Chegou ao Brasil ontem, quinta-feira, 24, uma delegação do site WikiLeaks (WL) composta pelo jornalista investigativo, editor-chefe e porta-voz da plataforma, Kristinn Hrafnsson, e pelo jornalista e editor, Joseph Farrell. A ampla agenda que será cumprida pelos dois no país inclui um encontro com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e com as principais associações, sindicatos, federações e organizações jornalísticas em demonstração de solidariedade à situação de Julian Assange e em defesa do direito à informação.
A passagem pelo Brasil está sendo coordenada pela Assembleia Internacional dos Povos (AIP) e faz parte de uma série de compromissos que os jornalistas estão realizando pela América Latina a fim de se reunirem com lideranças políticas e sociais, movimentos, organizações e sociedade civil organizada que defendem a liberdade de Julian Assange e denunciam as diversas violações dos direitos humanos, civis e políticos do jornalista. A delegação do Wikileaks quer discutir, ainda, questões relacionadas à importância da liberdade de expressão e do direito à informação, valores que se qualificam como pilares da sociedade. “Os representantes do Wikileaks pretendem falar sobre os riscos que existem para a democracia e a liberdade de imprensa se Assange for extraditado para os Estados Unidos”, disse a organização.
Solidariedade e defesa da liberdade de expressão
Os representantes do Wikileaks serão recebidos pelas principais entidades do jornalismo brasileiro que prestarão solidariedade à Julian Assange, fundador da plataforma, que vive uma dramática situação política e de saúde. Detido sem base legal na prisão de segurança máxima de Belmarsh, no Reino Unido, desde 2019, o jornalista e ativista australiano está prestes a ser extraditado para os Estados Unidos onde pode sofrer uma pena de até 175 anos em confinamento solitário.
Assange é acusado pelo governo estadunidense de violar a Lei de Espionagem de 1917. Ele foi responsável, por exemplo, pela publicação, entre 2010 e 2011, de documentos classificados revelando crimes de guerra e campos de tortura no Iraque e Afeganistão. A eventual condenação de Assange por essas publicações criminalizaria todas as etapas do processo jornalístico básico: solicitar, receber, possuir e publicar informações verídicas e de interesse público. A defesa do jornalista quer que os EUA retirem as acusações como forma de proteger a liberdade de imprensa em todo o mundo.
Por isso, no domingo, 27, Kristinn Hrafnsson e Joseph Farrell participarão de um tradicional evento com jornalistas que acontece mensalmente na Praça Wladimir Herzog, em São Paulo, a partir de 12h. Entre as diversas atrações, está prevista uma performance com um grupo de atores em homenagem a Assange. A praça Vladimir Herzog foi criada pela Câmara Municipal como um espaço para lembrar da luta contra a ditadura e contra a censura.
Já no dia 30, a sede histórica da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro, reúne as organizações jornalísticas para receber os editores do Wikileaks, a partir de 16h.
Nestas agendas estarão presentes dezenas de entidades como o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Repórter Sem Fronteiras (RSF), Instituto Vladimir Herzog, Artigo 19, Rede de Proteção de Jornalistas e Comunicadores no Brasil, Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Tornavoz, Associação de Jornalismo Digital (Ajor), Intervozes e Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC).
“Sem uma forte mobilização internacional, o jornalista Julian Assange não será libertado. Ao publicar no WikiLeaks milhares de documentos, fotos e vídeos que comprovam o envolvimento dos Estados Unidos e seus aliados na morte de inocentes e na espionagem em escala internacional, Assange cumpriu seu dever como jornalista. É por isso que a luta pela sua liberdade afeta a todos nós”, declara Giovani del Prete, da Secretaria Operativa da Assembleia Internacional dos Povos.
Ameaças à liberdade de imprensa
A ação do governo estadunidense contra Julian Assange busca estabelecer um precedente mundial, uma vez que poderia exercer jurisdição extraterritorial sobre qualquer jornalista ou imprensa estrangeira, o que é alarmante. Os EUA indicaram que a Primeira Emenda à Constituição não se aplicaria a jornalistas estrangeiros, portanto, se o ativista for extraditado e processado, ele não se beneficiará de proteções constitucionais da liberdade de expressão em virtude de ser cidadão australiano.
A decisão de processar Assange foi universalmente condenada por grupos de defesa, liberdade de expressão, grandes jornais, políticos proeminentes e sindicatos, indicando que as ações que os Estados Unidos desejam impor são uma ameaça sem precedentes à liberdade de imprensa em todo o mundo.
Quem são Kristinn Hrafnsson e Joseph Farrell do Wikileaks?
Kristinn Hrafnsson é jornalista investigativo e editor-chefe/porta-voz do WikiLeaks desde 2010. Ele trabalhou duas décadas como jornalista na Islândia, na imprensa e na radiodifusão e televisão, o período mais longo na RUV, a emissora pública. Ele foi co-produtor e apresentador do programa de investigação Kompás (Compass) na emissora privada Channel 2 durante o turbulento período do colapso financeiro na Islândia, após a crise bancária de 2008. Kompás foi um programa premiado onde ele e seus colegas frequentemente expuseram atividades criminosas e corrupção em altos cargos. Em abril de 2010, ele voou para Bagdá para entrevistar crianças do ataque militar registrado no “Collateral Murder”, o vídeo icônico publicado pelo WikiLeaks. Kristinn é um dos jornalistas mais premiados na Islândia e recebeu o prêmio da Federação de Jornalistas da Islândia em todas as três principais categorias em 2004, 2007 e 2010.
Joseph Farrell é um jornalista e editor britânico que trabalhou para o Bureau of Investigative Journalism e para o Centre for Investigative Journalism, onde atualmente faz parte do Conselho de Administração. Ele trabalha para o WikiLeaks desde 2010 como editor de inúmeras publicações importantes do WikiLeaks, incluindo os Diários de Guerra do Iraque e Afeganistão e Cabos Diplomáticos (Cablegate). Seu trabalho para o WikiLeaks junto com outros associados, fez dele o alvo de uma investigação contínua do FBI. Ele foi membro da Coalizão da Sociedade Civil na conferência diplomática da World Intellectual Property Organisation sobre um tratado de exceções de direitos autorais para pessoas com deficiências em Marrakesh, Marrocos. Ele também aparece regularmente nas redes de televisão como comentarista de notícias.
Serviço*
Os representantes do Wikileaks, Kristinn Hrafnsson e Joseph Farrell, chegam no dia 24 de novembro em São Paulo e participam de uma série de atividades no Brasil até o dia 30 de novembro.
25 de novembro
10h às 18h: Entrevistas para mídias brasileiras
26 de novembro
10h: Encontro com parlamentares na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) – Evento restrito a convidados
27 de novembro:
12h: Atividade com jornalistas na Praça Vladimir Herzog em São Paulo
28 de novembro
20h: Jantar em São Paulo com o Grupo Prerrogativas, advogados, artistas e influencers
30 de novembro
– 13h Entrevista no Rio de Janeiro com Glenn Greenwald
– 16h – Evento na ABI no Rio de Janeiro
– 20h – Jantar no Rio de Janeiro com Paula Lavigne e convidados
*Agendas sujeitas a alterações