A pesquisa pioneira feita pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza em parceria com a UNESCO e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revela que 82% dos brasileiros estão dispostos a mudar hábitos pelo oceano. Foto: Praia da Cocanha/Caraguatatuba.
Em uma escala de 0 a 10, a intenção de mudar hábitos pelo bem do oceano atinge a média de 8,3. Notas entre 7 e 10 reúnem 82,2% dos respondentes. Levantamento mostra que 71% dos brasileiros entendem que o oceano gera impactos diretos ou indiretos em sua vida, entretanto, têm dificuldades de identificar essa relação. Por outro lado, 40% da população ainda não associam como suas atitudes podem impactar o oceano. Pesquisa também revelou desconhecimento sobre serviços ecossistêmicos prestados pelo oceano para a manutenção da vida no planeta.
“A pesquisa nos permite compreender como a sociedade entende a influência do oceano no seu cotidiano, e, por outro lado, os impactos que suas atividades provocam nos ambientes costeiros e marinhos. De forma pioneira no mundo, buscamos identificar comportamentos existentes na população de um país continental e perceber como as pessoas estão dispostas a adotar novos hábitos e comportamentos em favor dos ambientes marinhos. Os resultados são animadores e, ao mesmo tempo, desafiadores. Conhecer melhor essa realidade é fundamental para desenvolver políticas públicas e estratégias de comunicação e engajamento mais eficientes para sensibilizar a sociedade e mover ponteiros”, explica Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário.
Impactos sobre a vida cotidiana
As algas marinhas são responsáveis pela produção de 54% do oxigênio atmosférico e o regime climático – temperatura e chuvas – é regulado pela atividade oceânica. O brasileiro consome anualmente, em média, entre 5 e 10 quilos de peixes e frutos do mar e o petróleo é extraído do fundo do oceano. Por outro lado, todo lixo que produzimos pode chegar ao mar caso não seja descartado corretamente.
O estudo revelou que metade dos entrevistados (50%) reconhece que o oceano impacta sua vida diretamente, 21% acreditam que gera impactos indiretos, enquanto 26% avaliam que não impacta em nada em suas vidas. Entretanto, apenas 34% entendem que suas ações causam impacto direto no oceano. Para 40% dos entrevistados, suas ações não impactam em nada o oceano, enquanto para 24% o impacto é indireto. Entre as atividades que ameaçam a saúde do oceano, 72% dos entrevistados identificam a poluição, seja por lixo ou esgoto, como o maior problema, seguido por pesca irregular (16%) e vazamentos de navios (12%). *Resposta espontânea e múltipla
“O oceano começa na nossa casa, mesmo que estejamos a muitos quilômetros de distância do mar. Como boa parte das pessoas tem pouco contato direto com os ambientes marinhos, esta percepção precisa ser estimulada. Os mares geram alimentos, energia, minerais, fármacos e milhões de empregos ao redor do mundo em diferentes atividades econômicas. São imprescindíveis para o transporte e o comércio internacional, além de importantes para o nosso lazer e bem-estar. Cuidar do oceano é cuidar da nossa saúde”, salienta Ronaldo Christofoletti, professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), copresidente do Grupo Assessor de Comunicação para a Década do Oceano da Unesco e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN).
O professor explica que o oceano abriga a maior biodiversidade do planeta e também é fundamental para a regulação do clima, pois absorve mais de 30% das emissões de dióxido de carbono (CO2) e 90% do excesso de calor gerado pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa. “O oceano contribui diretamente com cerca de US$ 1,5 trilhão para a economia mundial, sendo que apenas o setor de alimentos gera em torno de 237 milhões de empregos no mundo”, frisa.
Mão na massa
A pesquisa ouviu a opinião da população em relação à atuação do Brasil para a conservação do oceano. Para 41%, a atuação brasileira é negativa, enquanto 31% consideram a atuação neutra – nem positiva, nem negativa –, e 28% avaliam de forma positiva. Contudo, o estudo apontou que 82,2% dos entrevistados estão dispostos a mudar seus hábitos pelo bem do oceano e ainda trouxe que 57% acreditam que a melhor forma de atuar em favor da conservação do oceano é pela comunicação, se engajando como apoiador e/ou agente de divulgação. Outros 25% estão dispostos a colocar a mão na massa pela mudança.
“É muito importante a constatação da disposição da população brasileira em mudar seus hábitos a favor do oceano, especialmente ao considerarmos a extensão da nossa costa e de levarmos em conta que somos um país continental, com muita gente vivendo longe do mar. Esse resultado destaca o desafio de desenvolver uma cultura oceânica que engaje e demonstre como isso pode ser feito, reforçando como este ambiente influencia e é influenciado pelas ações da sociedade. Tudo e todos estão interligados em busca de um oceano limpo, saudável, sustentável e resiliente”, afirma Fábio Eon, coordenador de Ciências da UNESCO Brasil.
Década do Oceano
A ONU declarou o período de 2021 a 2030 como a Década do Oceano, que tem como um dos principais objetivos, justamente, incentivar a geração de conhecimento para a sociedade. A pesquisa aponta, porém, que apenas 0,3% dos brasileiros já estão informados sobre a década, enquanto 6% apenas ouviram falar sobre o assunto e 93% ainda não conhecem nada sobre o tema, o que demonstra a importância da comunicação para que possamos mudar esta realidade. “O estado de conservação do oceano é bastante preocupante. Uma avaliação global da ONU mostrou que precisamos de ações urgentes para reverter o quadro de degradação e ameaça à biodiversidade e aos ecossistemas”, alerta Eon.
Sobre a pesquisa
Foram realizadas 2 mil entrevistas, com pessoas entre 18 e 64 anos, de ambos os gêneros e todas as classes sociais, nas cinco regiões do país. As entrevistas realizadas pela Zoom Inteligência em Pesquisas ocorreram entre os dias 5 de março e 12 de abril de 2022. Entre os entrevistados, 62% residem em capitais e 41% vivem em cidades litorâneas. A margem de erro é de 2,2% para um nível de confiança de 95%.