Contribuição de atividades ligadas ao mar ao país chega a R$ 2 trilhões, o que representa 19% do PIB

Para muita gente, o Brasil é sinônimo de praia, mas o que muitos não conhecem é a verdadeira relação do brasileiro com o mar. Em meio à Década do Oceano, em 2022, uma pesquisa inédita buscou identificar como as pessoas de todas as regiões desse país continental entendem a sua conexão com o oceano. Trata-se de um marco zero que poderá ser usado para acompanhar a evolução da realidade brasileira, direcionar estratégias de comunicação e cultura oceânica, podendo ser replicado em outros países.

 

A pesquisa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, em parceria com a Comissão Oceanográfica Intergovernamental da Unesco, Unesco Brasil e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), desenvolvida com as premissas do Conexão Oceano, iniciativa que busca fortalecer a comunicação sobre o ecossistema costeiro-marinho para sensibilizar a sociedade sobre a importância e urgência do tema, mostra que brasileiro reconhece contribuição do oceano para a economia, mas ainda ignora “economia azul”

 

Em escala de 0 a 10, o reconhecimento da contribuição do mar para as atividades econômicas no país é de 8,6.  No entanto, apenas 1% da população conhece bem conceitos como “economia do mar” ou “economia azul”.  25% dos entrevistados não souberam indicar ao menos uma atividade econômica relacionada com o mar.

 

Contribuição de atividades ligadas ao mar ao país chega a R$ 2 trilhões, o que representa 19% do PIB

 

Os brasileiros reconhecem que o oceano contribui para os resultados de diversas atividades econômicas tradicionais, como a pesca, o turismo e a extração de minerais na costa do País, mas ainda ignoram o potencial de desenvolvimento sustentável e inovador que o oceano pode trazer para diversas cadeias de negócios.

 

A pesquisa mostra que, em uma escala de 0 a 10, o reconhecimento da contribuição do mar para as atividades econômicas no país é de 8,6. No entanto, o estudo Oceano sem Mistérios: A relação dos brasileiros com o mar aponta que apenas 1% da população tem conhecimento sobre os conceitos de “economia do mar” ou “economia azul”, que propõem uma visão mais abrangente e sustentável da relação entre a humanidade e o oceano.

 

“O estudo nos traz informações inéditas que mostram como a sociedade brasileira está conectada com o oceano e percebe a influência dele no seu cotidiano. A pesquisa nos mostra que as pessoas ainda têm muito a conhecer sobre a participação e a importância do oceano nas suas vidas e na economia. Nesse caminho, acreditamos que o conhecimento, a ciência e a inovação são fundamentais para buscar o equilíbrio entre a conservação do oceano, o bemestar social e novas oportunidades econômicas”, explica Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário.

 

Riqueza que vem do mar

 

 

O Brasil possui quase 7,5 mil quilômetros de costa, além de cerca de 5,7 milhões de quilômetros quadrados de espaço marítimo chamado de Zona Econômica Exclusiva. É do mar que vêm 95% do petróleo, 80% do gás natural e 45% do pescado do país. O oceano também contribui com o turismo, geração de energia renovável e escoamento de 95% do comércio exterior brasileiro.

 

 

De acordo com estimativas da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar, órgão do Governo Federal que reúne representantes de 15 ministérios, o mar gera R$ 2 trilhões por ano ao Brasil, o que representa 19% do Produto Interno Bruto (PIB). O cálculo considera a produção de petróleo e de gás, a defesa, os 235 portos do país, o transporte marítimo, a indústria naval, a extração de minérios, além do petróleo, o turismo, a pesca, as festas populares ligadas ao mar e a culinária marinha. De acordo com projeção da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a atividade econômica ligada ao Oceano em todo o mundo deve chegar a US$ 3 trilhões até 2030.

 

 

As atividades desenvolvidas a partir do uso e/ou exploração de recursos marinhos – como pesca, aquicultura, extração de petróleo, transporte marítimo de cargas e passageiros e até atividades náuticas recreativas, esportivas e culturais – compõem a Economia do Mar. Quando essas atividades são desenvolvidas de forma sustentável, inclusiva e considerando o uso e a conservação do oceano, elas também se enquadram na Economia Azul.

