Curso resgata uso de plantas e ervas medicinais utilizadas por caiçaras, quilombolas e indígenas no Litoral Norte

 

Estão esgotadas as inscrições para um curso de plantas e ervas medicinais usadas por caiçaras, quilombolas e indígenas do Litoral Norte.

 

O curso com quatro aulas aos sábados, a partir do dia 1º de abril, será dado no Residencial Jetuba, em Caraguatatuba, promovido pela Rede Agroecológica.

 

A ideia é resgatar a manipulação de plantas e ervas medicinais utilizadas pelas populações originárias do litoral norte. Uma experiência que já foi feita há cerca de 20 anos em Caraguatatuba.

 

 

Em outubro de 2004 foi criado o grupo Verde Saúde, em Caraguatatuba, um grupo para resgatar a manipulação de plantas e ervas medicinais utilizada pela população indígena, quilombola e caiçara da região.

 

Segundo a socióloga Neide Abastayguara, que trabalhava na época na Casa da Agricultura de Caraguatatuba, e incentivadora do resgate da identificação e do uso das plantas e ervas medicinais, cerca de 20 pessoas se interessaram em participar das oficinas oferecidas e do Curso de Medicina Popular Caiçara.

 

 

 

“O objetivo do projeto era resgatar da população local o conhecimento tradicional da utilização de plantas medicinais em enfermidade diversas, identificar as plantas medicinais mais utilizadas pela população da região para tratar dos sintomas de enfermidades mais comuns na comunidade e também registrar as espécies de plantas mais utilizadas”, conta Neide.

 

O grupo visitou quilombos, como o da Caçandoca, onde conheceu projeto “Farmácia no Quintal”, promovido pelo ITESP, conversou com índios e caiçaras antigos para conhecer as plantas e ervas medicinais.

 

Farmácia no Quintal era uma oficina do Itesp que ensinava a manipular plantas medicinais em várias formas, para que seus princípios sejam eficazes e possam atingir o efeito terapêutico desejado, como chás, xarope com calda de açúcar ou de mel, garrafada, óleos, tinturas e pomada, entre outros.

 

“O grupo se reunia uma vez por semana na Casa da Agricultura, onde fizeram uma horta com as plantas e ervas mais utilizadas e até mesmo, desenvolveu uma cartilha sobre plantas mais utilizadas na região, com informações populares e científicas”, contou Neide.

 

Segundo Neide, o grupo permaneceu ativo até 2009 e depois se dispersou. No ano passado, alguns dos antigos membros do grupo se encontraram em uma festa caiçara no Porto Novo e decidiram, incentivados pela socióloga Silvia Paes, a retomar a cultura da identificação, plantio e manipulação das plantas e ervas usadas tradicionalmente pelos caiçaras, indígenas e quilombolas.

 

 

Vivência

 

 

 

Marlene Lopes Giraud, caiçara nascida no quilombola da Caçandoca, em Ubatuba, fez arte daquele grupo e manteve as tradições a longo dos anos. Ela é quem vai dar o Curso de Medicina Popular Caiçara “da Folha à Raiz”.

 

 

“Na verdade será uma vivência. Vou mostrar e repassar aquilo que aprendi com meus antepassados caiçaras, meus avós e tias, no quilombo e nos cursos que fiz. O mato tem muito remédio, sempre usados pelos caiçaras, indígenas e quilombolas. As plantas e raízes podem ser encontradas no quintal ou no mato, mas é preciso ter conhecimento para manipulá-las e usá-las”, orienta.

 

Segundo Marlene, o formato do curso ainda não foi definido, mas a ideia é no primeiro dia conversar e explicar o uso das plantas, folhas e raízes pelas populações mais tradicionais do litoral norte; no segundo dia, fazer uma trilha na mata para eles apreenderem a identificar e reconhecer as plantas que devem ser utilizadas; e, nos dois próximos encontros, orientar a manipulação dessas plantas.

 

 

Cartilha de 2005

 

 

Em 2005, o grupo chegou a produzir com ajuda da Casa da Agricultura de Caraguatatuba uma cartilha datilografada com algumas sugestões sobre ervas, plantas e raízes que poderiam ser utilizadas como “medicinais”. Abaixo algumas das receitas:

 

Arnica: nome científico Solidoso Madioglossa, uso das folhas, uso externo como cicatrizante

 

Erva de Santa Maria: nome científico Chenepodium Ambrostodes. uso da folha e flor, uso externo, cicatrizante

 

Capeba: nome científico Piper Umbellatum, uso das folhas, raízes e casca do tronco, uso externo, hemorroidas

 

Confrei: nome científico Symphytum Officiale, uso da raiz e folhas, uso externo em ferimentos e fraturas.

 

Rosa Branca: nome científico Rosa Albal, uso das pétalas e sementes, uso externo, combater inflamação nos olhos.

 

Guaco, nome científico Mukania Glomenata, uso da folha para fazer xarope, para combater gripe, resfriado e tosse.

 

Cidreira, nome científico Lippia Alba, uso das folhas, calmante digestivo

 

Alfavaca Cravo, nome científico Ocimuna Gratissimum, uso da folha para fazer xarope, combate a bronquite.

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