 

Radioamadores divulgaram a tragédia

 

 

A maioria dos moradores evitava sair de casa, pois não podia e o risco era muito grande. O  mundo não sabia o que estava ocorrendo em Caraguatatuba. Até que, um radioamador, seu Thomaz Camanes Filho, conseguiu contato com outros radioamadores e comunicar a tragédia que abatia sobre a cidade. Muitas horas depois, algo em torno de 12 a 15 horas, as autoridades paulistas e cariocas tomavam ciência do que tinha ocorrido na cidade.

Helicópteros começaram a sobrevoar a cidade. O exército chegou. A Marinha através de seus navios, trouxe água, remédios e médicos. Três dias depois, alguns números apresentados, extraoficialmente, demonstravam o tamanho da tragédia: 30 mil árvores desceram as encostas em direção a cidade; 400 casas desapareceram debaixo da lama e 3 mil pessoas perderam suas casas. Caraguatatuba tinha na época 15 mil moradores.

 

580 milímetros de chuva

 

 

A informação que chamou a atenção das autoridades: a chuva que atingiu a cidade em dois dias( 17 e 18 de março) atingiu um índice precipitação pluviométrica de 580 milímetros. Na época, a média de precipitação pluviométrica do Brasil, o ANO INTEIRO variava de 1000 a 1200 mm. Ou seja, choveu em Caraguá em apenas dois dias a quantidade de chuva acumulada de seis meses.

 

Maior tragédia natural do país

 

 

A tragédia foi considerada a pior já ocorrida no pais até então, segundo um dos maiores epecialistas mundiais em mecânica de solos e fundações: professor Artur Casagrande, que na época prestava acessória aos EUA, Índia e Suíça. Ele visitou a cidade no alguns dias depois da tromba d’água, a convite do governo do estado, acompanhado pelos engenheiros Joob Shuji Negami(DER), Darcy de Almeida(CESP) e Lincon Queiroz e Otto Kech e do geólogo Francisco Nazário. Considerados, na época, os maiores especialistas neste tipo de ocorrência natural.

 

Tromba d’água

 

 

Reproduzo abaixo as considerações feitas pelo professor Artur Casagrande:  “Nunca vi coisa igual na minha vida. Isso só ocorrer a cada milênio. O que ocorreu em Caraguatatuba foi um evento natural- tromba d’água fato raro, raríssimo. Na história do Brasil nunca ocorreu nada igual”. Segundo ele, não ocorreu um terremoto, como imaginaram alguns moradores, mas sim, uma precipitação de água excepcional, com dificuldades no escoamento das águas que encharcaram os morros, numa área de cerca de 200 km quadrados na escarpa da serra do mar, junto a Caraguatatuba. Foi, segundo os cientistas, a maior tragédia natural ocorrida no Brasil até então.

 

Músicos e compositores registraram a tragédia

 

 

Uma letra de autoria do corretor de imóveis Davi Salamene musicada pelo construtor e seresteiro José Rodrigues da Silva revelou toda a tristeza que tomou conta da cidade e do país com a tragédia ocorrida em Caraguatatuba. A música chama “18 de Março”.

Davi Salamene foi um dos primeiros corretores de imóveis da cidade, faleceu em 2015 aos 81 anos, mas sua família mantém imobiliária até hoje.

 

Zé Rodrigues, era construtor, radicado na cidade desde 1952 e um excelente músico e violeiro. Animava as reuniões com suas apresentações. Fez várias composições, como as marchinhas que animaram muitos carnavais no Náutico Clube das Palmeiras, que na época era o clube mais procurado na região para os bailes de carnavais.

Zé Rodrigues morreu em 2007, aos 72 anos. A sua música mais conhecida, no entanto foi feita a partir de um poema escrito pelo corretor Davi Salamene. Confira: Vídeo música  18 de Março interpretada por Sinésio:

 

 

 

A catástrofe seria tema de outra música, na década de 90, de autoria de Zé da Viola e Luiz Gonzaga Pereira, “Caraguá Ontem e Hoje”. A música fala da recuperação da cidade após a tragédia de 1967. Confira:

 

 

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