 

 

A relação do brasileiro com o mar

 

 

A pesquisa mostrou que 86% das pessoas não conhecem os termos Economia do Mar ou Economia Azul. Apenas 1% disse conhecer bem os conceitos, enquanto 13% já ouviram falar. Quando questionados sobre atividades econômicas relacionadas ao oceano, de forma espontânea, os entrevistados destacaram principalmente as mais evidentes, como a pesca (58%), o turismo e a hotelaria (27%), a extração de minerais (25%) e a logística e o transporte de pessoas e mercadorias (22%). Chama a atenção também o número significativo (25%) de pessoas que não souberam apontar atividades econômicas relacionadas ao oceano. Algumas atividades com grande potencial econômico são pouco associadas pela população ao oceano, como geração de energia renovável (6%) e produção industrial (4%).

 

 

“É provável que esse desconhecimento também se reflita de alguma forma entre os próprios empreendedores e investidores. Temos o grande desafio de produzir e compartilhar conhecimento, ampliando a conexão das pessoas com o mar e seus diversos ecossistemas. Importante realçar que o futuro dos negócios e das agendas sustentáveis em todas áreas passa pelo conhecimento da Economia Azul, uma vez que, por exemplo, o oceano está conectado com a água dos rios, o ciclo da chuva e a regulação do clima no planeta, o que impacta indiretamente atividades longe da costa, como a agropecuária”, frisa Ronaldo Christofoletti, professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), copresidente do Grupo Assessor de Comunicação para a Década do Oceano da Unesco e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN).

 

 

O professor ressalta que o potencial biotecnológico existente nos mares é parcialmente conhecido. Pesquisas indicam que estão no oceano respostas e curas para boa parte das doenças que existem e que venham a existir, com grandes possibilidades para o desenvolvimento de novos fármacos e vacinas.

 

 

“Para desenvolver todo esse potencial econômico, sem comprometer os diferentes ecossistemas e a biodiversidade marinha, precisamos de mais cooperação entre os diferentes níveis de governo e amplos setores da sociedade”, afirma Fábio Eon, coordenador de Ciências da UNESCO Brasil, lembrando que o tema da conservação marinha vem ganhando importância na agenda global, mas os esforços ainda precisam de maior participação em todos os setores e mais ações concretas.

 

 

Em 2017, a ONU declarou o período de 2021 a 2030 como a Década do Oceano, que tem como um dos principais objetivos, justamente, incentivar a geração de conhecimentos para a sociedade. A pesquisa aponta, porém, que apenas 0,3% da população já está informada sobre a Década, enquanto 6% apenas ouviram falar sobre o assunto e 93% não têm conhecimento sobre o assunto.

 

 

“O estado de conservação do oceano é bastante preocupante. Uma avaliação global da ONU, realizada em 2021, mostrou que precisamos de ações urgentes para reverter o quadro de degradação e ameaça à biodiversidade e aos ecossistemas”, alerta Eon.

 

 

A população também foi questionada, de forma estimulada, sobre o quanto determinadas atividades econômicas são impactadas pelo oceano. Aparecem com destaque a pesca (de 0 a 10, tem média 9,3), o turismo e a hotelaria (média 8,6), o transporte e a logística (média 8,0), a indústria (média 8,0) e o empreendedorismo local (média 7,9), compreendendo setores como artesanato, comércio e alimentação. Entre as atividades econômicas mencionadas, a agricultura atingiu a menor média: nota 6,5.

 

 

Apesar de não conhecerem em detalhes o potencial das atividades econômicas sustentáveis relacionadas ao oceano, os entrevistados têm uma percepção bastante positiva sobre a contribuição do mar para a economia do país. Em uma escala de 0 a 10, a média é de 8,6, com uma pequena variação entre as regiões do país – com percepção superior no Nordeste (8,9) e levemente inferior no Centro-Oeste (8,3).

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