Cerca de 30 mil pessoas já assinaram petição contra exercícios de tiro em Alcatrazes

Cerca de 30 mil pessoas já assinaram o abaixo-assinado que cobra da Marinha do Brasil o fim “em definitivo” dos exercícios de tiro no arquipélago de Alcatrazes, localizado na costa sul de São Sebastião.

 

O abaixo assinado iniciado por entidades ambientalistas na semana passada quando a Marinha divulgou que faria exercícios de tiro no dia 16 deste mês na Ilha da Sapata- que devido à pressão dos ambientalistas acabou sendo adiado, foi entregue na sede da Delegacia da Capitania dos Portos em São Sebastião, durante protestos realizados na última segunda-feira, dia 15 (Foto).

 

 

O documento conta com o apoio de 25 entidades ambientalistas que atuam no Litoral Norte. O ambientalista Fernando Puga, que publicou no Instagram o manifesto contra o bombardeio, justifica que “trata-se de um retrocesso e incoerência em pleno 2022 a Marinha fazer exercícios de tiro em Alcatrazes, um dos maiores santuários ecológicos do país.”

 

Foi criado também o “Fórum Permanente Pela Preservação de Alcatrazes”, que está envolvendo toda a sociedade civil do Litoral Norte que quer o fim dos bombardeios na Ilha Sapata.

 

O fórum é um coletivo de órgãos que estão se reunindo e debatendo ações no sentido de avançar, no ponto de vista institucional e no ponto de pista social, para a preservação de Alcatrazes. “A ideia é propor movimentos, ações, fazer propostas de lei, etc.”, diz Puga, que é candidato à deputado estadual pelo PT no Litoral Norte.

 

O ambientalista Eduardo Hipólito do Rego, de São Sebastião, sugeriu que seja apresentada uma proposta de dar o nome a Ilha da Sapata de Almirante Ibsen de Gusmão Câmara, cientista, ecologista e militar que representou o Brasil em fóruns internacionais do meio ambiente.

 

O almirante Ibsen, falecido aos 90 anos, em 2014, presidiu a Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza. Participou do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e foi conselheiro de inúmeras organizações ambientais. Ele é considerado um dos fundadores do conservacionismo no Brasil.

 

Entenda

 

 

A decisão da Marinha de retomar os tiros no arquipélago, surpreendeu os ambientalistas da região, que tomaram conhecimento dos exercícios através de um ofício do capitão de Mar e Guerra, Renato Leite Fernandes, do Centro de Apoio a Sistemas Operativos da Marinha do Brasil, encaminhado recentemente ao IBAMA e ICMBio. Os exercícios da Marinha seriam realizados nos dias 16 e 17 deste mês na Ilha da Zapata.

 

A Marinha pedia que o IBAMA e o ICMBio indicassem seus representantes para acompanharem a operação. O ICMBio respondeu recomendando que a Marinha suspendesse os exercícios de tiro programados para ocorrer nos dias 16 e 17 deste mês na ilha Sapata, em Alcatrazes.

 

A justificativa: as datas programadas para os bombardeios na Ilha da Sapata coincidem com o período reprodutivo das aves e peixes e de migração de baleias. Mesmo sendo realizado na Ilha Sapata, área permitida para esse fim, sua execução causaria impactos significativos à fauna silvestre, principal objeto de conservação do Refúgio.

 

Nas aves, segundo levantamento do CEMAVE, perturbações no ninhal em época reprodutiva podem causar até 75% de perda de ninhegos e ovos das fragatas, por causa do comportamento de sabotagem dos machos não pareados quando os ninhos ficam desprotegidos, após uma revoada brusca dos pais.

 

Nos outros grupos de fauna ainda estamos levantando os impactos, uma vez que exercícios militares não eram realizados nessa época desde 2008. A Marinha decidiu suspender o exercício, mas não divulgou para quando ele foi transferido.

 

Existe um acordo entre o ICMBio e o Ibama com a Marinha desde 2008, que estabelece a forma de fazer os exercícios de tiro e em que época, visando medidas de controle ambiental e segurança. Em 2013 os exercícios de tiro foram transferidos para a Ilha Sapata, área externa ao Refúgio de Alcatrazes, reservada para esse fim, conforme negociações com a Marinha.

 

O Arquipélago de Alcatrazes, um santuário ecológico a 43 quilômetros da costa de São Sebastião, no Litoral Norte de São Paulo, possui 13 ilhas. O conjunto é protegido pela Estação Ecológica Tupinambás, uma Unidade de Conservação Federal de Proteção Integral.

 

Desde 1982 era utilizado pela Marinha para exercícios de tiros. A pressão feita pelas entidades ambientalistas a partir de 1990, para o fim dos tiros em Alcatrazes, conseguiu que em 2016, o local fosse transformado por decreto presidencial num Refúgio da Vida Silvestre.

 

Agora, os ambientalistas entendem que nada justifica a Marinha bombardear um local de tamanha relevância ambiental e ainda mais dentro de uma área de conservação e proteção.

 

Gilda Nunes, do Instituto Ilhabela Sustentável e conselheira no CONSEMA, explica que os exercícios de tiros em Alcatrazes sempre foram repudiados pelos ambientalistas Litoral Norte, visto que representam um retrocesso ambiental.

 

A jornalista e ambientalista Priscila Siqueira, de São Sebastião,  acompanha a luta pela preservação de Alcatrazes desde a década de 80 disse que “testemunhei e registrei a luta de pioneiros na defesa desse arquipélago que é o maior ninhal de todo o Atlântico sul. Tanto que o arquipélago de Alcatrazes é chamado de “Gálapos brasileira”. Foi a persistência, idealismo e luta de um grupo de cientistas e ambientalistas que fizeram com que os exercícios que aí ocorriam desde a década de 70, fossem suspensos”.

 

Segundo Priscila, movimentos ambientalistas do estado de São Paulo se reuniram no Projeto Alcatrazes coordenado pela Sociedade de Defesa do Litoral Brasileiro, reivindicando que Alcatrazes fosse respeitado. “O biólogo Fausto Pires de Campos, do Instituto Florestal estava na coordenação do projeto. Com apoio de diversos outros cientistas, foram realizadas expedições no arquipélago para levantar sua biodiversidade e importância ecológica. Para custear tais expedições muita gente se mobilizou: até mesmo vários artistas fizeram apresentações, cuja arrecadação foi destinada a elas. Que bom que a luta pela vida e preservação do planeta continua! Todos nós devemos participar”, comentou em seu artigo “A luta pela preservação do arquipélago de Alcatrazes”, no site Cancioneiro Caiçara.

 

 

 

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